O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou, neste domingo (27), que
telefonou para Vladimir Putin, chefe de estado da Rússia, e ambos trocaram
ideias por duas horas. No momento em que o país europeu deflagra ataques à
Ucrânia, Bolsonaro declarou que o tema da conversa era
"reservado". As informações são de Klaus Richmond e Carlos Petrocilo/ Folha Press.
No
entanto, horas depois, ele mesmo negou em uma rede social a existência da
conversa, dizendo que o último contato com Putin havia sido em reunião por sua
visita a Moscou, no dia 16.
Interlocutores
consultados no Itamaraty já haviam declarado que não houve nenhuma ligação
telefônica entre Bolsonaro e Putin nos últimos dias.
Em
entrevista coletiva neste domingo, em um hotel em Guarujá (SP), Bolsonaro
afirmou que o Brasil deverá adotar uma postura de neutralidade em meio aos
conflitos entre os países europeus.
"Nós
não podemos interferir. Nós queremos a paz, mas não podemos trazer consequências
para cá", declarou Bolsonaro.
Apesar
do suposto tom de neutralidade, Bolsonaro discordou da palavra massacre dita
por uma jornalista durante a entrevista e, ainda, ironizou pelo fato de
Volodimir Zelenski atuar como ator e comediante antes de ser alçado à
presidência da Ucrânia.
"Você
está exagerando a palavra massacre. Não há interesse por parte de um chefe de
estado praticar um massacre por onde quer que seja, está se empenhando em duas
regiões do sul da Ucrânia", diz o presidente do Brasil. "[O povo ucraniano]
confiou num comediante o destino de uma nação. Eu vou esperar o relatório para
emitir minha opinião [se condeno ou não Putin]."
Cobrado
internamente por assessores e aliados, Bolsonaro se manifestou pela primeira
vez sobre os conflitos, que começaram na quinta-feira (24), somente neste
domingo. Uma semana antes de a Rússia invadir a Ucrânia, Bolsonaro fez questão
de fazer uma visita a Putin, sob a justificativa da necessidade de ampliar
laços comerciais.
Bolsonaro,
que tentará a reeleição nas eleições deste ano, deixou claro neste domingo que
as suas preocupações com as consequências econômicas da guerra promovida por
Putin.
"O
mundo todo está conectado que o que acontece há 10 mil km tem influência no
Brasil. Temos que ter responsabilidade em termos de negócios com a Rússia. O
Brasil depende de fertilizantes", diz Bolsonaro. "Estive falando há
pouco com o presidente Putin, tratamos dos fertilizantes, do nosso comércio,
ele falou da Ucrânia, mas me reservo a não entrar em detalhes da forma como
vocês [jornalistas] gostariam."
Na
sequência, o presidente também falou sobre a posição do Brasil durante a
Assembleia Geral da ONU na qual deverá debater novas sanções contra a Rússia.
"Não tem nenhuma sanção ou condenação ao presidente Putin", afirmou
Bolsonaro.
"O
voto do Brasil não está definido e não está atrelado a qualquer potência. Nosso
voto é livre. A nossa posição com o ministro Carlos França é de equilíbrio. E
nós não podemos interferir. Nós queremos a paz, mas não podemos trazer
consequências para cá."
O
embaixador Ronaldo Costa Filho, representante do Brasil junto às Nações Unidas,
disse que é preciso cautela antes de cada punição. Segundo ele, não se pode
ignorar que algumas das medidas debatidas "aumentam os riscos de um
confronto mais amplo e direto entre a OTAN e a Rússia".
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