Nos últimos dias, o governo dos Estados Unidos tem indicado uma
possível mudança de tom em relação ao Brasil, com elogios pontuais à posição da
diplomacia do país em meio à guerra na Ucrânia. As informações são de Rafael Balago/FolhaPress.
As
falas contrastam com uma série de críticas públicas, carregadas de palavras
duras, pela visita do presidente Jair Bolsonaro (PL) à Rússia, dias antes de a
invasão começar.
No
domingo (6), Brian Nichols, secretário-assistente para o Hemisfério Ocidental
no Departamento de Estado, elogiou no Twitter a atuação do Brasil no Conselho
de Direitos Humanos da ONU. "Cada voto para responsabilizar o Kremlin por
essas ações horríveis importa. Os EUA estão orgulhosos de ficar ao lado do
Brasil para defender os direitos humanos de todos na Ucrânia", escreveu.
As
posições no Conselho de Segurança também foram bem recebidas, segundo um
funcionário do Departamento de Estado ouvido pela reportagem. Sob condição de
anonimato, ele ressaltou que, apesar das críticas públicas dos EUA à viagem de
Bolsonaro, os dois países continuam a trabalhar juntos em vários níveis de
governo para tentar ajudar a resolver a crise na Ucrânia.
Na
semana passada, o Brasil votou a favor de duas resoluções no colegiado: uma
condenando a invasão --o texto foi barrado pela Rússia, que tem poder de veto--
e outra que fez com que o tema fosse levado à Assembleia-Geral. Nela, uma moção
de condenação às ações da Rússia foi aprovada no dia 2 de março, também com
voto do Brasil.
Em
entrevista ao podcast da revista America's Quartely no último dia 3, Juan
Gonzalez, diretor para o Hemisfério Ocidental do Conselho de Segurança
Nacional, buscou mostrar que compreende as dificuldades do governo brasileiro.
"Você
tem uma zona de paz e segurança no Atlântico Sul, uma área que o Brasil e sua
política externa buscam tornar um lugar de neutralidade, porque eles não querem
virar peças de xadrez em uma, digamos, Guerra Fria. E a neutralidade é boa até
que um país invade outro. Nesse ponto você tem que escolher um lado, e eu
penso, sem especificar nenhum país, que a articulação da neutralidade é uma
racionalização por não querer tomar uma posição", disse.
Apesar
dos votos anti-Moscou da diplomacia brasileira na ONU, Bolsonaro tem falado em
manter equilíbrio no conflito, temendo abalos que a guerra pode ter na
economia, como no fornecimento de fertilizantes agrícolas --23% dos insumos
consumidos no Brasil em 2021 vieram da Rússia. "Para nós, a questão do
fertilizante é sagrada", afirmou o brasileiro. Desde que a invasão da
Ucrânia começou, o presidente fez inclusive acenos públicos a Vladimir Putin.
Na
entrevista, Gonzalez também falou de meio ambiente, um dos pontos recentes de
tensão entre EUA e Brasil. Afirmou que o país é um líder global e regional nas
questões climáticas e que o combate ao desmatamento seguirá sendo uma questão
difícil, mesmo que Bolsonaro deixe o poder.
"O
PT [de Luiz Inácio Lula da Silva, que lidera as pesquisas] não era pró-clima
até isso se tornar uma questão global. Mesmo em um governo do PT, isso será
muito difícil, porque há atores políticos muito fortes nessa área, muitos
negócios poderosos ao redor. Não vou subestimar os desafios políticos que
qualquer governo do Brasil terá na Amazônia", ponderou.
Esse
tom mais ameno na diplomacia com Brasília se dá ao mesmo tempo em que os EUA
buscam se reaproximar da Venezuela. Uma rara rodada de negociações foi
realizada no fim de semana, seguida de especulações de que isso poderia abrir
caminho para atenuar sanções e liberar a compra de petróleo venezuelano por
Washington.
Dois
americanos presos foram soltos nos últimos dias, após a visita da delegação de
Joe Biden ao ditador Nicolás Maduro.
À
reportagem o Departamento de Estado não comentou possíveis relações entre os
dois movimentos. "A parceria estratégica de longo prazo é importante para
as duas nações e para as duas regiões, baseada em um compromisso compartilhado
com os valores democráticos. Continuaremos a trabalhar com o Brasil para
enfrentar os desafios globais, incluindo ameaças à paz e à segurança
globais", disse, em nota, um porta-voz do órgão.
Em
fevereiro, o governo americano fez críticas públicas a Bolsonaro pelo fato de
ele ter visitado a Rússia em meio à tensão entre Moscou e Kiev, que mais tarde
desembocaria na guerra. Em 16 de fevereiro, o brasileiro esteve com Putin e se
disse "solidário à Rússia" --sem especificar a que aspecto
manifestava sua solidariedade.
No
dia seguinte, o Departamento de Estado fez críticas. "O momento em que o
presidente do Brasil expressou solidariedade com a Rússia, justo quando as
forças russas estão se preparando para lançar ataques a cidades ucranianas, não
poderia ser pior", disse um porta-voz da pasta, em nota a jornalistas.
"Isso mina a diplomacia internacional direcionada a evitar um desastre
estratégico e humanitário."
Logo
depois foi a vez de a porta-voz da Casa Branca, Jen Psaki, falar. "Eu
diria que a vasta maioria da comunidade global está unida em sua visão de que
outro país tomando parte de sua terra, aterrorizando seu povo, é certamente
algo não alinhado aos valores globais. Então, penso que o Brasil pode estar do
outro lado em que a maioria da comunidade global está."
Para ler mais acesse, www: professortacianomedrado.com
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