“Centenas
de civis foram mortos na cidade ucraniana de Kharkiv por bombardeios
russos indiscriminados usando munições cluster amplamente
proibidas e foguetes inerentemente imprecisos”. A denúncia foi feita na
segunda-feira (13) pela ONG Anistia Internacional, que publicou um relatório
feito com base em “extensiva investigação”. Até um playground teria
sido alvo, com “várias crianças” atingidas. As informações são do
site de noticias internacionais A Referência.
As munições cluster se
abrem no ar e despejam uma série de bombas no solo, atingindo uma área
consideravelmente maior, aumentando o dano e reduzindo as chances de as pessoas
se protegerem.
O
documento ressalta que a Rússia não
é parte da Convenção sobre Munições Cluster ou da Convenção sobre
Minas Antipessoal. Entretanto, o direito humanitário proíbe ataques
indiscriminados que resultem em morte ou ferimentos de civis, ou mesmo danos a
bens civis. Tais ações constituem crimes
de guerra.
“O
povo de Kharkiv enfrentou uma enxurrada implacável de ataques indiscriminados
nos últimos meses, que mataram e feriram centenas de civis”, disse Donatella
Rovera, conselheira sênior de resposta a crises da Anistia Internacional.
“Pessoas foram mortas em suas casas e nas ruas, em playgrounds e
cemitérios, enquanto faziam fila para receber ajuda humanitária ou compravam
comida e remédios”.
Números
divulgados pelo Departamento Médico da Administração Militar Regional de
Kharkiv falam em 606 civis mortos e 1.248 feridos na região desde
o começo da guerra, no dia 24 de fevereiro. A Anistia, por sua vez, diz que
investigou 41 ataques aéreos russos, com 62 mortos e ao menos 196 feridos ao
longo de apenas 14 dias, entre abril e maio.
Um
dos playgrounds citados pela Anistia fica na rua Myru e foi
bombardeado no dia 15 de abril. Ao menos nove civis
foram mortos, com 35 feridos, incluindo várias crianças.
“Houve
um som repentino de fogos de artifício em todos os lugares. Muitos deles, por
toda parte. Vi nuvens de fumaça preta onde ocorreram as explosões. Caímos no
chão e tentamos encontrar cobertura. O filho do nosso vizinho, um rapaz de 16
anos chamado Artem Shevchenko, foi morto no local”, conta a enfermeira Tetiana
Ahayeva, de 53 anos.
Outro
ataque relatado por testemunhas atingiu ucranianos que formavam fila
em busca de ajuda humanitária. Foram ao menos seis mortes e 15 pessoas feridas.
A investigação da Anistia encontrou partes de um foguete Uragan de 220 mm, que
carrega 30 submunições. Ao redor da área eles também encontraram fragmentos de
munições cluster e várias crateras.
Outro playground foi
atingido pelas bombas russas no dia 12 de março. Uma das vítimas foi Veronica
Cherevychko, de 30 anos, que perdeu a perna direita na explosão. “Eu estava
sentada neste banco quando a explosão aconteceu. Lembro-me de ouvir um assobio
pouco antes da explosão. Então acordei no hospital, sem uma perna. Minha perna
direita se foi”, conta ela.
Já
Olena Sorokina perdeu as duas pernas em outro bombardeio na mesma região, em 26
de abril. Três pessoas
foram mortas naquele dia e seis ficaram feridas. Ela conta que estava
sentada do lado de fora de seu prédio esperando a entrega de ajuda humanitária
quando ouviu o som de um projétil voando e correu para a entrada do edifício.
Acordou na ambulância, já sem uma perna. A outra foi amputada no hospital.
“Foguetes
não guiados, como Grads e Uragans, que têm sido usados rotineiramente pelas
forças russas, são inerentemente imprecisos, tornando-os indiscriminados quando
usados em áreas povoadas”, diz a Anistia.
Entretanto,
o relatório diz que Kiev também tem uma pequena parcela de responsabilidade.
“As forças ucranianas, por sua vez, frequentemente lançam ataques de bairros
residenciais, colocando em risco os civis nessas áreas. Tal prática viola o
direito internacional humanitário, mas não justifica de forma alguma os
repetidos ataques indiscriminados das forças russas”, afirma o documento.
O
massacre de Bucha
A
pressão global por punições à Rússia, às suas tropas e ao presidente Putin
aumentou bastante depois que os corpos
de dezenas de pessoas foram encontrados nas ruas de Bucha, quando as
tropas locais reconquistaram a cidade três dias após a retirada do exército
russo. As imagens dos mortos foram divulgadas
pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e
chocaram o mundo.
As
fotos mostram pessoas mortas com as mãos amarradas atrás do corpo, um indício
de execução. Outros corpos aparecem parcialmente enterrados, com algumas partes
à mostra. Há também muitos corpos em valas comuns. Nenhum dos mortos usava
uniforme militar, sugerindo que as vítimas são civis.
“O
massacre de Bucha prova que o ódio russo aos ucranianos está além de qualquer
coisa que a Europa tenha visto desde a Segunda Guerra Mundial”, disse o
ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, em sua conta
no Twitter.
Moscou,
por sua vez, nega as acusações. Através do aplicativo russo de mensagens Telegram,
o Ministério da Defesa russo disse que, “durante o tempo em que a cidade esteve
sob o controle das forças armadas russas, nenhum morador local sofreu qualquer
ação violenta”. O texto classifica as denúncias como “outra farsa, uma produção
encenada e provocação do regime de Kiev para a mídia ocidental, como foi o caso
em Mariupol
com a maternidade“.
Entretanto, imagens
de satélite da empresa especializada Maxar Technologies derrubam
o argumento da Rússia. O jornal The New York Times realizou uma investigação com base
nessas imagens e constatou que objetos de tamanho compatível com um corpo
humano aparecem na rua Yablonska entre 9 e 11 de março. Eles estão exatamente
nas mesmas posições em que foram descobertos os corpos quando da chegada das
tropas ucranianas, conforme vídeo feito por um residente da cidade em 1º de
abril.
Mais
recentemente, Kiev alegou que apenas em Mariupol, que tem sido o principal alvo
das tropas russas, foram encontrados ao menos 20 mil corpos de civis mortos. E acusa
os soldados russos de depositarem cerca de nove mil cadáveres em valas comuns
em Manhush, uma vila próxima à cidade portuária. Ao levar os corpos para outra
localidade, o objetivo das tropas de Moscou seria esconder as evidências de
crimes.
Vadym
Boychenko, prefeito de Mariupol, comparou a descoberta ao massacre de Babi Yar,
um fuzilamento em massa comandado nas proximidades de Kiev pelos nazistas em
1941, durante a Segunda Guerra Mundial. Os corpos de cerca de 33 mil pessoas,
essencialmente judeus, foram encontrados em valas comuns na ocasião.
“O
maior crime
de guerra do século 21 foi cometido em Mariupol. Este é o novo Babi
Yar. Então, Hitler matou judeus, ciganos e eslavos. Agora, Putin está
destruindo os ucranianos”, disse Boychenko. “Precisamos fazer tudo o que
pudermos para impedir o genocídio”.
Os
mortos de Putin
Desde
que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve
envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com
inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de
vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai
aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia.
Na
conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso,
ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro
do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a
invasão à Ucrânia que
colocou o mundo em alerta.
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