Por: Taciano Medrado
Como tudo nesse pais muda rapidamente, com a mídia jornalística também não é diferente. Depois de passar o tempo todo batendo em Bolsonaro e durante a campanha escancaradamente demonstrando apoio ao Lulapetista “nine fingers, a exemplo da Rede Globo, Folha de São Paulo, o jornal Estadão publica na coluna um editorial desse sábado (17) criticando a postura do “ainda não presidente”, com o título “IRRESPONSABILIDADE EM NOME DOS POBRES”. Confira abaixo a transcrição ipsis litteris do texto:
Lula nunca desce do palanque. Ao discursar no Natal dos
Catadores em São Paulo, não foi diferente. Além de chavões novos, como um
governo com “um olhar humanista com o povo humilde”, poderia ter reeditado os
velhos, como “incluir o pobre no orçamento”, “tirar milhões da miséria” ou até,
por que não, o “churrasquinho com picanha”. Quem se oporia a essas promessas?
Mais uma vez, porém, o presidente eleito antagonizou justiça social e
responsabilidade fiscal. “A gente não cuida do pobre se ficar vendo estatística.
Se ficar olhando para o orçamento, se ficar olhando para a política fiscal do
governo, sempre haverá uma prioridade acima dos pobres.”
Ora, presidente, é precisamente o contrário. Para cuidar dos pobres, ou,
melhor, tirá-los de vez da pobreza, é essencial olhar para o orçamento e a
política fiscal. A razão é óbvia. Para fazer políticas sociais, sobretudo a
mais eficaz e duradoura delas, a geração de empregos, é preciso ter dinheiro
para distribuir e investir.
Lula deveria saber que a irresponsabilidade fiscal não é a solução, mas
a raiz de todos os males. Afinal, foi ela que mergulhou o País na mais profunda
recessão de sua história, dizimando empregos e recolocando o Brasil no Mapa da
Fome. De fato, ele sabe. Tão bem que durante a campanha fez o diabo para
esconder aquela que foi a responsável pelo descalabro das contas públicas, a
sua criatura, Dilma Rousseff, a qual, por sua vez, fez o diabo para maquiar
esse descalabro, nas chamadas “pedaladas fiscais”, que levaram ao seu
impeachment. Mesmo eleito, Lula insiste em novas pedaladas eleitorais. O que
eles sabem o povo brasileiro não esqueceu. Mas não custa lembrar.
Em seu primeiro mandato, Lula foi brindado com uma bonança perfeita: a
herança bendita de FHC (o controle da inflação com o Plano Real, cimentado pelo
tripé macroeconômico – meta para a inflação, câmbio flutuante e
responsabilidade fiscal) – combinada a um superciclo das commodities. Nesse céu
de brigadeiro, o governo ampliou programas assistenciais, impulsionou o
consumo, ampliou gastos com os servidores e empregou bancos públicos para
anabolizar empresas (os “campeões nacionais”), ao mesmo tempo que negligenciou
as condições para um crescimento sustentável, como infraestrutura,
produtividade e educação. Findo o ciclo, o PT dobrou a aposta: mais gastos, sem
disciplina. O resto é história.
Segundo o FMI, no governo FHC e no governo Bolsonaro o crescimento da
economia brasileira ficou cerca de 1 ponto porcentual ao ano abaixo da média
dos países emergentes. Nos governos do PT ficou quase 2 pontos porcentuais
abaixo, ou seja, um desempenho ainda mais medíocre do que a já medíocre média
brasileira. Até agora, a única proposta econômica de Lula é um grande salto
para trás: redobrar a aposta na “Nova Matriz Econômica”.
Sem equilíbrio entre receitas e despesas, o crédito público se esvai, a
moeda se desvaloriza, a inflação sobe, os juros também, o consumo cai, a
produção também e, finalmente, os empregos evaporam. Todo mundo empobrece, os
pobres mais que os ricos, e falta dinheiro ao governo para ajudá-los. Por
diversos que sejam os ingredientes das políticas econômicas populistas, a
receita é sempre a mesma: vender uma satisfação instantânea e passageira
sacrificando uma prosperidade estável e contínua. O que os demagogos dão com
uma mão hoje, retiram em dobro com a outra amanhã.
Não há quem não se sensibilize com a miséria que se alastra a olhos
vistos em um dos países mais desiguais do mundo. A população espera por
programas sociais robustos e o contribuinte paga feliz por eles. Mas esses
programas precisam ser sustentáveis. E essa sustentação depende de contas
públicas equilibradas e de mais produtividade no mercado de trabalho. Mas, até agora,
Lula e sua equipe não propuseram nenhuma política substancial nem em um sentido
nem em outro. Gasto é “vida”, como dizia Dilma, mas só se for bem empregado,
com recursos que existem, para gerar novos recursos. Senão, é miséria.
Responsabilidade social e responsabilidade fiscal não são, como sugere
Lula, como água e óleo, mas só duas faces da mesma moeda.(Estadão)
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