A
área de Desertificação e Agroecologia do Instituto Nacional do Semiárido
(INSA/MCTI), através do Observatório da Caatinga, continua realizando esforços
de execução e finalização do projeto “Mapeamento, análises e identificação de
agroecossistemas resilientes às mudanças climáticas e desertificação no
Semiárido brasileiro”, uma iniciativa de pesquisa nascida a partir da
necessidade de reconhecimento da rica memória biocultural sertaneja e sua
relevante contribuição histórica para a alimentação brasileira.
Desta
forma, pesquisadores de campo contratados pelo Programa Capacitação
Institucional (PCI) buscaram elucidar, de forma detalhada e criteriosa, as
características e mecanismos ligados a manejos específicos dos sistemas
produtivos, que tenham permitido suportar e até mesmo recuperarem-se após
evento de perturbação.
As
equipes também identificam as estratégias de organização social utilizadas
pelas famílias agricultoras, para conviver em situações difíceis impostas pelos
eventos ambientais extremos, assim como sistematizar as estratégias que têm
utilizado para permanecer na comunidade.
Para
a coleta de dados e informações, foi adotado o Método de Análises Ecológica e
Econômica - Lume (2017). O método foi estruturado em etapas que se integram de
maneira recursiva em um processo de contínuo levantamento, confirmação e
refinamento das informações, dos dados e das análises.
O
levantamento de informações e dados foi realizado por meio de entrevista
semiestruturada conduzida junto às famílias participantes. As entrevistas foram
realizadas em duas etapas realizadas em, no mínimo, duas visitas a campo.
Na primeira visita, foram levantadas informações de natureza qualitativa
sobre a estrutura e o funcionamento do agroecossistema. As informações
levantadas em campo nesta primeira etapa da entrevista foram ordenadas e
analisadas com o auxílio de três instrumentos: a) uma linha do tempo para
representação da trajetória do agroecossistema; b) diagramas de fluxos para a
representação do funcionamento econômico-ecológico do agroecossistema
(modelização); c) uma planilha para análise de qualidades sistêmicas do
agroecossistema. Na segunda parte da entrevista, foram realizadas visitas
contínuas de campo.
Atualmente
os pesquisadores estão tratando os dados e informações levantados. Desse modo,
apresentaram alguns resultados parciais. Com base nas informações levantadas,
foi possível caracterizar os sistemas agrícolas familiares de base
agroecológica em três distintos grupos.
Os
sistemas agrícolas do grupo 1 se caracterizaram por apresentarem maiores
índices de rentabilidade monetária (IRM), reciprocidade Ecológica (IRE),
riqueza de espécies cultivadas (REC), indicando aumento dos recursos
produzidos, como biomassa vegetal e animal dentro do sistema, se tornam
cíclicos, aumentando sua sustentabilidade e resiliências. Os sistemas do grupo
2 caracterizam-se por apresentar valores médios de IRM, IRE e riqueza de
espécies cultivadas, enquanto os sistemas do grupo 3 apresentaram valores de
menor riqueza de espécies cultivadas e valores médios de IRE.
Percebe-se
então que, os sistemas agrícolas familiares mais biodiversificados (grupo 1 e
2), com práticas agroecológicas impactam positivamente no índice de
reciprocidade ecológica, resultando em processos de intensificação da produção
baseados na valorização dos recursos locais, no emprego de tecnologias e
práticas de manejo que diversificam os sistemas produtivos com atividades que
se complementam e permitem a formação de estoques (água, forragem, alimentos e
sementes) e uma maior circulação de nutrientes dentro do agroecossistema.
Por
outra parte, devido aos agroecossistemas em estudo não ocorrerem num vazio
social, mas sim como produto de um processo co-evolutivo de intercâmbio de
matéria e energia entre o núcleo social (famílias) de gestão do agroecossistema
e a natureza, a resiliência ecológica às mudanças climáticas e desertificação
destes sistemas vincula-se à resiliência social, ou seja, a capacidade das
famílias de melhorar sua infraestrutura ecológica-social frente aos impactos
externos. Assim, em nossas análises realizadas até o momento foi observado que
nos agroecossistemas familiares com mais transformações estruturais,
agroecológicas, sociais em combinação com o fortalecimento de mecanismos de
reciprocidade comunitária e fortalecidos pela implementação de políticas
públicas aumenta a resiliência climática.
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