Conteúdo
investigado: Vídeo em que criadora de conteúdo afirma que, segundo
levantamento, Jair
Bolsonaro (PL) roubou R$ 400 bilhões dos cofres públicos brasileiros.
Onde
foi publicado: TikTok e Instagram.
Conclusão
do Comprova: É falso que o presidente Bolsonaro tenha roubado R$ 400 bilhões
dos cofres públicos. Uma criadora de conteúdo desinforma ao dizer que, “segundo
levantamento”, o chefe do Executivo teria roubado esse valor. A cifra a que ela
se refere foi mencionada por Henrique
Meirelles em uma entrevista à GloboNews em 24 de outubro,
quando ele avaliava o rombo orçamentário que será deixado pelo atual governo.
Falso, para o
Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu
significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma
falsidade.
Alcance
da publicação: O Comprova investiga conteúdos suspeitos com maior alcance nas
redes sociais. Até 14 de novembro, o vídeo tinha 1,5 milhão de visualizações no
TikTok, 114.900 curtidas e mais de 58.300 compartilhamentos.
O
que diz o responsável pela publicação: Entramos em contato com Viliane Estrela,
responsável pelo vídeo, por e-mail, mas ela não havia respondido até a
publicação desta verificação. Não foi possível contactá-la pelo TikTok, pois
essa rede social só permite troca de mensagens entre perfis que se seguem
mutuamente.
Como
verificamos: O 1º passo foi pesquisar no Google pelas palavras “Bolsonaro”, “roubou”
e “R$ 400 bilhões”. Não houve qualquer resultado relacionado ao roubo dessa
quantia e ao atual presidente do Brasil. A busca encontrou reportagens que
repercutiram a fala de Henrique Meirelles (em entrevista à GloboNews, em
24 de outubro), sobre um rombo desse montante, como as da Revista Fórum e do portal Brasil 247. Então, procuramos por “Henrique Meirelles”, “rombo”
e “R$ 400 bilhões”, e tivemos como resultado as publicações anteriores, bem
como uma reportagem do jornal Correio Braziliense sobre o assunto.
Também
verificamos o Twitter de Henrique Meirelles. E, por fim, entramos em contato
com a assessoria de imprensa da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas),
pedindo como fonte um economista para explicar os valores mencionados pelo
ex-presidente do Banco Central. O indicado foi o professor Marco Antônio Rocha,
do Instituto de Economia.
A
análise de Henrique Meirelles
Em
24 de outubro, o ex-presidente do Banco Central escreveu em sua conta no Twitter:
“Uma das primeiras missões que o próximo governante do país terá que enfrentar
em 2023 será avaliar o real tamanho do rombo orçamentário que o aguarda”.
Ele
explica na sequência seu raciocínio e, em um dos tweets, repete o que havia
falado na entrevista televisiva: “Na minha avaliação, esse rombo está muito
mais próximo de R$ 400 bilhões, como estimam entidades independentes, do que
dos R$ 150 bi que o atual governo está calculando”.
Alguns
dias depois, a declaração turbinou as postagens no Twitter com a hashtag “Jair
quebrou o Brasil”. O termo foi o mais mencionado em postagens feitas durante
toda a tarde de 4 de novembro na plataforma.
Desvendando
os R$ 400 bilhões
Professor
do Instituto de Economia da Unicamp, Marco Antônio Rocha explica que os valores
citados por Meirelles se referem a algumas projeções sobre “buracos” existentes
e despesas que não foram orçadas na Lei Orçamentária de 2023. E que não se
trata de uma cifra exata. Tudo depende do que se leva em consideração, logo, o
montante pode ir de R$ 150 bilhões, conforme estimativas do próprio governo,
até números bem altos, como os R$ 400 bilhões cravados pelo ex-presidente do
Banco Central.
“Isso
não é um número exato, depende do que você considera prioritário, em relação a
dotações orçamentárias que seriam necessárias, fundamentais para o Estado
funcionar. Mas também inclui políticas públicas, verbas de custeio, de
investimento e outras despesas que podem ser postergadas, lógico que com algum
prejuízo à população”, diz Rocha.
