foto reprodução Redes Sociais
Por: Vera
Medeiros
Professora
O padrão do ‘politicamente correto’ não
nos permite dizer determinadas coisas em tom menos filosófico que o considerado
aceitável. Então, para falar da escolha do cantor Léo Santana para
representar o São João da Bahia num evento da Rede Globo Nordeste, quero usar o
argumento clássico do óbvio: a representatividade musical.
Imaginemos que se convocasse o
brilhante João Gilberto, o chamado ‘Papa da Bossa Nova’, para representar o
“Manguebeat” e deixássemos a figura de Chico Science e do Mestre Ambrósio, por
exemplo, a observar isso com a mesma “naturalidade” que alguns têm usado para
pensar que “ela encaixa com esse grave do beat” , “quando a bunda começar a
jogar”.
Léo Santana representa o São João da
Bahia?
E Léo Santana representa o São João?
Mais grave que a falta de conhecimento
que grande parte desta geração tem dos movimentos musicais brasileiros é a
violentação intelectual que ela sofre por parte dos que conhecem a trajetória
dos talentos que o Brasil possui. Essa violência intelectual nega a força que
significa respeitar a representatividade de cada área musical, sua identidade
cultural.
Por que esqueceríamos que Pixinguinha,
Chiquinha Gonzaga, Antônio Calado merecem o trono da beleza do Chorinho?
Baseado em que negaríamos que Lupicínio
Rodrigues e Dalva de Oliveira embalaram as dores de cotovelo de sua geração,
através do rádio ?
Como podemos esquecer que foi o “Rei do
Baião” que levou o sertão, sua gente, suas raízes a serem respeitadas no
cenário musical brasileiro?
Por que ignorar a genialidade da Bossa,
a revolução do Tropicalismo, o efervescer da Jovem Guarda, a doçura do
Clube da Esquina e os grandes nomes que representam cada um desses movimentos
musicais?
Dá para pensar que o próprio Luiz
Gonzaga se arvoraria a representar o ‘axé music’ e se apropriaria da cultura na
qual ele não se faria pertencer musicalmente?
Não. Ele já havia aprendido que o seu “fole prateado” não lhe daria o direito de “mangar” nem de Januário, nem de qualquer representante de outra riqueza musical.
E é por isso que Gonzagão tem seus representantes no universo do forró , do xote, do xaxado, do baião... E estes devem ser respeitados. A Bahia, o Brasil e o mundo sabem disso.
O axé tem seus representes – e Léo
Santana, inclusive, o repaginou com seu “rebolation”. Tem seu valor nesse
processo identitário. Ponto.
Como afirma Caetano, "quem viu
praias, paixões fevereiras não dizem o que Junhos de fumaça e frio".
Riachão diria : “Cho chuá/ cada macaco
no seu galho”.
Eu reforço: Globo Nordeste, Léo
Santana, respeitem o São João e sua identidade! Respeitem Januário!
Para ler outras matérias acesse, www: professortacianomedrado.com
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