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Por: Thiago Resende , Victoria Azevedo e Julia Chaib /Folha de São Paulo
O
Congresso começou a destravar a pauta de interesse do governo e tem dado
demonstrações mais claras das dificuldades do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) em consolidar apoio político no Legislativo.
O
Palácio do Planalto acumulou, principalmente neste mês, uma série de derrotas e
percalços na Câmara e no Senado.
A
lista inclui convites e convocações de comissões para expor ministros de Lula e
uma margem estreita de votos para conseguir aprovar celeridade ao projeto de
recontratação no Mais Médicos, além da disputa pela relatoria da medida que
recria o Minha Casa, Minha Vida.
Governistas
citam ainda frustração com o PDT e o PSB por não formarem um bloco na Câmara
com o PT, além da articulação, mesmo entre aliados, contra os decretos do
presidente que mudam as regras para o setor de saneamento.
Integrantes
do Palácio do Planalto e pessoas próximas de Lula afirmam que os episódios
recentes demonstram falhas da articulação política e no controle da pauta, e
não necessariamente falta de apoio ao governo. A avaliação é que, se os aliados
fossem mobilizados devidamente, os resultados seriam mais alinhados aos
interesses do Executivo.
O
Planalto ainda não passou por um grande teste para saber qual o tamanho da base
no Legislativo. Mas os sinais, até o momento, têm sido negativos para o petista
--o que tem gerado preocupação entre parlamentares e integrantes do núcleo
político palaciano.
Eles
temem que, caso essa situação não seja ajustada, venha a prejudicar a votação
de matérias consideradas prioritárias para o governo, como o novo arcabouço
fiscal e a reforma tributária.
Essa
mesma avaliação foi dada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em
entrevista à GloboNews na quinta-feira (13). Ele afirmou que o Executivo
precisa "melhorar sua engrenagem política" e "fazer com que as
coisas andem, para que a sua base esteja azeitada" no momento em que forem
votadas matérias econômicas.
Entre
os percalços enfrentados pelo governo Lula no Congresso está a votação da
urgência para o projeto sobre o Mais Médicos, apresentado pelo deputado Odair
Cunha (PT-MG), na última terça-feira (11).
Eram
necessários 257 votos para aprovar a celeridade à proposta. O governo conseguiu
264 --uma vantagem de apenas 7 votos. O placar preocupou aliados de Lula.
Uma
das explicações para esse resultado foi a participação na votação de apenas 409
dos 513 deputados, apesar do interesse do Planalto na pauta. Além disso, houve
144 votos contrários à urgência, inclusive de integrantes de PSD, MDB e União
Brasil --partidos com três ministérios cada um.
Em
um revés, o governo teve que intervir numa disputa pela relatoria da MP (medida
provisória) que recria o Minha Casa, Minha Vida. O líder do PSOL, Guilherme
Boulos (SP), aliado do governo, chegou a ser designado relator do texto, mas
precisou ceder espaço para o deputado Fernando Marangoni (União Brasil-SP).
O
parlamentar, que se posiciona de forma independente, já foi secretário de
Habitação de Santo André (SP) e, ao tomar posse como deputado, se tornou
coordenador da Frente Parlamentar em Defesa do Saneamento Básico. Esse grupo
tem discutido propostas para derrubar parte de decretos de Lula, assinados em
abril, e que tratam de regras para o setor.
Um
dos projetos para anular parte dos atos de Lula foi apresentado pelo deputado
Fernando Monteiro (PP-PE), que é aliado do governo e também de Lira.
A
articulação do Planalto também tem enfrentado dificuldade em decisões de
comissões da Câmara e do Senado. Diversos colegiados têm aprovado convites e convocação
(comparecimento obrigatório) para que ministros compareçam ao Congresso para
dar explicações ou falar sobre prioridades das pastas.
Embora
os casos sejam vistos como possível fonte de desgaste, por expor ministros a
questionamentos da oposição, aliados de Lula minimizam os episódios, dizendo
que o governo conseguiu transformar vários pedidos de convocação em convites.
Nos
últimos dias, a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara
aprovou o convite para sete ministros, inclusive Fernando Haddad (Fazenda). O
ministro da Justiça, Flávio Dino, já foi a duas comissões na Câmara e acabou
sendo convocado para comparecer em maio a uma comissão do Senado.
Além
disso, em votações na Câmara o governo acumulou pequenas derrotas nas últimas
semanas. A primeira delas foi no fim de março, com a MP que afrouxou as
proteções à mata atlântica.
O
líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), buscou minimizar, afirmando
que "não houve nenhuma votação de derrota do governo". "Coisas
periféricas que não interferem em nada."
Outro
exemplo é a MP sobre o Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de
Eventos), editada no governo Jair Bolsonaro (PL), que não foi levada para
votação por falta de acordos entre governo e Legislativo.
Nesse
caso, a ameaça de derrota do governo em plenário poderia tomar outras
proporções, uma vez que a MP é relatada pelo próprio líder governista.
Na
terça (11), durante sessão da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da
Câmara, parlamentares da oposição, liderados por Deltan Dallagnol (Podemos-PR),
conseguiram barrar convite do PT para o advogado Rodrigo Tacla Duran discursar
no colegiado.
Tacla
Duran, que trabalhou para a empreiteira Odebrecht e é réu da Operação Lava
Jato, fez acusações de extorsão contra o senador Sergio Moro (União Brasil-PR)
e Deltan.
A
formação da comissão é tida como exemplo de deslize da articulação política do
governo na Câmara. O colegiado, que tem o poder de convocar ministros de todas
as áreas do Executivo, tem apenas 8 parlamentares de partidos considerados da
base do petista entre as 20 cadeiras titulares e é presidido pela bolsonarista
Bia Kicis (PL-DF).
Além
disso, pessoas próximas a Lula citam ainda a frustração com o PDT e PSB por não
formarem um bloco na Câmara com o PT e terem se aliado a um grupo de 173
deputados alinhados a Lira.
Oficializado
na quarta (12), o bloco é formado por PP, União Brasil, PSDB-Cidadania,
Solidariedade, Patriota e Avante, além de PDT e PSB. A presidente do PT, Gleisi
Hoffmann (PR), chegou a falar com os dirigentes de ambos os partidos, mas não
conseguiu dissuadi-los de entrar no grupo.
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