O Brasil nunca foi alvo de
um atentado
terrorista consumado por parte de grupos extremistas islâmicos. Por
outro lado, o país registrou em mais de uma oportunidade a presença em seu
território de indivíduos acusados de conexão com grupos como Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah. De
acordo com dois especialistas que conversaram com A Referência, essas
questões estão diretamente associadas e, de uma maneira distorcida, ajudam a
manter a população brasileira segura. As informações são de
André
Luís Woloszyn, analista de assuntos estratégicos e especialista em conflitos de
baixa e média intensidade, cita dois fatores para explicar o fato de o Brasil
nunca ter sido alvo de um atentado. “O primeiro é sua posição diplomática
neutra em relação aos conflitos no Oriente Médio”, diz ele. “Em segundo, a
legislação fraca possibilita o homizio de integrantes de grupos terroristas, o
que não acontece na maioria dos países”.
A
estabilidade da qual os extremistas desfrutam por aqui ficou evidente no final
de novembro de 2021, quando o Departamento do
Tesouro dos Estados Unidos adicionou os nomes de três
estrangeiros que vivem no Brasil à lista de Terroristas
Globais Especialmente Designados, por suporta associação com a Al-Qaeda.
Haytham
Ahmad Shukri Ahmad Al-Maghrabi, que vive aqui desde 2015, teria sido o contato
brasileiro de um terrorista ligado aos atentados contra
as Embaixadas dos EUA na Tanzânia e no Quênia. Mohamed Sherif Mohamed Awadd, no
Brasil desde 2018, teria recebido dinheiro de outros associados da Al-Qaeda no
país, o que sugere que a lista de terroristas em solo nacional é maior. O
terceiro listado pelo Tesouro dos EUA é Ahmad Al-Khatib, também acusado de dar
suporte à Al-Qaeda.
Se
a permanência no Brasil dá aos terroristas a sensação de impunidade, a entrada
no país não é um desafio muito maior. “Eu entendo que o Brasil é um pais bem
tolerante e até estimula e facilita a imigração”, diz Guilherme Feldmann,
advogado especializado em imigração.
O
causídico explica, no entanto, que o país não deixa suas portas escancaradas
para os estrangeiros. “A Polícia Federal e Ministério da Justiça E Segurança
Pública realizam controle de imigração das fronteiras em aeroportos,
portos e outras passagens, bem como exigem a apresentação de diversos
documentos para autorização de residência e naturalização”, diz ele.
Porém,
driblar as exigências legais pode não se um desafio tão grande para os
extremistas. “Claro que [as autoridades de imigração] não previnem de qualquer
forma fraudes bem elaboradas, e às vezes um certo ‘jeitinho brasileiro’ pode
colaborar com essas ocorrências”.
Conforme
o argumento de Woloszyn, enquanto sentirem que o país lhes dá abrigo, os
extremistas tendem a evitar ao máximo atentados por aqui. Caso um dia a situação
mude, o especialistas diz que é difícil prever a eficiência das medidas
de contraterrorismo brasileiras, justamente pelo fato de nunca terem
sido testadas. Ele alerta, porém, que esse dia deve chegar. “Devemos raciocinar
não se deverá ocorrer um atentado terrorista em território brasileiro. Mas
quando ocorrerá”.
Jihadistas
no Brasil
Um
dos episódios mais famosos de terrorismo internacional no Brasil ocorreu
em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio. Na ocasião, a
Polícia Federal (PF) foi informada pela inteligência dos EUA da presença de
jihadistas islâmicos que planejavam atentados semelhantes aos dos Jogos
Olímpicos Munique 1972, quando atletas de Israel foram sequestrados e mortos.
Em
2016, dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico (EI)
foram presos, e outros dois fugiram. O grupo incentivava ataques de lobos
solitários contra atletas de Reino Unido, Estados Unidos e França durante os
Jogos no Rio, sugerindo o uso de venenos ou explosivos ligados a drones,
conforme noticiou o jornal britânico Daily
Mail.
Dois
anos depois, a PF prendeu em Foz do Iguaçu (PR) o libanês Assad Ahmad Barakat,
suspeito de financiar
grupos terroristas. E, bem antes disso, em 2001, uma investigação da
revista Veja mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah
viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro,
recrutando novos membros e planejando atos violentos.
Por
que isso importa?
Ações
antiterrorismo globais têm enfraquecido os dois principais grupos terroristas
do mundo, o EI e a Al-Qaeda. Já a pandemia de Covid-19 fez cair o número
de ataques em regiões sem conflito, devido a fatores como a redução do
número de pessoas em áreas públicas. Na tentativa de manter a relevância, as
organizações jihadistas têm investido em zonas de conflito, como o continente
africano, e isso pode causar um impacto a curto prazo na segurança global,
conforme as regras de restrição à circulação são afrouxadas.
O
EI, em particular, se enfraqueceu militar e financeiramente, vitimado pela má
gestão de fundos por parte de seus líderes e sufocado pelas sanções econômicas
internacionais. Porém, a organização ganhou sobrevida graças ao poder de
recrutar seguidores online. Atualmente, as ações do EI são empreendidas quase
sempre por atores solitários ou pequenos grupos que foram radicalizados e
incitados através da internet.
Em
2017, o exército iraquiano anunciou ter derrotado a organização no país, com a
retomada de todos os territórios que o EI dominava desde 2014. O grupo, que
chegou a controlar um terço do Iraque, hoje mantém apenas células
adormecidas que lançam ataques esporádicos. Já as Forças Democráticas
Sírias (FDS), apoiadas pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado
pelos extremistas no país.
Em
janeiro deste ano, o exército norte-americano anunciou ter matado Amir Muhammad
Sa’id Abdal-Rahman al-Mawla, principal líder da facção, durante uma operação
antiterrorismo na Síria. Foi mais um duro golpe contra o EI, que em 2019 havia
perdido o líder anterior, Abu
Bakr al-Baghdadi.
Assim,
o principal reduto tanto do EI quanto da Al-Qaeda tornou-se o continente
africano, onde conseguem se manter relevante graças à ação de grupos
afiliados regionais, como Al-Shabaab, ISWAP, EIGS e Boko Haram. A expansão em
muitas regiões da África é alarmante e pode marcar a retomada de força global
dessas duas organizações, algo que em determinado momento tende refletir em
regiões sem conflito, como Europa e Estados Unidos, alvos preferenciais de
ataques terroristas.
Para ler mais acesse, www:
professortacianomedrado.com
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