Grupos de caminhoneiros deram
início a protestos contra os sucessivos aumentos no preço do óleo diesel no
domingo (25), mas a tentativa de emplacar uma greve nacional aos moldes de 2018
fracassou. Até a tarde desta segunda (26), apenas manifestações pontuais e
isoladas foram registradas pelo país.
A baixa adesão ao primeiro dia
de paralisação gerou insatisfação entre os próprios caminhoneiros. Em um grupo
de WhatsApp dedicado à organização da greve, a segunda-feira iniciou com
diversas mensagens de motoristas autônomos reclamando da falta de união da
categoria. Ao longo do dia, também era possível ver um número cada vez maior de
participantes deixando o grupo.
Um caminhoneiro que participou
de protesto numa rodovia em Petrolina (PE) disse que o ato tinha conseguido
reunir alguns poucos motoristas, mas acabou sendo dispersado após a chegada da
Polícia Rodoviária Federal.
Segundo ele, é difícil
convencer a classe a aderir um movimento como esse. "Greve de autônomo
nunca vai existir. O autônomo já acostumou a sofrer, cada um corre para o seu
lado e olha só para o próprio umbigo. Essa paralisação já acabou", relatou
em áudio enviado à reportagem.
Por trabalharem de forma
autônoma, a paralisação é vista por alguns caminhoneiros como um dia de
prejuízo.
Para Carlos Alberto Dahmer,
diretor da CNTTL (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e
Logística), entidade que apoiou a greve, a quantidade de paralisações pelo país
está dentro do esperado.
"O que a gente tem
acompanhado é que existe movimentação em mais de 15 estados do Brasil. Para o
primeiro dia é um bom número, significa que tem espaço para o movimento ganhar
mais musculatura", afirma.
Na avaliação dele, que
representa a entidade no Rio Grande do Sul, a greve não fracassou. "O que
eu vejo pela minha região é que o caminhoneiro autônomo pegou o chamado. A
gente vê caminhões de empresas [rodando nas estradas], mas o autônomo parou,
seja em casa, na oficina, ou no posto", afirma.
Para o diretor, porém,
deveriam ter mais pontos de mobilização nas estradas, para mostrar o descontentamento
da categoria. "Se o caminhoneiro para em casa ou no posto, dá a impressão
de que o movimento não existe", diz.
Plínio Dias, diretor-presidente do CNTRC (Conselho Nacional de Transporte Rodoviário de Cargas), que organizou a manifestação, afirmou no fim de tarde da segunda que havia adesão, que muitos trabalhadores autônomos ficaram em casa e que em 2018 a movimentação começou dessa forma.
"A
orientação é para parar em postos, deixar o caminhão em casa. O nosso
termômetro de teoria de estrada viu que o fluxo na BR caiu muito, só tem
caminhão de empresário rodando", afirma.
Apenas atos isolados e de
pouca expressão foram registrados nas estradas brasileiras durante a segunda.
No Espírito Santo, um protesto fechou trecho da BR-101 logo no início da manhã
e um grupo chegou a colocar fogo na pista.
Também pela manhã, cerca de 20
motoristas se reuniram na entra de caminhões do Porto de Santos, onde
protestaram com faixas. O trânsito no local ficou lento, mas não chegou a ser
interrompido.
Pelo Twitter, o Ministério da
Infraestrutura e a Polícia Federal disseram que, às 7:30 desta segunda, todas
as rodovias federais, concedidas ou sob administração do DNIT (Departamento
Nacional de Infraestrutura de Transportes) estavam com fluxo livre.
Segundo a publicação, na
madrugada de domingo para segunda, foram registradas ocorrências às margens de
BRs e tentativas de retenção em seis estados. O post disse que todas foram
dispersadas com a chegada da PRF e minimizou os atos. Às 18h desta segunda, a
pasta e a PF afirmaram que as rodovias federais tinham o fluxo livre.
A discussão política tomou
conta de muitos grupos de caminhoneiros formados para iniciar a greve. Parte da
categoria -base forte de eleitorado do presidente Jair Bolsonaro (sem partido)
em 2018- se mostra insatisfeita com o governo federal e diz que nada foi feito
pelo caminhoneiro.
Um vídeo de Bolsonaro em
solidariedade aos motoristas, antes de ser eleito, viralizou entre os grupos.
Nele, o presidente critica o peso do pedágio, a indústria da multa, o roubo de
cargas, o valor do frete, as condições das estradas e o preço dos combustíveis,
"o mais grave" dos problemas.
Alguns dizem que o Executivo
virou as costas para quem o elegeu. Outros tentam afastar o tema dos grupos.
A principal reivindicação da
categoria é o fim do PPI (Preço de Paridade de Importação) no cálculo dos
combustíveis vendidos pela Petrobras. Essa política acompanha as variações de
preços no mercado internacional e é afetada pelo dólar. A medida busca manter a
petrolífera competitiva perante o mercado, mas pode encarecer os combustíveis e
impactar o bolso dos caminhoneiros.
Desde que conseguiu emplacar a
histórica greve de 2018, caminhoneiros enfrentam discordâncias. Naquele ano, os
trabalhadores pararam as estradas por nove dias e chegaram a erguer pelo menos
557 pontos de bloqueio nas vias.
Houve desabastecimento à
época, e 13 aeroportos ficaram sem combustível. Eles conseguiram a redução do
preço do diesel em R$ 0,46 na bomba por 60 dias e isenção de cobrança de pedágios
por eixo suspenso em todas as rodovias.
Para
ler mais acesse, www: professortacianomedrado.com
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