OPINIÃO: Duas facetas de Wagner: não à CPI e sim à ampliação do auxílio-emergencial



Por: Fernando Duarte

Apontado pelo governador Rui Costa como candidato a sucedê-lo, o senador Jaques Wagner protagonizou duas situações bem distintas no noticiário nesta segunda-feira (22). 

Nacionalmente, repercutiu a informação publicada pelo colunista Lauro Jardim de que ele teria sido o único petista a não assinar o pedido de abertura de uma CPI da Covid-19 no Senado. Localmente, a assessoria do ex-governador optou por divulgar uma emenda para que o auxílio-emergencial voltasse ao valor de R$ 600.

Conhecido como negociador e articulador, Wagner nunca defendeu publicamente a instalação de uma CPI ou até mesmo do impeachment do presidente Jair Bolsonaro. Na avaliação dele, qualquer mobilização política que não seja relacionada à pandemia deve ficar em segundo plano até que seja o momento ideal para tratá-la. A CPI, por mais que pareça cada vez mais necessária, iria imobilizar parte do Senado tanto quanto o início de um processo de impedimento de Bolsonaro, razões pelas quais analistas políticos mais realistas observam com muitas ressalvas os dois pedidos.

Porém a escalada da crise nas últimas semanas elevou os ânimos ao ponto de provocar a substituição de Eduardo Pazuello do Ministério da Saúde. Somada à morte do senador Major Olímpio, a mobilização em prol da CPI cresceu. Por isso a pressão para que uma figura relevante da oposição ao presidente Jair Bolsonaro assine como avalista de um pedido de investigação contra a inoperância do governo no enfrentamento à pandemia. Nesse cenário, ao optar por não ser signatário, Wagner manteve um distanciamento pouco apropriado para quem precisa, pela condição de oposicionista, ser mais ativo na crítica.

A solução encontrada foi divulgar a informação sobre a emenda do valor do auxílio-emergencial. No mundo perfeito, o valor pago às famílias em condição de vulnerabilidade atingidas pela pandemia deveria ser similar ao inicial, de R$ 600. Entretanto, nem os mais otimistas apostam na possibilidade, dada a política de transferência de renda defendida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Ao apresentar uma emenda para tentar ampliar o valor médio de R$ 150 já anunciado pelo governo, Wagner joga para a torcida, uma estratégia que funciona como cortina de fumaça para impedir que a ausência da assinatura na CPI seja sentida. Não deveria ser necessário, mas é parte do mise-en-scéne do processo.

De um jeito ou de outro, o ex-governador se mantém em evidência, algo fundamental em um momento em que falar de eleição é quase um sacrilégio. Contudo, é sempre bom traduzir como funcionam os bastidores da construção de imagem. Ainda mais em meio a uma pandemia.

Este texto integra o comentário desta terça-feira (23) para a RBN Digital, veiculado às 7h e às 12h30, e para a rádio A Tarde FM. 

 

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