A
Bolsa de Valores brasileira operava em acentuada queda, enquanto o dólar
registrava forte alta frente ao real nesta terça-feira (27), assim como os
juros futuros também subiam. Os indicadores demonstravam a continuidade de um
movimento de aversão aos investimentos de risco iniciado na véspera, quando a
sessão foi marcada pela expectativa de avanço da inflação no próximo ano após a
divulgação do último relatório Focus do Banco Central.
A
composição do governo do presidente diplomado Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
está entre os pontos que recebem atenção de investidores nesta terça, sobretudo
após a confirmação de que a senadora Simone Tebet (MDB-MS) decidiu aceitar
assumir o Ministério do Planejamento e Orçamento, mas sem a possibilidade de
que a pasta abrigasse também bancos públicos, como havia sido inicialmente
cogitado.
No
noticiário sobre o exterior, a expectativa do fim da quarentena da Covid para
viajantes que chegarem à China a partir da segunda semana de janeiro favorece
ganhos no setor de matérias-primas.
Às
11h15, o dólar à vista subia 1,38%, cotado a R$ 5,28 na venda. Na segunda-feira
(26), a moeda americana fechou com alta de 0,81%.
No
mercado de ações nesta terça, o índice parâmetro da Bolsa de Valores brasileira
caía 0,78%, aos 107.888 pontos. Na véspera, o Ibovespa recuou 0,87%.
Charo
Alves, especialista da Valor Investimentos, avalia que, após uma abertura em
leve alta impulsionada pelas notícias sobre a reabertura da China, a política
doméstica entrou no foco dos investidores porque houve a quebra da expectativa
de que os bancos públicos poderiam ficar sob a influência de Tebet, cuja visão
da economia é considerada mais próxima do mercado.
"É
difícil afirmar que esse seja o único fator, mas acredito que isso possa ter
contribuído com essa virada de chave no mercado", diz.
Alves
também destacou que o potencial aquecimento da economia chinesa com a queda de
restrições contra a Covid, apesar de positivo para o setor de commodities da
Bolsa, tende a provocar temor quanto ao avanço da inflação global, afetando
negativamente empresas mais sensíveis às altas dos preços ao consumidor e ao
encarecimento do crédito.
No
mercado de juros futuros, os contratos com vencimentos para os próximos
apresentavam altas generalizadas. A taxa DI (Depósito Interbancário) para 2025
passava de 12,95% para 13,02%, enquanto a de 2027 avançava de 12,91% para
12,98%. Negociada apenas entre instituições financeiras, a taxa de juros DI
serve de referência para esse mercado.
Na
segunda-feira, câmbio e Bolsa foram pressionados pelo aumento das expectativas
para altas da inflação e dos juros, em uma sessão também afetada pelo baixo
volume de negociações porque os mercados dos Estados Unidos e da Europa
permaneceram fechados devido ao feriado estendido de Natal.
No
mercado de juros futuros, a taxa DI, que reflete os empréstimos negociados
entre instituições financeiras e serve de referência para o setor de crédito,
apresentou elevações para os contratos com vencimentos nos prazos curtos e
médios.
Segundo
analistas, a razão para essa alta foi o relatório Focus do Banco Central,
divulgado nesta segunda (26). A pesquisa apontou que o mercado elevou sua
projeção para a taxa básica de juros (Selic) em 2023, prevendo que ela fechará
o ano em 12%, superando os 11,75% previstos há uma semana.
Há
expectativa de que o Banco Central terá menos espaço para reduzir o aperto
monetário após fechar este ano com a taxa em 13,75%.
O
boletim também indicou uma elevação marginal das projeções para a inflação no
ano que vem, para 5,23%. Antes, era de 5,17%. O teto da meta para 2023 é de
4,75%. A projeção para os preços administrados no período subiu de 6,23% para
6,53%. Para 2024, a expectativa para o IPCA aumentou de 3,50% para 3,60%.
Étore
Sanchez e André Coelho, da Ativa Investimentos, avaliaram que o último Focus do
ano, após a PEC (proposta de emenda à Constituição) da Gastança ter sido
aprovada, registra uma "piora significativa da conjuntura".
Elcio
Cardozo, sócio da Matriz Capital, reforçou que a divulgação do boletim Focus
trouxe preocupações aos investidores ao projetar para 2023 uma inflação
levemente superior à do último boletim, o que colaborou para a alta dos juros
futuros.
Cardozo
disse, porém, que o bom desempenho do setor da Bolsa ligado à exportação de
minerais metálicos evitou uma queda maior do Ibovespa.
Entre
as notícias que podem favorecer a valorização de matérias-primas importantes
para exportadores com presença na Bolsa do Brasil, como é o caso do minério de
ferro explorado pela Vale, o destaque é o comunicado desta segunda de autoridades
de saúde da China.
A
agência Reuters reportou que Pequim deixará de exigir quarentena para viajantes
que chegarem ao país a partir de 8 de janeiro.
Além
disso, o país havia anunciado mais cedo que pretende adotar regras menos
rigorosas para o tratamento de pacientes, o que, segundo reportou o The Wall
Street Journal, é um claro sinal de que Pequim realmente acabará com a
quarentena.
Sem
negociações nesta segunda, o preço do barril do petróleo Brent subiu 2,94% na
última sexta-feira (23), cotado a US$ 83,92 (R$ 435,25). O Brent serve de
referência para os preços praticados por empresas do setor no Brasil, como a
Petrobras.
A
agência de notícias Bloomberg atribuiu a alta da matéria-prima a ameaças da
Rússia de que poderá cortar sua produção em pleno inverno no hemisfério Norte.
O
corte seria uma resposta do governo de Vladimir Putin à limitação de preços à
mercadoria russa imposta pelo Ocidente como uma forma de sanção pela Guerra da
Ucrânia.
Fonte: Folha de S.,Paulo
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