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Defesa Civil São Francisco/Divulgação Água do Rio São Francisco sobe 9,85
metros acima do nível normal após abertura das comportas de Três Marias e
transborda no município de São Francisco, no Norte de Minas
Estado
mais castigado pelas cheias na atual estação chuvosa, de acordo com o Sistema
de Alerta de Eventos Críticos (Sace) do Serviço Geológico do Brasil (SGB-CPRM),
Minas Gerais tem municípios sob influência de um fenômeno que prolonga os danos
à população para além dos períodos de temporais mais intensos.
Na
bacia em situação mais crítica no estado, segundo o monitoramento, a do Rio São
Francisco, municípios e populações sofrem com uma condição que pode ser
classificada como “enchente em seca”: mesmo após vários dias sem chuvas
intensas, diante da trégua na maior parte do estado, essas localidades têm
comunidades inteiras debaixo d'água como resultado do excesso de precipitação
registrado dias antes a montante da bacia, devido à água drenada de regiões como
a Grande BH.
O
monitoramento do CPRM aponta que, dos cinco municípios em situação mais crítica
às margens do chamado Rio da Integração Nacional, quatro ficam em Minas
(Pirapora, São Romão, São Francisco e Pedras de Maria da Cruz), e apenas um em
Sergipe, já próximo à foz (Propriá).
A
Bacia do Rio São Francisco é atualmente a que enfrenta piores cheias entre 17
monitoradas pelo Sistema de Alerta de Eventos Críticos no país. No município
que leva o mesmo nome do rio, o Velho Chico chegou a se elevar a cerca de 10
metros segundo medição de sexta-feira, mesmo após cinco sem chuvas
intensas. A medição é um metro e meio superior à cota de inundação e
mais de três metros e meio acima do nível de alerta. É a pior condição no
estado, onde o boletim aponta inundações também na bacia do Rio Doce (Ponte
Nova, Tumiritinga e Governador Valadares) e alerta na Bacia do Rio Muriaé.
A
situação nas cidades que margeiam o São Francisco no Norte de Minas, a partir
de Pirapora, reflete em grande parte os temporais registrados na Região
Metropolitana de BH, já que o Velho Chico recebe diretamente em sua calha as
águas do Rio das Velhas, que corta a Grande BH e deságua no leito principal no
distrito de Barra do Guaicuí, parte do município de Várzea da Palma, abaixo de
Pirapora.
Sofre
também a influência do Paraopeba, que passa pelo aglomerado metropolitano, onde
inundou várias cidades antes de chegar à represa de Três Marias, barramento na
cidade de mesmo nome, no leito do Rio São Francisco e acima de cidades como
Pirapora.
COMPORTAS
ABERTAS
Devido
ao excesso de chuvas, desde o fim de janeiro a Cemig abriu as comportas do
reservatório da hidrelétrica de Três Marias, e o volume liberado na calha do
São Francisco foi aumentando gradualmente até ultrapassar os 3 mil metros
cúbicos por segundo (m3/s) – chegou a 3,016 mil m³/s na última quinta-feira,
último dado disponível, quando o reservatório atingiu 93,4% de sua capacidade.
Para efeito de comparação, em 1º de janeiro a represa acumulava 52,4% de seu
nível máximo e a vazão era de 153m³/s – quase 20 vezes menor que a atual.
A
situação ajuda a explicar por que as comunidades ribeirinhas sofrem com
inundações e são expulsas de suas casas, mesmo fazendo sol na região, que é
mais conhecida pelo clima seco. São igualmente atingidos os moradores das ilhas
do São Francisco, invadidas pela água – os ilhéus tiveram que buscar refúgio em
“terra firme”.
O
município de São Francisco, de 56,3 mil habitantes, é o que registra maior
nível do São Francisco de acordo com boletim mais recente do CPRM, de
sexta-feira (25/2), com 9,94 metros, contra uma cota de inundação que é de 7,5
metros. Segundo o coordenador municipal de Defesa Civil, Romenig Barbosa
Martins, 500 moradores de comunidades ribeirinhas ficaram desalojados depois
que suas casas foram invadidas pela cheia do Velho Chico. Outras 400 pessoas no
município tiveram perdas com a inundação.
©
Fábio Leite/Divulgação As águas do Velho Chico invadiram o assentamento
que fica às marges do rio, no município de São Francisco, Norte de Minas
Segundo
Romenig, pelo menos 24 comunidades rurais às margens do Velho Chico no
município foram inundadas. Além de terem que deixar suas moradias às pressas rumo
às casas de amigos e parentes, os moradores perderam lavouras, eletrodomésticos
e outros bens de consumo. A Prefeitura de São Francisco montou abrigos em uma
escola e em duas creches municipais para receber os desalojados.
DIQUE
DE PROTEÇÃO
O
coordenador da Defesa Civil de São Francisco informou que, além das comunidades
rurais, dois bairros da cidade tiveram ruas e casas atingidas pela cheia do
Velho Chico: Luzia e São José. As consequências na sede de município só não
foram piores por causa do dique de proteção contra inundações, construído logo
após a grande enchente de 1979 – obra também realizada na mesma época nos
municípios norte-mineiros de Pirapora e Januária.
