Foto divulgação
Pelo
menos 1.576 candidatos que disputaram eleições desde 2012 conseguiram, após
ação na Justiça, a ocultação dos dados de seus perfis de candidatura que
estavam no site oficial do TSE, no DivulgaCandContas.
O maior grupo de políticos que conseguiu ter suas informações excluídas é o de
vereadores. Foram 1.078 perfis ocultados.
Nessas
ações judiciais, os candidatos de eleições desde aquele ano costumam alegar
algum risco em ter os dados expostos (leia mais sobre isso abaixo).
Os
dados se referem às eleições normais ou suplementares realizadas desde 2012, o
1º ano em que há registros de perfis ocultados na página de estatísticas do
TSE.
O
ano de 2012 concentra a maioria dos registros de exclusão de perfis. Foram
1.100 páginas de candidatos removidas.
Não
está clara a razão para isso. Especialistas em transparência e direito
eleitoral entrevistados pelo Poder360 não souberam indicar um motivo
para essa concentração. O TSE deu indicações à reportagem sobre onde obter as
informações, mas não comentou o conteúdo delas.
Minas
Gerais, com 209 candidatos retirados do site, lidera entre os Estados, seguido
por São Paulo (130), Rio de Janeiro (126) e Maranhão (117).
O
PSB é o partido em que mais candidatos de outras eleições conseguiram na Justiça
o direito de ter seus perfis ocultados. PSDB e PT ficam próximos.
Até
mesmo candidatos que venceram eleições conseguiram remover seus perfis
eleitorais: foram 15 prefeitos, 28 vice-prefeitos e 10 vereadores cujos dados
foram retirados do site eleitoral mesmo depois de se elegerem.
O
que fica no site e o que sai
Eis
como aparecem os dados nas páginas do TSE depois de um candidato conseguir na
justiça ocultar as suas informações.
perfil
do candidato – a página com todas as informações detalhadas (como
declaração de bens, certidões criminais, etc.) sobre o político é removida da
plataforma do TSE;
dados
do político – em grande parte, permanecem no sistema
de estatística do Tribunal. No entanto, um pesquisador ou jornalista
que baixá-los encontrará um caractere inválido ou a inscrição “não divulgável”
em parte das informações;
informações
que desaparecem – os candidatos que conseguiram CPF, e-mail,
nacionalidade, local de nascimento, data de nascimento, número do título
eleitoral, gênero, grau de instrução, estado civil, cor, ocupação, declaração
de bens e se é candidato ou não à reeleição;
o
que permanece – nome, partido, cargo disputado e outras informações
continuam disponíveis no sistema de estatística, mesmo que não exista mais uma
página de perfil do candidato.
Por
que os candidatos escondem perfis
Especialistas
em transparência e direito eleitoral consultados pelo Poder360 elencam
alguns dos argumentos dos processos que pedem a exclusão de informações:
segurança –
uso dos dados para fazer ameaças. Há pedidos que se baseiam, por exemplo, na
retirada do endereço na declaração de bens (que o político não precisava ter
detalhado) para não atrair criminosos;
honra –
perseguição por ter pertencido a um partido de oposição à sigla que ocupa
atualmente, ou outros dados usados para ataques à reputação;
golpe –
uso do CPF, exposto no site por criminosos para praticarem golpes.
A
regra geral, no entanto, é a transparência. Em julgamento de 2022, antes das eleições, o Tribunal
decidiu que os dados devem ser mantidos, salvo em situações excepcionais.
A
determinação é que a retirada seja feita apenas em casos específicos, como
ameaças ao político usando os dados da plataforma.
Transparência
em risco
A
retirada de perfis de candidatos em resposta a pedidos judiciais preocupa
ativistas pela transparência.
“Há
um risco muito grande para a memória histórica das eleições e para o
acompanhamento da evolução patrimonial de candidatos recorrentes. Mesmo que a
pessoa não seja eleita, pode ser nomeada para algum cargo. Esse controle é
importante”, diz Marina Atoji, especialista em Lei de Acesso à Informação
e diretora de programas da Transparência Brasil.
Marina
participou de audiência pública iniciada pelo TSE no ano passado
para discutir a aplicação da LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) nas
eleições.
Afirma
ter preocupação com a possibilidade de que o Tribunal, até o fim deste ano,
opte por deixar ocultados dados de eleições mais antigas. Ou seja, que depois
de uma década, seja necessário fazer um pedido para obter informações
detalhadas de candidatos (hoje, estão todas disponíveis).
Essa
foi uma das posições defendidas na audiência pública. O argumento de alguns candidatos,
pela LGPD, é que, depois das eleições, termina a finalidade prevista das
informações.
Há
também, lembram as organizações de defesa da transparência, fins históricos,
acadêmicos, e de controle social.
“O
TSE hoje tende a equilibrar risco concreto à segurança do candidato e
transparência. A linha é retirar o perfil só quando há risco concreto“, diz
Clarice Tavares, da ONG InternetLab, que também participou da consulta pública.
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