Editorial do Estadão
A
devolução para a União da concessão do aeroporto internacional do Galeão, no
Rio de Janeiro, simboliza o fim de mais uma ilusão megalomaníaca que os
governos lulopetistas tentaram vender à população. A privatização das operações
dos principais aeroportos brasileiros é parte de uma história petista que
envolve ações internacionais de grande repercussão, como a realização da Copa
do Mundo de Futebol em 2014 e a Olimpíada de 2016, discursos ufanistas sobre a
transformação do País no maior produtor de petróleo do mundo graças ao pré-sal,
trem-bala, criação de grandes empresas nacionais capazes de competir em escala
universal e promessa de felicidade geral e eterna para a população. Um de seus
resultados é a grave crise econômica que se estendeu de 2014 a 2016 e ainda
tolhe a capacidade de crescimento do País, adicionalmente prejudicada pelos
desmandos do atual governo. O fracasso da Oi, que deveria ser a supertele
nacional, mas há pouco teve de vender sua principal operação, é outra
consequência da irresponsabilidade lulopetista. A devolução do Aeroporto
Internacional Tom Jobim, nome oficial do Galeão, soma-se a esse conjunto.
O
governo da então presidente Dilma Rousseff tentou transformar o leilão do
Galeão, em 2013, na demonstração, para o público interno e externo, de que sua
administração estava preparando adequadamente o Brasil para receber dois dos
principais eventos esportivos mundiais, a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos. O
resultado dos leilões em que o Galeão e o aeroporto de Confins, em Belo Horizonte,
tiveram sua gestão e operação transferidas para grupos privados foi então
comemorado pela presidente Dilma Rousseff como fruto do “enorme interesse” dos
investidores internacionais no Brasil e uma resposta aos pessimistas, que
teriam tido na ocasião “um dia de amargura”. A devolução da concessão é, essa
sim, mais uma amargura que o petismo lega ao País.
O
nome do grupo vencedor era, por si só, sugestivo e retrato da euforia daquele
momento: Consórcio Aeroportos do Futuro. Os números e cifras eram, de sua parte,
surpreendentes. A oferta vencedora, de R$ 19,018 bilhões, era quase 300% maior
do que o valor mínimo fixado no edital, de R$ 4,828 bilhões. A presença, no
grupo, da operadora do aeroporto de Cingapura, à época considerado um dos
melhores do mundo, representava a garantia de que os serviços seriam de alta
qualidade.
Nem
tudo, porém, se mostrou tão sólido e brilhante. A participação majoritária, no
grupo vencedor do leilão, de uma empresa diretamente envolvida em casos de
corrupção que começariam a ser desvendados no ano seguinte pela Operação Lava
Jato – o Grupo Odebrecht – se transformaria numa dificuldade, que culminaria
com sua saída das operações.
Desequilíbrios
financeiros decorrentes da brutal queda da movimentação de passageiros por
causa da pandemia de covid-19 e do mau desempenho da economia brasileira desde
o início da concessão, além de outras exigências contratuais, foram invocados
pela operadora privada – denominada RIOGaleão, controlada pela Changi, que
opera o aeroporto de Cingapura – para desistir da concessão.
Os
números indicam que o aeroporto do Galeão vinha tendo mais dificuldades do que
o de Santos-Dumont, também no Rio de Janeiro, para recuperar a movimentação que
havia sido perdida na pandemia. O plano do governo de leiloar ainda em 2022 o
aeroporto de Santos-Dumont gerava dúvidas sobre a recuperação do Galeão, visto
que poderia resultar em aumento na movimentação de passageiros no primeiro, com
prejuízo para o segundo. Autoridades locais vinham tentando equacionar o
problema e assegurar a rentabilidade e a operacionalidade do aeroporto do
Galeão.
Com
a devolução da concessão pela Changi, o governo federal decidiu realizar um
leilão com os dois aeroportos cariocas, em 2023. Seja qual for o modelo para
contornar o problema, contudo, o caso do Galeão é, do começo ao fim, exemplar
dos delírios de grandeza que o lulopetismo continua a vender aos eleitores
incautos e de memória curta.
Para ler mais acesse, www: professortacianomedrado.com
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