O
Departamento de Estado dos EUA oferece, desde segunda-feira (7), uma recompensa de até US$ 10 milhões a quem fornecer
informações que ajudem a “identificar ou capturar” Shahab al-Muhajir, também
conhecido como Sanaullah Ghafari, líder do Estado
Islâmico-Khorasan (EI-K), facção do grupo terrorista no Afeganistão.
O
anúncio foi feito no Twitter pelo programa governamental norte-americano Rewards
for Justice (Recompensas da Justiça, em tradução literal). “Sanaullah
Ghafari é o atual líder da organização
terrorista EI-K. Relate informações à RFJ via Signal, Telegram, WhatsApp ou
nossa linha de denúncia baseada no Tor – ajude a levar esse terrorista à
justiça”, diz o post.
Segundo
o Departamento de Estado, Ghafari é descrito como “um líder militar e um dos
‘leões urbanos’ do EI-K em Cabul, envolvido em operações de guerrilha e no
planejamento de ataques suicidas e complexos. Nascido em 1994, no Afeganistão,
é responsável por aprovar todas as operações
do EI-K em todo o Afeganistão e por providenciar financiamento para
realizar as operações”.
Também
há uma recompensa de até US$ 10 milhões para quem tiver informações sobre
outros terroristas envolvidos no atentado a bomba que matou 182 pessoas na
região do aeroporto de Cabul, no dia 26 de agosto de 2021, pouco após o Taleban tomar o poder no
Afeganistão. A ação ocorreu durante a retirada de tropas dos EUA e da Otan
(Organização do Tratado do Atlântico Norte), matando civis e militares.
Aliança
à vista?
Principal
rival do Taleban no Afeganistão, o EI-K divulgou a primeira edição de sua
revista digital em inglês. Na publicação, o grupo extremista reforça suas
críticas aos talibãs, tratados como “apóstatas” e “escravos do ISI”, o serviço
de inteligência paquistanês.
Porém,
o EI afirma que a relação ainda pode ser reparada e que os talibãs “se tornarão
nossos irmãos” se “desistirem de suas ações, declararem-se livres do sistema
democrático infiel, libertarem seus pescoços da escravidão dos infiéis e do
ISI, se arrependerem de crenças infiéis, inovações e outras superstições”.
A
revista também destaca a ação do Estado Islâmico (EI)
na tentativa de tomar a prisão
de Ghwayran, na cidade de al-Hasakah, na Síria. Apesar do insucesso da
operação, que terminou com vitória
das Forças Democráticas Sírias (FDS), o grupo extremista diz que os
seguidores ainda detidos não devem perder a esperança: “Nós iremos até vocês”,
diz o texto.
Por
fim, a publicação dedica algumas de suas 37 páginas para criticar as mulheres
por “gastarem [dinheiro] extravagantemente em coisas mundanas transitórias como
roupas, joias, festas e assim por diante”, quando a obrigação era usar o
dinheiro para financiar os jihadistas.
Por
que isso importa?
Embora
tenha ganhado notoriedade somente após o Taleban ascender ao poder, o EI-K não
é novo no cenário afegão. O grupo extremista opera no país desde 2015 e surgiu
na esteira da criação do Estado Islâmico (EI)
do Iraque e da Síria. Foi formado originalmente por membros de grupos
do Paquistão que migraram para o Afeganistão fugindo da crescente
pressão das forças de segurança paquistanesas.
Agora
que a ocupação estrangeira no Afeganistão terminou e que o antigo governo foi
deposto pelo Taleban, os principais alvos do EI-K têm sido a população civil e
os próprios talibãs, tratados como apóstatas pelo Khorasan sob a acusação de
que abandonaram a jihad por uma negociação diplomática.
Os
ataques suicidas são a principal marca do EI-K, que habitualmente tem uma alta
taxa de mortes por atentado. O mais violento de todos eles ocorreu durante a
retirada de tropas dos EUA e da Otan, quando as bombas do grupo mataram 182
pessoas na região do aeroporto de Cabul.
No
início de outubro, dezenas de pessoas morreram em um ataque suicida a bomba
contra uma mesquita na província de Kunduz, no nordeste do Afeganistão. Já
em novembro, nova ação do EI-K, esta contra um hospital de Cabul, deixou 25
pessoas mortas e cerca de 50 feridas.
Não
há diferença substancial entre EI e EI-K, somente o local de origem, a região
de Khorasan, originalmente no Irã.
No
Brasil
Casos
mostram que o Brasil é um porto seguro para
extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil
Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas
no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica,
Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.
Em
2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de
Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista,
coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.
Em
2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF
prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados
semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao
Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.
Mais
recentemente, em dezembro de 2021, três
cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de
sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o
financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras
importantes do grupo terrorista.
Para
o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin
(Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação
enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações
terroristas islâmicas.
“A
possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não
apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo
internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do
livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e
a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados
terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total
disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado
vigente no país”.
Reward up to $10 million! 💰
— Rewards for Justice (@RFJ_USA) February 7, 2022
Sanaullah Ghafari is the current leader of the ISIS-K terrorist organization. Report information to RFJ via Signal, Telegram, WhatsApp, or our Tor-based tips line - help bring this terrorist to justice. ⚖️@Rewards4Justice @RFJ_Pashto @RFJ_Dari pic.twitter.com/ghyIEMBJdV
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