Por: Andreas Becker/DW
O
preço do trigo bate recordes diariamente: na Chicago Board of Trade, o
principal mercado internacional de produtos agrários, ele está 50% mais alto do
que antes da ofensiva militar da Rússia contra a Ucrânia, em 24 de fevereiro.
Essa inflação se explica por ambas as partes do conflito contarem entre os
maiores exportadores do cereal no mundo.
A
maior parte da produção global de trigo é consumida no local de cultivo, o
excedente vai parar nos mercados internacionais. Destes, a Ucrânia e a Rússia
detêm "uma parcela gigantesca, de cerca de um terço", explica o
agroeconomista Matin Qaim, diretor do Centro de Pesquisa de Desenvolvimento
(ZEF, na sigla em alemão), em Bonn.
A
Rússia é, de longe, o maior exportador, enquanto a Ucrânia ocupa o quinto
lugar, atrás dos Estados Unidos, Canadá e França, em ordem descendente. A maior
parte do cereal dos dois países do Leste Europeu é exportado no verão e outono
europeus (junho a dezembro), "portanto os maiores problemas ainda estão
por vir", adverte Qaim.
A
guerra não dificulta apenas a exportação dos estoques disponíveis: caso se
prolongue, pelo menos na Ucrânia não será possível semear e colher na medida
usual. Isso, por sua vez, impulsionará ainda mais alto os preços do trigo. Para
os países consumidores, trata-se de um grande problema, já que muitos dependem
de importações de gêneros alimentícios: "Nações como o Líbano ou o Egito
importam a maior parcela de seus alimentos, muitas vezes entre 70% e 90%."
"Nada
a fazer, senão comer ainda menos"
Também
no Quênia, 80% do trigo vem do exterior: "Nós importamos de diversos
países, também da Rússia e da Ucrânia. O que está acontecendo lá vai derrubar
as cadeias de abastecimento", explicou à rádio alemã ARD o economista
queniano Ken Gichinga. A Turquia é também, em grande parte, dependente de trigo
importado.
E
o trigo não é o único produto agrário de que os países em guerra detêm uma
grande parcela do mercado mundial: eles produzem 20% do milho e cevada, assim
como até 80% do óleo de semente de girassol. "Estamos registrando aumentos
de preço não só do trigo, mas também de outros alimentos", reforça Qaim.
Para
os pobres dos países em desenvolvimento, a alta dos gêneros representa, acima
de tudo, fome: "Eles não têm nada a fazer, senão simplesmente comer ainda
menos", explica o diretor do ZEF.
Alguns
países, como a Índia e a China, ainda possuem atualmente grandes reservas de
trigo. "É claro que eles podem desbastar esses estoques, e assim ampliar a
oferta de trigo", comenta o agroeconomista. Entretanto isso não bastaria,
nem de longe, para compensar a lacuna da participação russa e ucraniana.
Dilema
das sanções ocidentais
No
entanto, os russos seguem cultivando e colhendo trigo e outros produtos.
"A questão é se teremos como possibilitar as exportações russas de gêneros
alimentícios a fim de evitar uma catástrofe humanitária, ou seja: os danos
colaterais da guerra em outras partes do mundo", especula Qaim.
Isso,
por sua vez, diz respeito às sanções ocidentais contra a Rússia, que não só
dificultam as exportações como seu pagamento, já que diversos bancos russos
foram excluídos do sistema internacional de transferências monetárias:
"Aqui, precisamos discutir seriamente sobre exceções para alimentos",
insta Qaim.
Os
desdobramentos futuros dependem, acima de tudo, do transcorrer da guerra. Um
perigo real é que, também na Ucrânia, venha a grassar a fome em massa – num
país que, devido a seu chernossolo, de fértil terra negra, já foi chamado de
"celeiro da Europa".
Para ler mais acesse, www: professortacianomedrado.com
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