WASHINGTON,
EUA (FOLHAPRESS) - A postura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre
a Guerra da Ucrânia é uma "repetição automática da propaganda russa e
chinesa" e "profundamente problemática", disse nesta
segunda-feira (17) John Kirby, coordenador de comunicação estratégica do
Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.
"É
profundamente problemático como o Brasil abordou essa questão de forma
substancial e retórica, sugerindo que os Estados Unidos e a Europa de alguma
forma não estão interessados na paz ou que compartilhamos a responsabilidade
pela guerra", afirmou ele em conversa com jornalistas. "Francamente,
neste caso, o Brasil está repetindo a propaganda da Rússia sem olhar para os
fatos", disse.
Neste
domingo (16), Lula afirmou que os EUA e a Europa prolongam a guerra. "O
presidente Putin não toma a iniciativa de parar. Zelenski não toma a iniciativa
de parar. A Europa e os Estados Unidos continuam contribuindo para a
continuação desta guerra", disse.
Na
semana anterior, o brasileiro já havia dito que a Ucrânia poderia ceder a
Crimeia em nome da paz. A fala também foi condenada por Kirby.
"Os
comentários mais recentes do Brasil de que a Ucrânia deveria considerar ceder
formalmente a Crimeia como uma concessão pela paz são simplesmente equivocados,
especialmente para um país como o Brasil que votou para defender os princípios
de soberania e integridade territorial na Assembleia-Geral da ONU",
afirmou o americano.
O
chanceler da Rússia, Serguei Lavrov, criticado por lideranças das potências
ocidentais por ser um dos maiores defensores da invasão ao país vizinho,
desembarcou no Brasil nesta segunda, no começo de um giro pela América Latina
que incluirá Venezuela, Nicarágua e Cuba.
Questionado,
Kirby afirmou que espera que, nas agendas pelo continente, "os líderes
desses países [que recebem o russo] pressionem o ministro das Relações
Exteriores [Lavrov] a parar de bombardear cidades, hospitais e escolas
ucranianas."
Ele
enfatizou que os países são soberanos para receberem quem quiserem, mas disse
esperar que "líderes soberanos encontrem tempo em suas agendas lotadas
para se encontrar com autoridades ucranianas".
Na
visita à China, Lula fez uma série de críticas aos Estados Unidos, questionou a
predominância do dólar no comércio internacional e insinuou que o país
pressiona o Brasil a boicotar os chineses, além dos comentários sobre a guerra.
Lula também visitou uma fábrica da Huawei, gigante das telecomunicações que é alvo
de sanções dos EUA.
As
declarações irritaram o governo americano, que, conforme mostrou reportagem da
Folha de S.Paulo, alegam que os brasileiros não só não têm prezado pelo
equilíbrio em seus posicionamentos como teriam adotado uma clara oposição a Washington.
O
porta-voz para Assuntos Externos da União Europeia, Peter Stano, também rebateu
as falas do presidente brasileiro sobre a guerra. Segundo ele, não é verdade
que os EUA e os países da UE ajudam a prolongar o conflito, mas, sim, ajudam
Kiev em sua legítima defesa.
"O
fato número um é que a Rússia e apenas a Rússia é responsável pela agressão
ilegítima e não provocada contra a Ucrânia. Então não há dúvidas sobre quem é o
agressor e quem é a vítima", disse Stano. "A Rússia está matando
civis e destruindo a infraestrutura civil ucraniana. A Rússia está sequestrando
crianças ucranianas. A Rússia está roubando propriedades e territórios
ucranianos"
Na
véspera, Lula voltou a responsabilizar também Kiev pelo conflito. O presidente
disse que a "decisão pelo conflito foi tomada por dois países"
durante viagem aos Emirados Árabes Unidos (EAU), onde o líder brasileiro fez
uma parada ao retornar de viagem à China.
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