Fotos: Luiz Gonzaga de Queiroz / Embrapa Caprinos e Ovinos
Uma
tecnologia desenvolvida para analisar a composição de fezes de animais pode
auxiliar em uma melhor nutrição de rebanhos de ovinos e
ajudar no manejo adequado para evitar degradação do bioma Caatinga. A
técnica desenvolvida pela Embrapa Caprinos e Ovinos, se dá por meio de um
procedimento chamado micro histologia fecal, usado para comparar as
amostras de fezes de ovinos com as de plantas da pastagem local, o que
contribui para a identificação mais precisa das espécies selecionadas e
consumidas pelo rebanho em sistemas extensivos.
Além
disso, a tecnologia influencia decisões por parte dos criadores sobre manejo
de pastagens para evitar deficiência de nutrientes e problemas
no solo causados pela concentração excessiva de animais em uma área. A
prática busca também não comprometer o bem-estar dos animais.
A
técnica permite, ainda, informações mais amplas sobre a espécies de plantas
pastejadas. Como resultado de um experimento realizado por três anos na Fazenda
Lagoa Seca, em Cariré (CE), com amostras locais, foram identificadas
as espécies que compõem cerca de 70% da dieta dos animais, levando em
consideração as áreas extensas de pastejo e que plantas os animais selecionam
para se alimentar.
A
área experimental da pesquisa situa-se na chamada Depressão Sertaneja, que
correspondente a 38,5% da Caatinga e serve de referência a territórios de
grande produção de ovinos no Semiárido brasileiro, como o Sertão
dos Inhamuns (CE), também localizado nesse tipo de área.
O
procedimento de análise fecal é capaz de fornecer informações importantes que
podem contribuir para a conservação do bioma. Em primeiro lugar, a análise das
fezes dos animais identifica estruturas das plantas da dieta dos ruminantes. A
partir da identificação das estruturas vegetais é possível pensar em
estratégias e entender se as áreas de pastejo estão sendo bem manejadas ou não.
“Algumas
plantas forrageiras identificadas são indicativos de que essas áreas estão bem
conservadas, ao contrário de outras plantas que são características de áreas
super pastejadas. Por essa observação, já é possível trabalhar os cuidados e
evitar a desertificação na Caatinga”, destaca Marcos Rogério,
pesquisador da Embrapa que liderou o estudo.
O
cientista detalha que a partir do que os animais consomem junto a um ajuste
nutricional dos suplementos é viável evitar o super pastejo e, por
consequência, a degradação da área. “A partir do momento em que os ruminantes
são nutridos e suplementados adequadamente, em um tamanho de rebanho que não
sobrecarregue a área de pastagem, é possível evitar danos do super pastejo”.
E
completa: “Se os animais consomem uma determinada espécie no período
chuvoso em grande quantidade e uma área contém muito essa espécie, o produtor,
no período anterior, pode fazer isolamento daquela área, para que, no período
chuvoso, a área disponibilize o máximo daquela espécie para o animal. Outras
estratégias são as técnicas de manejo da pastagem que já são conhecidas e
implementadas na Caatinga. Usar o rebaixamento, para proporcionar o
desenvolvimento de espécies que são mais pastejáveis, mais selecionadas pelos
animais. Ou o raleamento, para tirar espécies menos pastejáveis, no ponto de
sustentabilidade do ecossistema, e proporcionar que o animal tenha acesso mais
fácil a essas espécies”,
O
trabalho desenvolvido no Ceará pode ser replicado em outros estados
brasileiros de clima Semiárido, pela similaridade das caracterizações das
espécies vegetais. O estudo registrou 22 espécies distintas de plantas
forrageiras e identificou nove espécies-chave que compõem 70% da
dieta dos ovinos, por causa do valor nutritivo e da palatabilidade pelos animais.
Foram elas: estilosantes, barba de bode, grama-seda e grama-touceira, ervanço,
cabeça branca, sabiá, capim-panasco e marmeleiro.
A
micro histologia fecal permite obter outras informações relevantes, como quais
partes das plantas foram consumidas e a avaliação do pastejo mesmo que outras
espécies animais estejam na área, já que a identificação é feita a partir das
fezes de cada espécie animal. Isso permite que os resultados obtidos a partir
do uso da técnica possam orientar o planejamento alimentar e as tomadas de
decisão pelos produtores rurais.
“Foi
possível identificar que os ovinos consomem nove espécies principais,
considerando os períodos chuvosos de transição chuvas-seca e seco. Assim, por
modelagem matemática, fica mais fácil predizer qual consumo de nutrientes pode
ocorrer em uma determinada área a partir da observação das espécies presentes.
É possível, inclusive, predizer o tipo de suplemento (em termos de
nutrientes adicionais) que deve ser fornecido aos animais em cada área de
pastejo na Caatinga”, ressalta o pesquisador.
Isso
permite aos produtores rurais identificar áreas de melhor oferta de nutrientes
na propriedade, utilizar as áreas conforme as categorias produtivas de cada
animal, realizar um planejamento alimentar bem subsidiado de informações de
ordem nutricional para garantir o atendimento das necessidades de seus rebanhos
e adquirir insumos alimentares suplementares.
Técnica
útil para outras espécies animais
A
técnica da micro histologia fecal usada para as pesquisas com nutrição de ovinos
já é adaptada da experiência com outras espécies animais, e tem amplo potencial
para a pecuária brasileira. A prática foi inicialmente implantada pelo
pesquisador Rodiney Mauro, atualmente na Embrapa Gado de Corte (MS), que
trabalhava com dieta de capivaras. Para esse trabalho foi montada uma coleção
de referência das principais forrageiras consumidas por essa espécie que serviu
de base para ampliar o seu uso para outros animais domésticos (bovinos, cavalos
e ovinos). Em relação aos animais silvestres já foi empregada na análise da
dieta de pecarídeos – como porco monteiro, cateto e queixada – tatu, ema,
veado-campeiro, capivara, cervo, felinos e iguana, entre outros.
Com
informações da Embrapa
Caprinos e Ovinos
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