Marcello Casal Jr / Agência Brasil
O
Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central não alterou sua
estratégia nesta quarta-feira (3) e manteve a taxa básica de juros (Selic) em
13,75% ao ano, em sua primeira decisão após a apresentação do novo arcabouço
fiscal pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Em
tom conservador, o colegiado do BC voltou a dizer que a conjuntura demanda
"paciência e serenidade" e manteve a mensagem sobre a possibilidade
de voltar a elevar a Selic caso o processo de desinflação não transcorra como
esperado, acrescentando que se trata de um cenário menos provável.
"Considerando
a incerteza ao redor de seus cenários, o comitê segue vigilante, avaliando se a
estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será
capaz de assegurar a convergência da inflação. O comitê reforça que irá
perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como
também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas", disse o BC no
comunicado.
A
decisão do colegiado do BC veio em linha com a projeção consensual do mercado
financeiro de que os juros ficariam estáveis pela sexta vez consecutiva a
terceira desde que Lula tomou posse.
Levantamento
feito pela Bloomberg mostrou que essa era a expectativa praticamente unânime
entre os analistas consultados apenas um apostava em redução de 0,25 ponto
percentual.
A
desaceleração da inflação indicada pelo IPCA-15 (Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo 15) em abril intensificou o debate público sobre a política
monetária adotada pelo BC. Na semana passada, o presidente da instituição,
Roberto Campos Neto, foi ao Senado em duas ocasiões para falar sobre o tema.
Na
terça (25), o chefe da autarquia participou de uma audiência na CAE (Comissão
de Assuntos Econômicos) e, dois dias depois, integrou uma sessão de debate no
plenário sobre juros, inflação e atividade econômica ao lado dos ministros
Fernando Haddad (Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento).
As declarações dadas por Campos Neto não apaziguaram a tensão com membros do governo, que vêm pressionando a autarquia para diminuir os juros.
Na
segunda-feira (1º), no Dia do Trabalho, Lula voltou a criticar o patamar da
Selic, dizendo que a taxa de juros "controla, na verdade, o
desemprego". Em entrevista à Folha, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho,
chamou Campos Neto de "empata gol" na economia.
No
cenário de referência do Copom, as projeções de inflação para este ano se
mantiveram em 5,8% e, para 2024, em 3,6%. Em cenário alternativo, no qual a
taxa Selic é mantida constante ao longo de todo o horizonte relevante, ou seja,
2024, as projeções de inflação situam-se em 5,7% para 2023 e 2,9% para o ano
que vem.
Em
sua avaliação de riscos para a inflação, o BC manteve o balanço simétrico.
Entre os fatores que puxariam os preços para cima, a autoridade monetária cita
"a incerteza ainda presente sobre o desenho final do arcabouço fiscal a
ser aprovado pelo Congresso Nacional e, de forma mais relevante para a condução
da política monetária, seus impactos sobre as expectativas para as trajetórias
da dívida pública e da inflação, e sobre os ativos de risco".
O colegiado também incluiu a persistência das pressões inflacionárias globais e uma deterioração maior, ou mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos.
Na
direção contrária, o BC menciona novamente a queda adicional dos preços das
commodities, a possibilidade de uma desaceleração da atividade econômica global
mais acentuada, puxada pelas condições adversas no sistema financeiro global, e
uma desaceleração na concessão doméstica de crédito maior do que seria
compatível com o atual estágio do ciclo de política monetária.
"Por
um lado, a reoneração dos combustíveis e, principalmente, a apresentação de uma
proposta de arcabouço fiscal reduziram parte da incerteza advinda da política
fiscal", disse.
"Por
outro lado, a conjuntura, caracterizada por um estágio em que o processo
desinflacionário tende a ser mais lento em ambiente de expectativas de inflação
desancoradas, demanda maior atenção na condução da política monetária",
acrescentou.
O
Copom reiterou que não há relação mecânica entre a convergência de inflação e a
aprovação do arcabouço fiscal. O Congresso Nacional se prepara para discutir a
proposta da nova regra o texto foi entregue pelo governo aos congressistas no
dia 18 de abril.
Desde
o encontro de março, as expectativas de inflação dos economistas continuaram se
deteriorando e a atividade econômica mostrando força, sobretudo com o vigor do
mercado de trabalho, apesar da política de juros.
Segundo
o boletim Focus, pesquisa semanal do BC com analistas divulgada na última
terça-feira (2), a projeção para o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor
Amplo) do próximo ano avançou para 4,18% já distante do centro da meta (3%).
Para 2025 e 2026, as estimativas dos economistas estão em 4%.
Com
2024 na mira, o colegiado do BC volta a se reunir nos dias 20 e 21 de junho
para recalibrar o patamar da taxa básica.
A
reunião desta semana teve dois desfalques, com a saída de Bruno Serra, que
deixou a diretoria de política monetária em 27 de março após o seu mandato ter
expirado, e com a ausência da diretora de administração, Carolina de Assis
Barros, por motivos pessoais.
O
ciclo de alta da política monetária foi interrompido pelo Copom em setembro de
2022, depois de o BC promover o mais agressivo choque de juros desde a adoção
do sistema de metas para inflação, em 1999.
Foram
12 aumentos consecutivos entre março de 2021 e agosto do ano passado, com
elevação de 11,75 pontos percentuais. A taxa básica saiu de seu piso histórico
(2%) até atingir o nível atual de juros o mais alto desde o fim de 2016.
Fonte: Gazeta de S. Paulo - Clique Aqui
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