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372 votos a 108, a Câmara dos Deputados aprovou na noite dessa terça-feira (23)
o texto-base do projeto de lei complementar (PLP) 93/2023, o novo arcabouço
fiscal. A proposta estabelece novas regras para as contas do governo federal,
em substituição ao teto de gastos, regime em vigor desde 2016. O PLP vai ao
Senado.
Relator
do projeto de lei, o deputado federal Claudio Cajado (PP-BA) fez algumas
alterações no texto que o Ministério da Fazenda enviou, em abril. Ele incluiu
proibições ou "gatilhos" para obrigar o contingenciamento (bloqueio)
de recursos, caso o governo não cumpra as metas de resultado primário, mas
deixou de fora das regras o aumento real do salário mínimo, que poderá subir
acima da inflação em qualquer circunstância.
Cajado
disse que buscou garantir no texto um equilíbrio para o ajuste das contas
públicas que contemplasse o governo e, também, os mais críticos ao projeto. Ele
comemorou a aprovação do projeto.
"Espelha
a ampla maioria da Câmara, o amplo apoio. É um texto que continua
consensualizado, mantendo o grande acerto que foi o debate, as críticas
construtivas, as sugestões e a participação ativa do colégio de líderes, do
presidente Lira e do governo".
Principais
pontos
O projeto cria um intervalo de tolerância ou, como o governo tem chamado, bandas de variação para a meta de resultado primário. O resultado primário é a diferença entre o que o poder público arrecada e gasta, tirando o pagamento dos juros da dívida.
Segundo
o texto, a meta de resultado primário será considerada cumprida mesmo que varie
0,25% para baixo ou para cima. Por exemplo: para o ano que vem, o governo
estima um resultado primário de 0% do PIB. Isso significa que a expectativa é
de gastos e despesas do mesmo tamanho.
No
entanto, se o resultado ficar entre - 0,25% do PIB (banda inferior) e 0,25% do
PIB (banda superior), ficará dentro da meta e, portanto, considerado
cumprido.
Já
em 2025, por exemplo, a meta é de superávit (contas no azul) de 0,5% do PIB. O
resultado final poderá variar entre 0,25% (banda inferior) e 0,75% do PIB
(banda superior). Para 2026, o governo espera um superávit equivalente a 1% do
PIB, com a banda inferior fixada em 0,75% e a banda superior em 1,25%.
Se
cumprir a meta de resultado primário, o governo poderá aumentar os seus gastos
em até 70% do crescimento da receita obtida nos 12 meses anteriores. Ou seja,
se aquilo que o governo arrecada com impostos, taxas e outras fontes de receita
aumentar R$ 10 bilhões, no ano seguinte ele poderá aumentar as despesas em, no
máximo 70%, isto é, R$ 7 bilhões.
Caso
o saldo das contas públicas fique abaixo da banda inferior da meta, no ano
seguinte o governo só poderá aumentar as despesas em 50% do crescimento das
receitas e não mais em 70%. Por outro lado, em um cenário em que o
resultado das contas públicas fique acima da banda superior da meta, o
Executivo poderá destinar até 70% do excedente para investimentos, com
prioridades para obras inacabadas ou em andamento.
O
texto também propõe que, independentemente do que arrecadar, o governo poderá
gastar entre 0,6% e 2,5% a mais do que no ano anterior, sem contar a inflação.
O teto de gastos, que será substituído pelo arcabouço fiscal, limitava o
crescimento das despesas a zero, na prática.
O
deputado federal Kim Kataguiri (União-SP) criticou o piso para crescimento real
das despesas. "Obrigar o cidadão a pagar a conta do governo mesmo quando a
economia vai mal é aumentar endividamento, é aumentar imposto".
Medidas
de ajuste
O
relator adicionou algumas medidas de ajuste, também conhecidas como vedações ou
"gatilhos", para situações em que o governo não cumprir a meta de
resultado primário.
Suponha
um cenário em que o Executivo não atinja a meta de resultado primário em 2023.
Pelo arcabouço proposto pelo Ministério da Fazenda, em 2024 o governo só
poderia aumentar as despesas em 50% do crescimento das receitas e não em 70%,
caso cumprisse a meta. Mas, além dessa punição, Cajado propôs que, no primeiro
ano de descumprimento, o Executivo seja impedido de:
Criar
cargos, empregos ou função que implique aumento de gastos;
Alterar
a estrutura de carreira que gere crescimento de despesa;
Criar
ou aumentar auxílios, como o Bolsa Família, vantagens e benefícios de qualquer
natureza;
Criar
despesa obrigatória;
Tomar
medida que implique reajuste de despesa obrigatório acima da variação da
inflação (com exceção ao salário mínimo, que poderá crescer acima do IPCA);
Criar
ou expandir programas e linhas de financiamento, remissão, renegociação ou
refinanciamento de dívidas que gerem ampliação de subsídios e subvenções;
Conceder
ou ampliar incentivo ou benefício tributário.
Os
gatilhos têm validade de um ano. Se no ano seguinte a meta de resultado
primário for atingida, as medidas deixam de valer automaticamente. O texto
também prevê que o presidente da República poderá propor ao Congresso Nacional
a suspensão parcial ou a gradação das medidas de ajuste, "demonstrando que
o impacto e a duração das medidas adotadas será suficiente para a correção do
desvio".
Se
o governo descumprir a meta de resultado primário pelo segundo ano consecutivo,
outros proibições serão adicionadas, como concessão de aumentos e reajustes na
despesa com pessoal; admissão ou contratação de pessoal, exceto em caso de
reposição de cargos vagos e realização de concurso público, com exceção a
reposições de cargos vagos.
O
texto enviado pelo governo tornava opcional o contingenciamento de recursos em
caso de descumprimento da meta, mas Cajado tornou a medida obrigatória no
projeto de lei. Além disso, os relatórios de avaliação de receitas e despesas
deverão ser publicados bimestralmente, como ocorre, e não quadrimestralmente,
como propôs o Ministério da Fazenda.
Antes
de o texto ser votado em plenário, Cajado excluiu uma brecha que permitia ao
governo aumentar os gastos em 2,5% acima da inflação no ano de 2024, independentemente
da arrecadação. Confira aqui.
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