Eles têm ideias semelhantes, mas nem sempre foi assim. Um dos principais articuladores da pré-campanha do ex-juiz Sérgio Moro (Podemos) à Presidência da República, o senador e colega de partido Oriovisto Guimarães, de 76 anos, já esteve do outro lado da política. Contemporâneo do petista José Dirceu, participou de movimentos estudantis contra a ditadura militar e chegou a ser preso, tachado de comunista. As informações são de Adriana Ferraz/Estadão.
O
ano era 1968. “Todo mundo que era contra a ditadura naquele tempo era ligado a
partidos de esquerda, oficiais ou não. A gente discutia marxismo, uma série de
coisas. Eu compartilhava dessas ideias, mas quando casei e nasceu o primeiro
filho, tive de começar a trabalhar e entendi que aquela história não dava
certo”, conta o senador mais rico do Congresso. De marxista, virou liberal e milionário,
com fortuna declarada de R$ 240 milhões em bens.
A
prisão ocorreu no histórico 30º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE)
em Ibiúna, no interior de São Paulo. Cerca de mil jovens foram detidos pela
Força Pública e encaminhados para a capital. Guimarães tinha 23 anos e estava
na lista. “Ficamos cerca de uma semana no presídio de Tiradentes, no centro.
Ameaçaram me dar umas cacetadas, mas não cheguei a ser torturado. Depois, já de
volta ao Paraná, tentamos fazer um novo congresso e foi aí que me livrei por um
golpe de sorte. Os agentes descobriram que faríamos uma reunião preparatória.
Todos que estavam lá foram presos por dois anos. Eu não consegui ir e, por
isso, escapei.”
Com
a edição do AI-5 e o início da fase mais violenta da repressão militar,
Oriovisto resolveu deixar a política de lado. Fichado no Departamento de
Ordem Política e Social (Dops), não pôde usufruir de uma bolsa de
estudos em Harvard (teve o passaporte retido) nem sua mulher pôde seguir a
carreira como professora de história. Filho mais velho de oito irmãos, passou a
dedicar-se à vida empresarial e, em 1972, abriu um cursinho preparatório para o
vestibular que virou um império em Curitiba.
A
aposentadoria da empresa veio em 2013 e com ela o interesse em voltar à cena
política. Cinco anos depois, incentivado pelo amigo Alvaro
Dias (Podemos-PR), aceitou ser candidato ao Senado pelo Podemos.
Defensor da Lava Jato, e fã declarado de Moro, foi eleito com quase 3
milhões de votos na onda bolsonarista.
Desde
então, segue na defesa do que classifica como valores éticos e essenciais para
o desenvolvimento do País. Na lista, a prisão em segunda instância, o fim do
foro privilegiado e a reforma do Judiciário.
Atualmente,
uma de suas prioridades é aprovar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC)
que regulamente as decisões monocráticas de ministros do Supremo Tribunal
Federal (STF) e demais tribunais. O texto, rejeitado no Senado em
2019, foi reapresentado ano passado e prevê que as decisões cautelares não
poderão ser monocráticas nos casos de declaração de inconstitucionalidade,
suspensão de eficácia de lei ou atos normativos, como decretos.
Reforma
do Judiciário
São
esses temas relativos ao Judiciário que aproximam o “ex-comunista” de Sérgio
Moro. “Defendo a reforma que ele sugere. Não sei detalhes do plano, mas sei que
é preciso fazer alguma coisa nesse sentido. Um juiz não pode resolver sozinho
derrubar uma lei aprovada por todo o Congresso”, diz.
Mas,
apesar de aliado, Oriovisto afirma que não considera Moro um “salvador da
pátria”. “Ele tem uma bela formação universitária, grau de cultura muito alto,
histórico de vida séria. Mas sei que ele não é um salvador da pátria e não sei
se vou concordar com tudo o que ele pensa. Uma vez perguntei a ele no Senado
porque juízes têm 60 dias de férias e ele se enrolou todo para responder.”
Crítico
ao aumento do fundo eleitoral, afirma que não dará um “tostão” a ninguém
nestas eleições. Nem à campanha de Moro. “Com essa quantia absurda de dinheiro
público, por que dar mais dinheiro aos políticos?”, pergunta.
Sobre
as chances do ex-juiz, Oriovisto é mais contido. “As coisas só vão tomar rumo a
dois, três meses das eleições. Se Moro desistir, vai ser aos 45 do segundo
tempo. Mas se for ao segundo turno, acho que está eleito.”
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