O ministro da Justiça, Anderson Torres, criticou nesta
terça-feira (23) a operação da PF (Polícia Federal) que mirou empresários
bolsonaristas e disse que o episódio "beira o totalitarismo".
A
PF cumpriu mandados de busca contra empresários que, em um grupo de mensagens
privadas, defenderam um golpe de Estado caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva (PT) vença nas eleições presidenciais de outubro.
"Não
podemos começar a achar normal a forma como as coisas vêm acontecendo no
Brasil. A polícia entrando na casa das pessoas, Justiça bloqueando suas contas
e quebrando seus sigilos bancários, por conta de elas estarem emitindo opiniões
pessoais em um grupo fechado de WhatsApp. Isso beira o totalitarismo",
disse à Folha de S.Paulo.
Além
das buscas, o ministro Alexandre de Moraes determinou o bloqueio de suas
respectivas redes sociais, quebras de sigilos bancários e telemáticos. Também
autorizou que os empresários sejam ouvidos pela PF.
"Quando
se fala em ameaça à democracia e aos princípios constitucionais no Brasil,
atitudes como essas, sim, devem ser levadas em consideração", afirmou
Torres.
"Vocês
já imaginaram se essa mesma lógica fosse usada para todos os que já ameaçaram
abertamente o presidente Bolsonaro? Quantas pessoas já não estariam
presas?"
O
presidente, seus aliados e familiares são alvos de inquéritos que estão sob a
relatoria de Moraes no STF e no TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
As
buscas realizadas contra empresários nesta terça tiveram como base um pedido da
PF, no âmbito do inquérito das milícias digitais, que mira uma suposta organização
criminosa responsável pela disseminação de fake news e ataque às instituições.
Entre
os alvos estão Luciano Hang, da Havan, José Isaac Peres, da rede de shopping
Multiplan, Ivan Wrobel, da Construtora W3, José Koury, do Barra World Shopping,
André Tissot, do Grupo Sierra, Meyer Nigri, da Tecnisa, Marco Aurélio Raymundo,
da Mormaii, e Afrânio Barreira, do Grupo Coco Bambu.
As
conversas entre os empresários foram reveladas pelo site Metrópoles.
A
PF alega que as buscas têm como objetivo entender a atuação do grupo de
empresários em uma possível tentativa de planejar e apoiar ações no sentido de
ruptura do Estado democrático Direito.
O
crime é previsto no artigo 359-L no Código Processo Penal. "Tentar, com
emprego de violência ou grave ameaça, abolir o Estado democrático de Direito,
impedindo ou restringindo o exercício dos poderes constitucionais", diz
trecho do artigo citado pela PF.
EMPRESÁRIOS
NEGARAM INTENÇÃO GOLPISTA
Após
a divulgação das mensagens que defendiam um golpe, Luciano Hang, dono da Havan,
confirmou à Folha que integra o grupo, mas disse que quase nunca se manifesta e
em momento algum falou sobre os Poderes.
"Vejo
que meu nome vende jornal e gera cliques. Me envolvem em toda polêmica
possível, mesmo eu não tendo nada a ver com a história", disse Hang à
Folha. "Sou pela democracia, liberdade, ordem e progresso."
Questionada
sobre as manifestações do fundador no grupo de empresários, a assessoria da
Tecnisa informou que a companhia "não fala em nome de Meyer Nigri" e
que ele "não é porta-voz da empresa".
"A
Tecnisa é uma empresa apartidária, que defende os valores democráticos e cujos
posicionamentos institucionais se restringem à sua atuação empresarial",
informou, por meio de nota.
Afrânio
Barreira, do grupo Coco Bambu, divulgou nota na qual afirma que nunca se
manifestou a favor de qualquer conduta que não seja institucional e
democrática. Acrescenta que ações que visem a romper com a democracia não
correspondem ao seu pensamento e posicionamento.
"A
democracia é a chave para construção de um Brasil melhor. Valorizo, e muito, a
oportunidade de conseguir votar e escolher os representantes de nosso povo
brasileiro, e todo cidadão deveria ter a consciência da importância deste
momento."
"Valorizo
e sempre defenderei um processo eleitoral honesto e justo", afirmou o
empresário, que acrescenta muitas vezes se manifestar com reações em emojis a
alguma mensagem, mas sem necessariamente estar endossando seu teor, ou ter lido
todo o seu conteúdo.
"Não
somos conspiradores nem a favor de nenhum golpe", disse o empresário José
Koury, por meio de nota encaminhada por sua equipe de comunicação.
Com informações da Folha Press
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