Padres e bispos chineses
em cerimônia sem o aval do Vaticano em julho de 2012, quando a repressão
religiosa se intensificou no país (Foto: Flickr)
Cerca
de 60 cristãos chineses que vivem atualmente na ilha de Jeju, na Coreia do Sul, correm o
risco de repatriação para a China após
terem seus pedidos de asilo negados pelo governo sul-coreano. São membros da
Igreja Mayflower de Shenzhen que temem a repressão religiosa estatal em caso de
retorno à China, de acordo com a rede Radio
Free Asia.
Os
fieis chegaram à Coreia do Sul em 2019, para fugir da repressão religiosa
do Partido
Comunista Chinês (PCC). Nem mesmo a barreira linguística e a falta de
serviços oferecidos pelo Estado, como educação e saúde, os demovem da ideia de
buscar abrigo no exterior e, assim, livrar os filhos da “educação patriótica”
imposta por Beijing.
“Nossa
igreja educaria nossos filhos sobre nossas crenças
religiosas, e a polícia os forçaria a se matricular na escola para que
pudessem sofrer lavagem
cerebral”, disse o pastor Pan Yongguang. “Eles (governo da China) não
queriam que ensinássemos a Bíblia aos nossos filhos, e as crianças são
proibidas de frequentar a igreja”.
A
Igreja Mayflower tornou-se particularmente visada depois que Pan assinou uma
carta de protesto contra a repressão
religiosa do governo chinês. Cerca de 30 seguidores que permaneceram
na China dizem que têm sido perseguidos pela polícia local.
“Uma
de nossas irmãs não pôde permanecer em Shenzhen, mas teve que voltar para sua
cidade natal na província de Guangdong”, disse Pan. “Em algum momento de abril
ou maio de 2021, a polícia de segurança do Estado a localizou e a acusou de
‘subversão do poder do Estado’, confiscou seus livros
cristãos e seu telefone celular e a colocou sob vigilância. Ela não
tem permissão para sair [da China]”.
O
próprio pastor diz que é alvo de processos judiciais na China, enquanto a mãe,
a irmã e o irmão dele são constantemente assediados pelas autoridades. Mesmo
morando no exterior, os membros da Igreja têm sido alvo do governo chinês,
através do corpo diplomático. “Recebemos muitas ligações do consulado. Se nos
tornarmos imigrantes ilegais aqui, o governo sul-coreano não poderá nos
oferecer proteção e estaremos em perigo”.
Os
pedidos de asilo de chineses têm sido frequentemente rejeitados pela Coreia do
Sul, para evitar possíveis retaliações de Beijing. No caso dos membros da
Igreja Mayflower, o pedido já foi rejeitado pelas instâncias inferiores da
Justiça sul-coreana e será julgado agora pela corte suprema do país.
Um
advogado do grupo, que se identificou apenas pelo sobrenome Zheng, disse que a
Coreia do Sul exige aos requerentes de asilo que demonstrem ter suas vidas ou
saúde ameaçadas em caso de retorno à China. “O processo de solicitação de
refugiados é complicado, a probabilidade de ser rejeitado novamente é bastante
alta”, disse.
“O
atual governo da Coreia do Sul é muito cauteloso com o PCC”, reforçou Bob Fu,
presidente do grupo de direitos cristãos ChinaAid, com sede nos EUA.
“Apenas 0,4% dos pedidos de asilo de cidadãos chineses foram bem-sucedidos no
passado. “A Coreia do Sul está efetivamente sendo refém do PCC”.
Por
que isso importa?
Desde
2012, quando Xi Jinping assumiu o governo, a repressão religiosa na China
se intensificou. As restrições tornaram-se ainda mais rígidas em 2018, quando
entrou em vigor a atual regulamentação de assuntos religiosos no país. Somada
à repressão imposta
em outros setores, como os meios
de comunicação e a internet, a prática religiosa tornou-se um desafio
para os fieis em território chinês.
No
episódio mais recente da repressão religiosa imposta pelo PCC, a Apple foi
obrigada a apagar de sua loja dois aplicativos, um voltado à Bíblia cristã,
outro dedicado ao Corão, o livro sagrado do Islã. De acordo com a rede
britânica BBC,
ambos foram vetados por Beijing por conterem textos religiosos considerados
proibidos.
Mas
o principal expoente do desafio que os fieis enfrentam na China é a etnia
muçulmana dos uigures, que habitam a região autônoma de Xinjiang, no noroeste da China,
fazendo fronteira com países da Ásia Central, com quem divide raízes étnicas e
linguísticas.
O
governo chinês refuta as acusações
de abusos e classifica como “campos de reeducação” as áreas nas quais
vivem milhões de uigures. O argumento de Beijing para isolar e vigiar a etnia
muçulmana é o da “segurança nacional”, sob a justificativa de que pretende
evitar a radicalização dos fiéis. Entretanto, para os governos de determinados
países ocidentais, como Reino Unido, Estados Unidos e Canadá, a ação da China
configura “genocídio”.
Para ler mais acesse, www:
professortacianomedrado.com
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