Segundo
ele, o tamanho desse cálculo depende muito do que se considera como buracos no
orçamento de 2023 deixados pelo governo Bolsonaro. “Se só o Auxílio Brasil,
verbas como a Farmácia Popular, verbas de políticas que são direitos, aí a
cifra é um pouco menor. Se inclui obras que serão paralisadas, recuperação de
verbas de custeio, entre outras, esse número pode até chegar a um valor
superior a R$ 400 bilhões”, afirma Marco Antônio Rocha.
Os
valores serão conhecidos com o trabalho da equipe de transição e o rombo
orçamentário deverá receber uma complementação que dependerá também da
negociação política feita pelo futuro governo. “Mesmo a cifra não chegando a R$
400 bilhões, pode-se dizer que os buracos no orçamento de 2023 deixados pelo
governo Bolsonaro foram bem altos, na casa de algumas centenas de bilhões”,
afirma o professor da Unicamp.
“Depende
do cálculo que se faz e da forma como se olha o problema, incluindo questões
que são promessas de campanha, eventualmente do futuro governo, que precisam de
complementação orçamentária também. Mas, não incluindo as futuras promessas de
campanha, a cifra já se aproxima do valor de R$ 400 bilhões, de algumas
centenas de bilhões”, diz Rocha.
“Rombo”
nas contas públicas
“O
governo não tem um cofre em que ele saca dinheiro e, de repente, o dinheiro
some. Todas as despesas têm que ser orçadas e negociadas com o Congresso.
Quando Bolsonaro joga uma lei orçamentária que é muito aquém da necessidade,
ele empurra a negociação para o outro governo. E o outro governo terá que
negociar esse espaço orçamentário”, explica o docente do Instituto de Economia
da Unicamp, Marco Antônio Rocha. “O tamanho do rombo depende, agora, de quanto
a gestão Lula está disposta a negociar em relação a esse espaço orçamentário:
R$ 150 bilhões, ou, incluindo todas essas questões, uma cifra bem alta”,
acrescenta.
“Isso
significa que o que o novo governo vai tirar agora em termos de negociação
política, precisará retornar ano que vem, por exemplo, em forma de crédito
extraordinário e outras formas de negociar a complementação orçamentária”,
destaca o economista da Unicamp. “Tudo depende de como se olha a política
envolvida nesse acordo. Há uma dimensão política muito grande nesse processo e
de como se interpreta a ideia do rombo e o tamanho dele”, lembra Marco Antônio
Rocha.
Isso
sem perder de vista que dentro do orçamento já estão comprometidas muitas
despesas relacionadas ao custeio de instituições públicas, como universidades,
o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) e o Ibama
(Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis). E
tudo isso requer recomposição. “Se começar a colocar todas as questões, tudo
que foi desmontado em termos orçamentários pelo governo Bolsonaro, se chega a
uma cifra bem alta. Óbvio que o governo não precisa negociar isso tudo numa
tacada só, mas é isso que define se o valor é R$ 200 bilhões, R$ 400 bilhões ou
até uma cifra maior”, afirma o professor.
Por que investigamos: O Comprova checa conteúdos suspeitos que viralizaram nas redes sociais sobre a pandemia de Covid-19, políticas públicas do governo federal e eleições presidenciais. Nesta verificação, o vídeo verificado induz quem o acessa a um entendimento de que o presidente Jair Bolsonaro roubou R$ 400 bilhões dos cofres públicos do Brasil. Material como este engana a população e colabora para o crescimento da desinformação.
O
QUE É O COMPROVA?
O Projeto Comprova reúne
jornalistas de diferentes veículos de comunicação brasileiros para descobrir e
investigar informações enganosas, inventadas e deliberadamente falsas sobre
políticas públicas compartilhadas nas redes sociais ou por aplicativos de
mensagens. O Comprova é uma iniciativa sem fins lucrativos.
Fonte: Poder 360
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