Amir Muhammad Sa’id
Abdal-Rahman al-Mawla, também conhecido como Abu Ibrahim al-Hashimi al-Qurashi,
ex-líder do Estado Islâmico (EI). (Foto: rewardsforjustice.net)
O Estado Islâmico (EI)
divulgou uma mensagem no domingo (17) na qual promete vingança pela morte de
seu antigo líder, Abu
Ibrahim al-Hashimi al-Qurashi, que detonou
uma bomba que carregava junto ao corpo e cometeu suicídio durante uma
operação das forças especiais dos EUA,
em fevereiro. As informações são do site The Defense Post.
“Anunciamos,
confiando em Deus, uma campanha abençoada para nos vingarmos”, disse o grupo
extremista através do aplicativo de mensagens Telegram.
Na
manifestação, o porta-voz do grupo, Abu-Omar al-Muhajjir, também pediu aos
seguidores que voltem a empreender ataques na Europa, aproveitando a
“oportunidade disponível” aberta pelo fato de os “cruzados” estarem “lutando
entre si”, numa referência à guerra na Ucrânia.
Além
de al-Qurashi, o antigo porta-voz da facção
extremista, Abu Hamza Al-Quraishi, também morreu durante a ação militar
norte-americana de fevereiro. O grupo anunciou, pouco após as mortes, que Abu
Al-Hassan Al-hashemi Al-Quraishi é seu novo líder.
Por
que isso importa?
Nos
últimos anos, o EI
se enfraqueceu financeira e militarmente. Em 2017, o exército
iraquiano anunciou ter derrotado a organização no país, com a retomada de todos
os territórios que ela dominava desde 2014. O grupo, que chegou a controlar um
terço do Iraque, hoje mantém apenas células
adormecidas que lançam ataques esporádicos, quase sempre focados em
agentes do governo. Já as FDS (Forças Democráticas Sírias), uma milícia curda
apoiada pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pela
organização extremista na Síria.
Em
janeiro deste ano, o grupo sofreu mais um duro golpe quando o exército
norte-americano anunciou ter matado Amir Muhammad Sa’id Abdal-Rahman al-Mawla,
principal líder da facção. Durante uma operação antiterrorismo dos EUA na
Síria, ele explodiu uma bomba que carregava junto ao corpo, matando também
mulheres e crianças que o acompanhavam. O evento foi semelhante a outro, em
2019, que terminou com a morte do líder anterior da organização
extremista, Abu
Bakr al-Baghdadi.
De
acordo com um relatório do
Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) publicado em
fevereiro de 2022, as perdas territoriais e de pessoal transformaram o EI, que
antes controlava boas partes da Síria e
do Iraque,
em “uma insurgência principalmente rural, resistindo à pressão
antiterrorista sustentada pelas forças da região”.
A
pandemia também continua a ser um desafio, pois impede as “viagens
transfronteiriças, diminuindo as ameaças decorrentes de fluxos de combatentes
em zonas de conflito e viagens terroristas mais amplas em zonas de não
conflito”. Por outro lado, a estagnação do terrorismo em meio à onda de
Covid-19 aumenta as “oportunidades de recrutamento e radicalização online”,
criando a perspectiva de uma retomada futura das ações extremistas globais.
Outro
risco que o grupo oferece é a presença de milhares de ex-combatentes em prisões
e campos de deslocados em várias partes do mundo. Devolvê-los a seus países de
origem e processá-los judicialmente é um desafio para os Estados-Membros da
ONU, e os estabelecimentos que abrigam os extremistas são um potencial alvo de
ataques para o EI. Exatamente como ocorreu na prisão
de Ghwayran, na cidade de al-Hasakah, na Síria, invadida pelo grupo
com a meta de libertar seguidores.
“Devido
à capacidade severamente degradada, a sobrevivência futura do EI depende de sua
capacidade de reabastecer as fileiras por meio de tentativas mal concebidas,
como o ataque a Hasakah”, afirmou o major-general norte-americano John W. Brennan Jr., comandante da força de coalização
liderada pelos EUA para combater o EI. Segundo ele, a ação na prisão síria
gerou enorme prejuízo ao grupo terrorista, que “sentenciou à morte muitos dos
seus que participaram deste ataque”.
Atualmente,
o principal reduto do EI é o continente africano, onde consegue se manter
relevante graças ao recrutamento online e à ação de grupos
afiliados regionais. A expansão do grupo em muitas regiões da África desde
o início de 2021 é alarmante e pode marcar sua retomada de força. No Sudeste
Asiático, ao contrário, os países da região têm obtido sucesso significativo em
interromper o terrorismo de facções afiliadas.
No
Brasil
Casos
mostram que o Brasil é um porto seguro para
extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil
Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas
no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica,
Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.
Em
2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de
Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista,
coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.
Em
2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF
prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados
semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao
Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.
Mais
recentemente, em dezembro de 2021, três
cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de
sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o
financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras
importantes do grupo terrorista.
Para
o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin
(Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação
enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações
terroristas islâmicas.
“A
possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não
apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo
internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do
livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e
a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados
terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total
disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado
vigente no país”.
Fonte: A Referência
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