O governo enviou uma carta à fabricante AstraZeneca na qual dá aval para que empresas privadas brasileiras possam adquirir um lote de 33 milhões de doses de vacina desde que metade do lote seja doado ao SUS (Sistema Único de Saúde), como revelou o Painel, da Folha de S. Paulo, nesta segunda (25). Na carta, encaminhada em inglês na sexta-feira (22), o governo envolve o fundo de investimento BRZ na negociação.
O texto é assinado pelos ministros Wagner Rosário (Controladoria-Geral da União) e José Levi (Advocacia-Geral da União), além de Élcio Franco, secretário-executivo do Ministério da Saúde. Em cópia, aparecem o fundo Black Rock Holdings, que tem ações da farmacêutica anglo-sueca, e Gustavo Campolina, da BRZ Investimentos, com sede em São Paulo.
Na carta, revelada pelo jornal O Globo e confirmada pela reportagem, o governo elenca algumas condições, como por exemplo que as companhias não podem comercializar os imunizantes e devem aplicá-los de graça em seus funcionários. Além disso, deve haver um sistema de rastreamento das vacinas.
O assunto foi debatido com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na semana passada e ele autorizou a liberação de compra pelas empresas. Para conseguir efetivar a aquisição, as companhias ainda precisam conseguir uma autorização para importação e para uso emergencial da vacina pela Anvisa.
Segundo integrantes do governo, o Executivo decidiu não se opor à compra porque o lote que é negociado pelas firmas privadas é muito mais caro do que o que já foi adquirido pelo Ministério da Saúde. A dose, no acordo construído pelas empresas está na faixa de US$ 23,79, valor muito acima do praticado no mercado.
Além disso, o governo tem a expectativa de que as empresas doem ao Ministério da Saúde mais da metade do que será adquirido. Ou seja, o governo pode receber mais de 16,5 milhões de doses, suficiente para imunizar 8,25 milhões de pessoas.
Havia no Executivo quem discordasse da hipótese de as firmas vacinarem funcionários antes de o SUS concluir a imunização de idosos, mas essa visão foi vencida. Embora grandes empresas tenham desistido de participar de um grupo que busca a comprar as vacinas, outras companhias reuniram-se nesta segunda (25) e insistem na negociação com o governo.
O encontro ocorreu por videoconferência e teve 72 participantes. Segundo pessoas à frente da articulação, o número de companhias interessadas em realizar a aquisição do imunizante tem aumentado a cada hora. Na reunião, Fábio Spina, diretor jurídico da Gerdau, considerado o coordenador da negociação, pediu a cada empresa que se manifeste até esta terça-feira (26) sobre a intenção de realizar a compra ou não.
Ainda no encontro, foram discutidos termos que poderiam ser oferecidos ao Ministério da Saúde para viabilizar a compra. Uma ideia, por exemplo, é que as empresas fiquem com um lote pequeno das vacinas e doem o resto ao SUS. Um cálculo é que com pouco mais de 1% do total de doses seria possível imunizar os funcionários de todos interessados. O restante ficaria com o governo federal.
Um executivo que está à frente da negociação garante que as tratativas com o governo estão caminhando bem e por isso as empresas estão esperançosas com a possibilidade de compra. Depois que a Folha de S. Paulo publicou nesta segunda a intenção de empresas privadas adquirirem as vacinas, grandes firmas manifestaram-se dizendo que apenas foram convidadas a participar do grupo e declinaram o convite ou então desistiram de participar. Entre elas estão Ambev, Itaú, JBS, Santander, Vivo e Vale.
Segundo empresários, a Ambev foi contactada pelo telefone, mas não quis participar de novas conversas. Já o Itaú, segundo a reportagem apurou, desistiu depois de avaliar que a repercussão do caso foi negativa para a imagem da empresa. Outras, como a Vale, não concordaram com os termos que estavam sendo debatidos e defendiam que as companhias doassem 100% das doses para o governo.
Apesar da debandada de gigantes, articuladores da negociação garantem que várias empresas buscaram aderir à iniciativa..
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