O Afeganistão perdeu pelo menos 86 estações de rádio desde agosto de 2021, quando o Taleban assumiu o poder no país. Os dados foram divulgados no domingo (13), quando foi celebrado o Dia Mundial do Rádio, instituído pela ONU (Organização das Nações Unidas). As informações são da rede afegã Tolo News.
Embora
a tecnologia tenha permitido a criação de inúmeros meios de comunicação nas
últimas décadas, o rádio ainda é um veículo bastante popular em diversos
países, entre eles o Afeganistão. Com a ascensão talibã, porém, o rádio está
entre os muitos setores afetados no país, tanto por questões financeiras
quanto políticas.
A
rádio Jahan é uma das muitas que pararam de operar desde agosto do
ano passado. “A rádio Jahan interrompeu a transmissão por mais de seis meses
devido a graves desafios econômicos”, disse Mosawar Rasikh, chefe da emissora.
Shafiullah
Azizi, chefe da emissora Zamzama, os desafios econômicos são a maior
barreira para as rádios afegãs. “O governo insiste em cobrar impostos das
estações de rádio”, disse ele, citando ainda as questões políticas decorrentes
do radicalismo
talibã.
Entretanto,
os afegãos lembram que a repressão não
é novidade no país. “Houve um tempo em que eram impostas restrições para ouvir
rádio. Quando estávamos ouvindo rádio, encarregávamos um indivíduo de ficar de
vigia, então ouvíamos em segredo”, disse Mangal, morador da cidade de Wardak.
Segundo
Hojatullah Mujadidi, presidente da Associação Afegã de Jornalistas
Independentes, o problema vai aumentar se não houver ajuda estrangeira. “Se a
comunidade internacional não fornecer apoio financeiro à mídia, muitas estações
de rádio serão fechadas nos próximos seis meses. Isso mostra um colapso da
mídia no país”, disse
Por
que isso importa?
O
trabalho jornalístico tem sido seriamente afetado pela repressão imposta pelo
Taleban no Afeganistão. Ao menos seis pessoas foram presas pelo grupo radical
em 2022 por serem jornalistas ou colaborarem com profissionais da área. No dia
6 de janeiro, três repórteres foram detidos enquanto trabalhavam na cobertura
de manifestações contra o Taleban na província de Panjshir. Eles
estavam a serviço de um canal no YouTube chamado Kabul Lovers,
com aproximadamente 244 mil inscritos.
Em
outro caso registrado neste ano, o Taleban prendeu Faizullah Jalal, professor
de Direito e ciência política da Universidade de Cabul, em 8 de janeiro. Ele
foi detido por quatro dias sob acusações de fazer declarações “sem sentido” e
“incitar” pessoas contra os talibãs. Depois de solto, Jalal disse ter sido
preso por ter discutido com um porta-voz talibã em um debate na televisão.
Aslam Ejab e Waris Hasrat, da Ariana TV, são as vítimas
mais recentes da repressão talibã à mídia.
Números
mostram que o jornalismo afegão tem sido sufocado pelo Taleban. Em dezembro de
2021, uma pesquisa conduzida em parceria pela ONG Repórteres
Sem Fronteiras (RSF) e pela Associação de Jornalistas Independentes do
Afeganistão (AIJA) apontou que 231 veículos de imprensa foram fechados e mais
de 6,4 mil jornalistas perderam o emprego no Afeganistão desde o dia 15 de
agosto, quando o Taleban assumiu o poder no país.
Os
dados apontam que mais de quatro em cada dez veículos de comunicação
desapareceram nesse período, e 60% dos jornalistas e funcionários da mídia
estão impossibilitados de trabalhar. As mulheres
sofreram muito mais: 84% delas perderam o emprego, contra 52% no caso dos
homens. Entre as 34 províncias do país, em 15 delas não há sequer uma mulher
jornalista trabalhando atualmente.
Dos
543 meios de comunicação registrados no Afeganistão antes da ascensão talibã,
apenas 312 ainda operavam no final de novembro. Isso significa que 43% dos
meios de comunicação afegãos desapareceram em
um espaço de três meses. Das 10.790 pessoas que trabalhavam na mídia afegã
(8.290 homens e 2.490 mulheres) no início de agosto, apenas 4.360 (3.950 homens
e 410 mulheres) ainda estavam trabalhando quando a pesquisa foi realizada.
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