A China pretende ampliar
consideravelmente a produção local de soja nos próximos anos. A meta
é aliviar a dependência estrangeira e progredir em um ambicioso plano de
autossuficiência no fornecimento da oleaginosa, de acordo com dados divulgados
pelo Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais chinês em janeiro. E isso
causará impacto na economia do Brasil.
As informações são de André Amaral do A Referência.
O objetivo de Beijing está bem definido: atingir uma safra de 23 milhões de
toneladas até o final de 2025, gerando um aumento de 40% em relação aos níveis
atuais de produção de 16,4 milhões de toneladas, disse o órgão governamental ao
divulgar seu 14º plano quinquenal de cultivo, relatou a Nasdaq em
artigo no mês passado.
As ambições do país asiático respingam no Brasil, seu principal vendedor da
leguminosa. De janeiro a outubro de 2021, a China importou 58,393 milhões de
toneladas de soja brasileira. Segundo o Canal
Rural, as exportações brasileiras de soja em grão totalizaram 83,394
milhões de toneladas em 2021, o que significa que a China foi a responsável por
70% deste valor.
Ouvido
por A Referência, Pedro Brites, professor de Relações Internacionais da
Fundação Getúlio Vargas (FGV), observa que a forma como a China vem planejando
sua inserção internacional gera um desafio para o Brasil sobre como o país irá
conseguir manter um bom nível de competição em termos econômicos no mercado de
soja.
“A
busca da China por essa autossuficiência, que já vem discutindo há algum tempo,
mostra a vulnerabilidade da economia brasileira e dificulta a capacidade de
exportações do Brasil. E, mais do que isso, coloca em xeque a capacidade de
exportação brasileira”, analisa Brites, acrescentando que, como isso já estava
no horizonte chinês, não deveria pegar o país de surpresa. “E não me parece que
o Brasil, infelizmente, tenha conseguido pensar em alternativas nesse sentido”.
Na
opinião de Brites, o Brasil deveria estar atento, já que o crescimento chinês trará
implicações. A ampliação global de acordos comerciais seria um caminho
recomendável a ser seguido.
“Com
certeza [o aumento da produção chinesa] é algo que deve impactar a economia
brasileira, justamente por essa dependência e vulnerabilidade que as nossas
exportações têm por depender majoritariamente de produtos primários e ter na
China efetivamente alguém capaz de absorver mais de um terço das nossas
exportações”, explica o professor, que está apreensivo sobre a maneira como o
Brasil irá lidar com isso. “Aparentemente, o caminho tem sido tentar ampliar a
rede de parceiros globais”, disse, citando Japão e Coreia do Sul. “Mas não me
parece, até pelo perfil desses parceiros, que eles vão ser capazes de absorver
tudo que o Brasil produz”.
Para
Brites, conseguir manter a competitividade e ao mesmo tempo fazer isso de modo
que a transição não seja abrupta será um desafio e tanto nesses três próximos
anos. “É um período curto de tempo para se resolver essa questão. Afinal, não
temos tantas outras regiões para absorverem esses produtos brasileiros”.
Segundo
dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério da Economia, o
volume de importação de soja brasileira pela China apresentou queda em 2021,
sendo 4% inferior ao comprado no mesmo período de 2020. Brites contextualizou a
situação, explicando se isso já seria um reflexo do crescimento da produção
chinesa.
“Há
alguns fatores que são importantes considerar. E com certeza a pandemia foi importante
nesse sentido, principalmente porque a China estocou bastante desses alimentos.
Então, a demanda efetivamente diminuiu no ano seguinte”, avalia ele,
acrescentando que, diante desse cenário, “não dá para a gente colocar ainda na
conta desse novo processo, até porque a produção de soja por lá entrou em
declínio em 2021. Então, na verdade, me parece muito mais ligado a esses
fatores exógenos”.
Relações
desgastadas
Em
contrapartida, as tensões diplomáticas da China com outros países podem
favorecer o Brasil em outros mercados. Um dos exemplos é a Austrália, que viu a
cordial relação com Beijing começar a deteriorar em 2018, quando Camberra
proibiu a Huawei de
fornecer equipamentos para uma rede móvel 5G,
citando riscos de interferência estrangeira. A resposta chinesa veio em
forma de imposição de tarifas sobre produtos australianos, como vinho e cevada,
além de importações
limitadas de carne bovina, carvão e uvas australianas.
Para
Brites, essas tensões corriqueiras podem abrir oportunidades para diversos
outros países conquistarem determinados espaços comerciais que estavam
reservados a outros.
“É
o caso do Brasil com a China. Por exemplo, em meio a essa tensão dos chineses
com os EUA, há uma boa expectativa de o Brasil absorver parte das exportações
norte-americanas destinadas à China, como a própria soja. Então, isso traz
oportunidades. Já no caso da Austrália, é um país que exporta bastante
minério”, relata o professor, que enxerga uma brecha para as receitas com exportações
de minério de ferro do Brasil aumentarem nesse cenário.
Segundo
ele, é tudo questão de o Brasil ter um bom plano para aproveitar as
oportunidades, mesmo que elas não representem tanto assim.
“As
tensões até o momento não chegaram a um nível que interrompesse o fluxo
comercial. Mas, é claro, se o Brasil tiver uma estratégia montada, pode ser que
aproveite. Nesse momento, ao que tudo indica, se surgirem essas oportunidades,
elas vão ser muito mais pontuais e direcionadas em determinados períodos
específicos para determinados produtos. Não me parece que seja um processo mais
amplo, sólido o suficiente, por exemplo, para compensar uma eventual perda
dessa magnitude no mercado de soja”, prevê Brites.
Para ler mais acesse, www: professortacianomedrado.com
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