BIOANÁLISE DE SOLO: Tecnologia da Embrapa permite mensurar a saúde da terra antes do plantio. ASSISTA AO VÍDEO.


Por:
Edis Henrique Peres
Estagiário sob a supervisão de Odail Figueiredo

Nova tecnologia desenvolvida por pesquisadores da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) permite identificar o nível de saúde do solo. Iêda Carvalho Mendes é agrônoma e pesquisadora da Embrapa Cerrados (DF) e foi responsável por liderar o grupo que em 2020 desenvolveu a tecnologia BioAs, uma bioanálise que permite avaliar as enzimas presentes no solo e, consequentemente, seu grau de vida.

“A bioanálise é como se fosse um exame de sangue do solo”, explica a pesquisadora. Iêda pontua que o solo saudável consegue ser mais produtivo, armazena mais água, emite menos gases de efeito estufa e é melhor no sequestro de carbono. “O solo com saúde também se desintoxica mais rápido, ou seja, produtos químicos, como pesticidas, são degradados mais facilmente nesse ambiente”.

A pesquisadora foi entrevistada nesta sexta-feira (29/01) no CB Agro — uma realização do Correio Braziliense em parceria com a TV Brasília. Iêda ressalta que os aspectos de funcionamento biológico do solo até então passavam despercebidos pelas análises de fertilidade.

“Em uma análise do Mato Grosso, por exemplo, tivemos um exemplo de dois solos que possuíam as mesmas propriedades químicas, o que significava que as quantidades de fósforo e demais nutrientes eram iguais, dois solos quimicamente em bom estado. Mas, quando chegou o período de seca, o solo que estava doente não conseguiu manter o desempenho. O solo saudável conseguiu produzir 59 sacas da cultura, enquanto o doente produziu apenas 29 sacas”, conta.

Iêda explica que isso acontece porque o solo degradado, com pouca vida, é mais suscetível a problemas de falta de chuva, doenças e ataques de pragas, enquanto o terreno saudável é resistente e consegue lidar com adversidades.

A vida no solo

O exame já está presente em oito laboratórios comerciais espalhados pela região do cerrado, em Goiás, Mato Grosso, São Paulo e Minas Gerais. Ele foi lançado em junho de 2020, mas já reúne mais de 2,5 mil amostras de solo. Iêda revela que a expectativa é que, logo, o Distrito Federal também possua uma unidade laboratorial, e que multipliquem laboratórios em outras regiões. O exame custa entre R$ 100 e R$ 120.

“É um investimento. Antes, os agricultores não tinham como fazer esse tipo de análise de saúde. Obtemos esse resultado porque, no exame, adicionamos uma série de reagentes, e quanto mais atividade houver nas enzimas, mais vivo e saudável está o solo. Também desenvolvemos uma escala simplificada para que o agricultor, tão logo receba o exame, já entenda em que estado está a terra. A escala caminha em duas cores: vermelho escuro, quando o solo está doente, e verde escuro, quando está saudável”.

A pesquisadora explica que, caso o solo esteja doente, os agricultores precisam reavaliar o sistema de manejo. “Uma das sugestões é realizar o plantio direto, pois o manuseio que envolve a remoção de terra é degradante. Aplicar uma rotação de culturas também é importante, assim como, depois da colheita, adicionar plantas de cobertura. No cerrado, por exemplo, temos a braquiária, que fornece alimento para os animais, mantém a umidade e não permite que a terra chegue a altas temperaturas. Tudo isso favorece a saúde do solo”, revela.

Destaque para produção do cerrado

Iêda lembra que o cerrado era um bioma considerado pobre em nutrientes, mas que com pesquisa, ciência e tecnologia, se tornou um forte produtor do país. “O cerrado se destaca, ganhou o Prêmio Nacional de Produtividade de Trigo, bateu recordes na produção de soja e milho. E isso tudo com pesquisas para uma agricultura que respeite o meio ambiente e preste serviços ambientais.”

A pesquisadora define a atual agricultura tropical como um exemplo para o mundo. “Fazer agricultura em cima de um solo fértil, em uma região que chove o ano inteiro, é fácil. Mas aqui, no cerrado, temos solos pobres em nutrientes, solos ácidos. Nosso clima é definido por seis meses de chuva e seis meses de seca, ou seja, um desafio. Mas, com pesquisa e tecnologia, mudamos o estigma de aqui ser um solo improdutivo


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