O governo Jair Bolsonaro (PL) decidiu suspender uma visita
prevista para abril do primeiro-ministro da Rússia, Mikhail Mishustin, ao Rio
de Janeiro. As informações são de Ricardo Della Coletta da FolhaPress.
Mishustin
deveria viajar ao Rio para participar da reunião da Comissão Brasileiro-Russa
de Alto Nível de Cooperação, presidida pelo premiê russo e, do lado brasileiro,
pelo vice-presidente Hamilton Mourão.
A
avaliação interna no governo é que receber Mishustin no Brasil seria
interpretado como um sinal de alinhamento à decisão do presidente Vladimir
Putin de invadir a Ucrânia. Seria uma sinalização na contramão da que o país
passou a adotar, a partir de sexta-feira (25), no Conselho de Segurança da ONU
(Organização das Nações Unidas): a de condenar nos termos mais duros a agressão
da Rússia contra a Ucrânia, em violação à carta das Nações Unidas.
A
intenção dos dois países de organizar a viagem de Mishustin constou no
comunicado conjunto de Bolsonaro com Putin, por ocasião da passagem do
brasileiro por Moscou.
"[Os
dois líderes] sublinharam a importância de que a VIII sessão da Comissão de
Alto Nível de Cooperação se realize no primeiro quadrimestre de 2022, no Rio de
Janeiro", diz o texto.
Foi
no encontro de 16 de fevereiro, quando Putin já era acusado de planejar uma
incursão militar na Ucrânia, que Bolsonaro expressou solidariedade à Rússia
-numa fala criticada pelo governo Joe Biden (EUA) e interpretada como uma
manifestação de simpatia às ameaças militares do Kremlim.
A
Comissão de Alto Nível é a mais importante instância de coordenação
intergovernamental de temas das relações entre Brasil e Rússia. Tem por função
organizar as ações nos diferentes ministérios de assuntos bilaterais.
As
reuniões de alto nível da comissão estavam paralisadas. A última ocorreu em
setembro de 2015, à época liderada pelo então vice-presidente Michel Temer e
pelo ex-premiê russo Dimitry Medvedev.
De
acordo com interlocutores, até antes da eclosão do conflito o Itamaraty e o
ministério de Relações Exteriores da Rússia estavam discutindo as datas do
encontro entre Mourão e Mishustin.
Ambas
as partes acordaram que o Brasil, como anfitrião, deveria propor uma data para
a reunião em abril.
No
entanto, nesta semana o governo Bolsonaro decidiu não apresentar uma sugestão
de data -o que, na prática, significa cancelar a visita.
Procurado
neste sábado (26), o Itamaraty não respondeu questionamento enviado pela Folha
de S.Paulo.
Além
de o Brasil ter se juntado ao coro de grande parte da comunidade internacional
condenando a invasão da Ucrânia, o diagnóstico no Itamaraty é que as recentes
declarações de Mourão também são um obstáculo para a confirmação da agenda.
Na
quinta-feira (24), Mourão criticou a ofensiva russa, afirmou que o Brasil não
está neutro diante do conflito e defendeu que o Ocidente a Ucrânia. Ele
comparou ainda a ação de Putin ao expansionismo militar da Alemanha comandada
por Adolf Hitler, na década de 30.
"Tem
que haver uso da força, realmente um apoio à Ucrânia, mais do que está sendo
colocado. Esta é a minha visão. Se o mundo ocidental pura e simplesmente deixar
que a Ucrânia caia por terra, o próximo vai ser a Moldávia, depois os Estados
bálticos e assim sucessivamente. Igual a Alemanha hitlerista fez no final dos
anos 30", declarou o vice na ocasião.
Mourão
foi publicamente desautorizado por Bolsonaro. Mas, no dia seguinte, a delegação
brasileira na ONU se juntou aos Estados Unidos e aliados numa dura condenação
aos ataques ordenados por Moscou.
A
resolução apoiada pelo Brasil recebeu no total 11 votos a favor, um contra (da
Rússia) e três abstenções. (China, Índia e Emirados Árabes Unidos). Como os
russos têm poder de veto, ela não foi adotada.
O
embaixador do Brasil na ONU, Ronaldo Costa Filho, disse no conselho que as
preocupações de segurança da Rússia não lhe dão o direito de ameaçar o
território de outro estado.
"As
preocupações de segurança manifestadas nos últimos anos pela Federação da Rússia,
particularmente no que diz respeito ao equilíbrio estratégico na Europa, não
conferem ao país o direito de ameaçar a integridade territorial e a soberania
de outro Estado", disse.
A
fala de Costa Filho marcou uma guinada nas manifestações que o governo
brasileiro vinha adotando até então. Havia a preocupação no Itamaraty de não se
indispor com Putin, que lidera um país considerado parceiro estratégico do
Brasil e sócio nos Brics (bloco também formado por Índia, Rússia e África do
Sul).
Desde
o início da crise desencadeada pela mobilização militar da Rússia nas
fronteiras da Ucrânia, o governo dos Estados Unidos e outros aliados têm
tentado assegurar o apoio do Brasil em organismos internacionais.
Nas
palavras de um diplomata estrangeiro que realiza tratativas com o Itamaraty, é
preciso criar um quadro de isolamento diplomático total contra Putin.
Para ler mais acesse, www: professortacianomedrado.com
AVISO: Os comentários são de responsabilidade dos autores e não representam a opinião do Blog do professor Taciano Medrado. Qualquer reclamação ou reparação é de inteira responsabilidade do comentador. É vetada a postagem de conteúdos que violem a lei e/ ou direitos de terceiros. Comentários postados que não respeitem os critérios podem ser removidos sem prévia notificação.
Postar um comentário