Uma
das áreas invadidas pela enchente do Velho Chico no município de São Francisco
é o Assentamento São Francisco II. Todas as 60 famílias da área da reforma
agrária tiveram que deixar suas casas, que foram invadidas pela água. Além de
ficarem desalojadas, perderam móveis, colchões, geladeiras e outros
eletrodomésticos, assim como animais domésticos. As plantações de milho, feijão
e mandioca também ficam submersas e foram destruídas.
“Estamos
pedindo a Deus para a água baixar e nossas casas ficarem de pé, para que a
gente tenha condições de voltar para o assentamento e tocar a vida”, afirma
Roney Aparecido Ferreira de Jesus, de 39 anos, presidente da Associação
Comunitária do Assentamento São Francisco 2. Ele também ficou desalojado pela
enchente e conseguiu abrigo na casa de uma parente na sede do município.
Roney
conta que em muitas casas do assentamento o nível da água subiu em torno de
dois metros, ficando à mostra praticamente só o telhado. Doze famílias buscaram
abrigo na sede da antiga fazenda onde foi instalado o assentamento. “Mas a
situação é muito precária. Já apareceram várias cobras nos barracos ocupados
pelas famílias”, afirma o líder comunitário.
O
produtor rural José Astério Rodrigues, de 43, relata que a enchente do Velho
Chico provocou muitas perdas e invadiu moradias na localidade de Porto Velho,
onde ele vive, no município de São Francisco. “Pessoas da comunidade estão
tendo que usar barcos para sair de casa”, afirma José Astério, cuja moradia
fica em um ponto mais alto e não foi alagada.
A
mesma sorte não tiveram pelo menos 20 famílias de Porto Velho, que ficaram
desabrigadas e contabilizam prejuízos com a destruição de pastagens e lavouras
e as perdas de móveis e eletrodomésticos.
Outro
atingido pela enchente do Rio São Francisco no município do Norte de Minas é
Alcides Francisco Raposo, de 63. Ele tem um terreno na Ilha da União,
totalmente tomada pela enchente. “As casas da ilha foram todas inundadas. Só
ficaram os telhados fora d'água. Perdemos móveis, colchões, cobertores, tudo.”
“Ninguém
estava esperando uma cheia tão grande”, diz Alcides, ressaltando que pelo menos
100 famílias foram atingidas pela inundação na Ilha da União. Segundo ele, a
enchente atual só não está sendo maior do que a grande cheia do Rio São
Francisco ocorrida em 1979.
DESALOJADOS
Em
São Romão, de 12,7 mil habitantes, cidade ribeirinha vizinha a São Francisco, o
volume do Rio da Unidade da Nacional atingiu 9,5 metros na sexta-feira,
provocando trasbordamento que deixou 300 pessoas desalojadas. Todas elas são
moradoras de ilhas que foram alagadas e tiveram de ser acolhidas em residências
na área urbana, informa o coordenador de Defesa Civil do município, José
Alberto de Oliveira Pena.
Em
Pedras de Maria da Cruz, de 12,3 mil habitantes, outro município norte-mineiro,
a enchente do São Francisco deixou 172 famílias – um total de 680 pessoas –
desabrigadas. São moradores de 12 ilhas e de sete comunidades rurais
localizadas às margens do rio. Conforme o coordenador de Defesa Civil do
município, Fernando Pereira de Jesus, a prefeitura retirou as famílias das
áreas alagadas e montou um acampamento improvisado de barracas cobertas de
lona, onde vão permanecer até as águas baixarem. Mas a tendência, segundo
boletim de sexta-feira do CPRM, é de elevação
Fernando
salienta que, além dos transtornos da enchente, os ilhéus e ribeirinhos
encararam o perigo. “Teve um morador que voltou à casa inundada e se deparou
com uma cascavel de mais de um metro dentro da moradia”, afirma o coordenador
municipal de Defesa Civil. Na última sexta-feira, o volume do Velho Chico subiu
a 9,6 metros em Pedras de Maria da Cruz, dois metros acima da cota de
inundação, que é de 7,6 metros.
No
município de Manga, de 18,2 mil habitantes, 203 moradores ficaram desalojados
em três ilhas do São Francisco depois que suas casas foram alagadas. Também
devido à cheia do rio, 30 famílias ficaram desabrigadas. Diante dos
transtornos, foi decretado estado de emergência no município. Os desalojados e
desabrigados foram levados para casas de parentes.
A
Prefeitura de Manga providenciou auxílio-aluguel para as vítimas que não
tiveram a quem recorrer, informou a coordenadora municipal de proteção e defesa
civil, Sara Guedes de Paula. O nível do rio subiu 9,20 metros na sexta-feira,
com tendência de continuar se elevando, segundo boletim do Serviço Geológico
Nacional.
BENJAMIM
GUIMARÃES
Em
Pirapora, cidade de 56,2 mil habitantes, 332 pessoas foram atingidas pelas
inundações nas ilhas do São Francisco de Coqueiro, Pimenta e Marambaia e em uma
comunidade às margens do rio. O local onde foi instalado o vapor Benjamim
Guimarães para a reforma, perto do barranco do rio, também foi invadido pela
água, interrompendo os serviços de recuperação de embarcação histórica.
No
município de Buritizeiro, de 28,1 mil habitantes, separado de Pirapora pelo São
Francisco, várias estradas vicinais foram interrompidas pela enchente, o que
deixou comunidades rurais isoladas, informou o coordenador municipal da Defesa
Civil, Rodrigo Cardoso da Cruz.
Fonte: Estado de Minas
Para ler mais acesse, www: professortacianomedrado.com
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