Enquanto
a Ucrânia tenta se
defender militarmente da agressão russa, as nações ocidentais, embora tenham
manifestado forte oposição à guerra, mantêm uma distância segura do conflito.
As prometidas sanções econômicas, algumas delas ainda não efetivadas, parecem
não incomodar o presidente russo Vladimir Putin. Assim, os cenários que se
apresentam sugerem um desfecho favorável à Rússia e ruim para o
Ocidente. Em particular para os Estados Unidos, o que poderia mudar o
equilíbrio geopolítico global. As informações são do site a Referência .
Em
conversa com A Referência, André Luís Woloszyn, analista de assuntos
estratégicos e especialista em conflitos de baixa e média intensidade, afirmou
que Washington tem muito a perder com os cenários que hoje se apresentam.
“Talvez estejamos presenciando no futuro um deslocamento do poder de influência
política internacional, que antes era exclusivamente norte-americano, para
russos e chineses”, disse ele.
As defesas
ucranianas estão cada vez mais fragilizadas, e atualmente duas
possibilidades surgem no horizonte para encerrar o conflito. Uma delas, a queda
definitiva de Kiev e do presidente Volodymyr Zelensky, com a imposição de um
novo líder pró-Moscou na Ucrânia e o aumento da rede de influência russa em seu
entorno. Outra, a solução diplomática, algo que Ucrânia e Russia dizem estar
dispostas a negociar, mas que pode ser muito difícil de alcançar.
Mykhailo
Podolyak, conselheiro presidencial ucraniano, sugeriu nesta sexta (25), em
entrevista à agência Reuters, um meio termo diplomático: a Ucrânia, que vinha
tentando ingressar na Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte),
adotaria status
neutro em relação à aliança. “Se as negociações são possíveis, elas
devem ser realizadas. Se em Moscou eles dizem que querem manter conversas,
inclusive sobre o status neutro, não temos medo disso”, disse ele.
Porém,
a única oferta que Putin diz aceitar precisaria incluir a derrubada de Zelensky
e o desarmamento ucraniano. Assim, a diferença entre o que Moscou exige e o que
Kiev está disposta a oferecer gera um impasse idêntico àquele que não permitiu
evitar a guerra. E há, ainda, a relação turbulenta entre as duas nações. “A
mediação entre russos e ucranianos se torna difícil pelo histórico de conflitos
entre os países desde a era soviética, o que resultou em muitos ressentimentos
de ambas as partes”, disse Woloszyn.
“Estamos
sozinhos”
Isolado
e forçado a encarar uma derrota que parece inevitável, Zelensky não escondeu a
decepção por não ter recebido apoio militar do Ocidente. “Quem está pronto para
lutar ao nosso lado? Não vejo ninguém. Quem está disposto a dar à Ucrânia uma
garantia de adesão à Otan? Todo mundo tem medo”, disse ele em pronunciamento à
nação, segundo a agência catari Al Jazeera.
“Estamos
defendendo nosso país sozinhos. As forças mais poderosas do mundo estão observando
isso à distância”, afirmou Zelensky, deixando claro que as medidas adotadas
pelas nações ocidentais não foram suficientes. “As sanções de ontem
impressionaram a Rússia? Ouvimos no céu acima de nós e em nossa terra que não é
suficiente”.
Por
que isso importa?
A
escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão
russa ao país vizinho na quinta-feira (24), remete à anexação da Crimeia pelos russos, em
2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano e se estende até
hoje.
O
conflito armado no leste da Ucrânia opõe o governo central às forças
separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que
formam a região de Donbass e foram oficialmente reconhecidas como territórios
independentes por Moscou. Foi o suporte aos separatistas que Putin usou como
argumento para justificar a invasão, classificada por ele como uma “operação
militar especial”.
“Tomei
a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de
Moscou (0h de Brasília) de quinta (24), de acordo com o site independente The Moscow Times. Cerca de 30 minutos depois, as primeira
explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em
Mariupol, no leste do país, segundo a agência AFP.
Para
Woloszyn, a movimentação no campo de batalha sugere um conflito curto. “Não há
interesse em manter uma guerra prolongada”, disse o especialista, baseando seu
argumento na estratégia adotada por Moscou. “Creio que a Rússia optou por uma
espécie de blitzkrieg, com ataques direcionados às estruturas
militares“, afirmou, referindo-se à tática de guerra relâmpago dos alemães
na Segunda Guerra Mundial.
O
que também tende a contribuir para um conflito de
duração reduzida é a decisão da Otan (Organização do Tratado do Atlântico
Norte) de não interferir militarmente. “Não creio em envolvimento de outras
potências no conflito, o que poderia desencadear uma guerra mais ampla
e com consequências imprevisíveis”, disse Woloszyn, que é diplomado pela Escola
Superior de Guerra.
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