A Associação de Jornalismo Digital (Ajor) publicou este ano 2023, um posicionamento em favor do Projeto de Lei (PL) Nº 2630/2020, política pública que busca apoiar o Jornalismo Digital no País.
Em
um dos artigos, o Projeto de Lei prevê a remuneração do Jornalismo por parte
das plataformas digitais. Em seu posicionamento, a Ajor propõe também a
discussão de um fundo setorial de fomento ao campo.
“Não
existe democracia sem Jornalismo. A desinformação tem o poder de minar o tecido
social e levar a cenas de violência como as vistas no dia 8 de janeiro deste
ano. Para que atos como aqueles, amplamente rejeitados pela população, não se
repitam, é urgente fortalecer e ampliar a produção de informação de qualidade e
o jornalismo de interesse público”, declara a Ajor. Reportagem é de Alice
Sales Agencia econordeste.
De
acordo com a Ajor, um jornalismo plural e diverso, que dê conta das diferentes
realidades do País, é essencial para garantir cidadania plena aos brasileiros.
“A tramitação do PL Nº 2630/2020, atualmente em discussão na Câmara dos
Deputados, é uma oportunidade ímpar para tratar esse assunto com a profundidade
que merece”, ressalta nota da Associação.
Natália
Viana, presidente da Ajor, destaca que, no Brasil, ainda não há nenhuma
política de fomento ao Jornalismo Digital ou ao jornalismo no geral. E que isso
se deve ao fato de que o debate acerca da democracia dos meios de comunicação
nunca ter avançado no País. No entanto, ela detalha que hoje em há uma
consciência de que apoiar o Jornalismo significa dar um passo essencial.
“A
gente viveu um governo que ameaçava a democracia cotidianamente e o Jornalismo
tem um papel fundamental em combater isso. Todos os jornalismos, o
independente, o comunitário, o tradicional, o jornalismo de meios
massivos e também os de meios locais. Essa é uma discussão que está acontecendo
no mundo inteiro”, reforça.
A
presidente ressalta, ainda, a importância dessas mídias no combate às notícias
falsas (fake news) e fala da necessidade da criação do fundo setorial para o
jornalismo digital: “Nos últimos anos ficou muito claro que redes de fake news
podem causar uma ameaça muito séria ao tecido social, então o mundo inteiro
está começando a pensar em políticas públicas que incluem fundos. No Brasil já
existe um fundo setorial para o audiovisual e a gente vê que já ampliou e
melhorou muito na nossa produção audiovisual. Se alguém quer, por exemplo,
fundar um restaurante, uma loja, uma escola, terá a quem recorrer, haverá
entidades que dão treinamento, linha de crédito, e no âmbito do jornalismo nada
disso existe”.
O
posicionamento da Associação também reforça que na última década floresceram
empreendimentos de jornalismo digital, sejam locais, comunitários,
investigativos, generalistas ou especialistas, além de newsletters, podcasts e
canais de vídeo que vêm tendo enorme impacto sobre a sociedade. Além disso,
relembra a importância das agências de checagem no combate às fake news e o
impacto de projetos de jornalismo investigativo como a Vaza Jato.
Enquanto
a pandemia de Covid-19 matava milhares de brasileiros por dia, essas novas
mídias traziam informações sobre serviços de saúde. Quando a fome decorrente da
crise sanitária ameaçava os mais vulneráveis, os veículos comunitários e de
favelas promoviam campanhas de arrecadação de alimentos. O bom jornalismo
salvou vidas.
A
sustentabilidade desses empreendimentos, no entanto, esbarra na mesma internet
que os tornou possíveis: a receita publicitária, que sempre foi uma das
principais fontes de financiamento da imprensa, está sendo capturada por
plataformas digitais. Hoje, Alphabet e Meta, também conhecidas como Google e
Facebook, formam um duopólio incontestável nesse mercado. Perde a imprensa
tradicional, perde a nova mídia e, sobretudo, perde a sociedade.
O
PL Nº 2630/2020 representa um avanço histórico ao propor regular a atuação de
plataformas digitais e, ao mesmo tempo, criar um mecanismo de financiamento ao
jornalismo digital. É preciso que essa remuneração à imprensa seja tratada como
política pública e esteja sujeita a princípios de boa governança.
A
negociação direta entre empresas de mídia e plataformas digitais, sem
transparência sobre valores e critérios, concentra poder nas próprias big techs
e termina por beneficiar grandes conglomerados de comunicação. Veículos médios
e pequenos muitas vezes não conseguem sentar à mesa; e, quando conseguem, têm
um poder de barganha muito menor e negociam no escuro.
Caso
o caminho seja esse, os resultados no Brasil serão semelhantes ao que ocorre na
Austrália, país que implementou legislação semelhante em 2021. Lá,
grandes empresas de mídia têm sido beneficiadas com contratos vultosos,
enquanto pequenas e médias iniciativas muitas vezes não conseguiram sequer
começar a negociar.
Daí
a relevância em defender a criação de uma política pública transparente e com
governança adequada de apoio ao desenvolvimento do jornalismo a partir de
receitas provenientes de taxação das plataformas digitais. Um fundo setorial é
necessário para fomentar o jornalismo de interesse público, por meio de
mecanismos transparentes de distribuição de recursos e com incentivo às pequenas
e médias iniciativas.
Áustria,
Itália, Holanda, Noruega e Canadá têm encontrado soluções nesse sentido, por
entenderem a necessidade de fomentar o Jornalismo Digital como importante
mecanismo de combate à desinformação. Os modelos são diversos, mas têm em comum
a defesa da expansão do Jornalismo, o pluralismo e a regionalização da
cobertura jornalística.
DIVERSIDADE
No
Brasil, essas novas mídias têm permitido uma significativa pluralidade de vozes
e pontos de vista na cobertura jornalística que garante o acesso à informação a
populações de territórios esquecidos pela imprensa tradicional. Segundo o Atlas
da Notícia, metade dos municípios brasileiros, onde vivem 30 milhões de
pessoas, não têm cobertura local. São mais de 13% dos cidadãos vivendo em verdadeiros
desertos de notícias.
As
mais de cem associadas da Ajor, Associação de Jornalismo Digital, de todas as
regiões do País, fortalecem a cidadania e a democracia brasileiras e contribuem
para superar a histórica concentração da mídia num país diverso e continental.
Suas particularidades reforçam a necessidade de uma política pública efetiva de
garantia à sustentabilidade do Jornalismo Digital.
Para
garantir a transparência e uma gestão atenta às necessidades de desenvolvimento
do campo, é necessário implementar um mecanismo de governança intersetorial,
com a participação de governo, empresas jornalísticas e sociedade civil
organizada, com diretrizes claras que priorizem o jornalismo de interesse
público, a pluralidade e o fomento à inovação.
É
essa oportunidade que o PL Nº 2630/2020 não pode perder. O Brasil tem todas as
condições de dar ao mundo mais esse exemplo de defesa da democracia. É preciso
que as plataformas financiem o jornalismo de interesse público, de maneira
plural, transparente e com governança social.
Fonte: Agencia Nordeste
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