A grande Mesquita de
Dongguan, na cidade de Xining, em novembro de 2014: domo foi removido (Foto:
Wikimedia Commons)
Da Redação
Como
parte do processo de aproximação com o Taleban, a China anunciou a intenção de
construir uma mesquita no Afeganistão. O anúncio
foi feito no último domingo (19), quando Beijing também confirmou o envio de
ajuda humanitária à população do país, afetada pela fome e por uma profunda
crise financeira que tende a impactar ainda mais durante o inverno. As
informações são do jornal South
China Morning Post.
A
China ainda não reconheceu oficialmente o Taleban como governo efetivo do
Afeganistão e tem dito que não pretende ser o primeiro país a tomar tal medida
diplomática. Porém, os dois governos já esboçam relações comerciais, com
Beijing avaliando a possibilidade de investir bilhões no setor de mineração
afegão.
A China
Metallurgical Group (MCC), empresa estatal chinesa, firmou em 2007 um
contrato para desenvolver o campo da mina de cobre Aynak, na província de
Logar, cerca de 32 quilômetros a sudeste de Cabul. O investimento no
projeto chegaria a US$ 2,8 bilhões, o que envolveria a construção de uma usina
de energia elétrica e estradas de ferro, além da geração de 5 mil empregos para
cidadãos afegãos, todos sob a supervisão de profissionais
chineses. O projeto foi interrompido desde a queda de Cabul, mas tende a
ser retomado.
Wang
Yu, embaixador chinês no Afeganistão, disse durante o evento que a China também
tem dado suporte ao Afeganistão no campo diplomático. “Temos falado no cenário
internacional pelos países em desenvolvimento, como o Afeganistão e outros
países que sofrem tratamento injusto”, disse ele.
Em
setembro, a China havia doado cerca de US$ 31 milhões ao Afeganistão, incluindo
aí comida e vacinas contra a Covid-19. O acordo mais recente, anunciado no
domingo, tem como foco o rigoroso inverno do país, com a doação de casacos e
cobertores para cerca de 50 mil famílias afegãs. Além da mesquita.
Repressão religiosa
Embora
adote a generosa atitude de construir o templo no Afeganistão, a China tem
intensificado a repressão religiosa em seu próprio território. Nos últimos três
anos, o governo tem obrigado as mesquitas do país a retirarem de suas fachadas
duas das principais peças arquitetônicas que caracterizam os templos
muçulmanos: as cúpulas e os minaretes, estes últimos as torres de onde são
anunciados os cinco horários diários de oração.
As
autoridades chinesas alegam que as cúpulas evidenciam a influência religiosa
estrangeira e, dessa forma, vão contra os ideais nacionalistas do Partido
Comunista Chinês (PCC). Assim, a arquitetura abertamente islâmica tem
sido derrubada, a fim de remover a identidade visual e dar aos edifícios uma
arquitetura tipicamente chinesa, num processo que teve início em 2018 e ocorre
sobretudo no noroeste do país.
Por
que isso importa?
Desde
2012, quando o presidente Xi Jinping assumiu o governo da China,
a repressão religiosa no país se intensificou. As restrições tornaram-se ainda
mais rígidas em 2018, quando entrou em vigor a atual regulamentação de assuntos
religiosos no país. Somada à repressão imposta em outros setores, como os meios
de comunicação e a internet, a prática religiosa tornou-se um desafio para os
fieis em território chinês.
No
episódio mais recente da repressão religiosa imposta pelo Partido
Comunista Chinês (PCC), a Apple foi obrigada a apagar de sua
loja dois aplicativos, um voltado à Bíblia cristã, outro dedicado ao Corão, o
livro sagrado do Islã. De acordo com a rede britânica BBC, ambos foram
vetados por Beijing por conterem textos religiosos considerados proibidos.
Mas
o principal expoente do desafio que os fieis enfrentam na China é a etnia
muçulmana dos uigures, que habitam a região autônoma de Xinjiang, no
noroeste da China, fazendo fronteira com países da Ásia Central, com quem
divide raízes étnicas e linguísticas.
O
governo chinês refuta as acusações de abusos e classifica como “campos de
reeducação” as áreas nas quais vivem milhões de uigures. O argumento de Beijing
para isolar e vigiar a etnia muçulmana é o da “segurança nacional”, sob a
justificativa de que pretende evitar a radicalização dos fiéis. Entretanto,
para os governos de determinados países ocidentais, como Reino Unido, Estados
Unidos e Canadá, a ação da China configura “genocídio”.
Para ler mais acesse, www: professortacianomedrado.com
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