Foto ilustração - urologista Júlio Bissoli
Por Giovanna Castro/Estadão
A
comunidade médica dos Estados Unidos está preocupada com o excesso de
exames para detecção de câncer
de próstata em homens em idade avançada e o
consequente alto índice de tratamento agressivo nesta faixa etária,
mesmo em quadros de baixo risco. Em 2010, cerca de 90% dos americanos com
câncer de próstata de baixo risco foram submetidos a cirurgia imediata para
remover a próstata ou receberam tratamento com radiação, segundo a Associação
Americana de Urologia.
As
diretrizes da Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos e do
Colégio Americano de Médicos não recomendam a triagem de rotina contra o câncer
de próstata para homens com mais de 69 ou 70 anos – ou para homens com menos de
10 a 15 anos de expectativa de vida.
Segundo
os especialistas, o diagnóstico tende a ser seguido instantaneamente por um
tratamento, desconsiderando que nesta faixa etária a maioria dos tumores não
corre risco de se espalhar e/ou causar sintomas incômodos antes que da morte do
paciente por qualquer outro motivo.
Eles
defendem que o tratamento do câncer nessa idade – por cirurgia, radioterapia
e/ou quimioterapia – pode causar mais danos do que manter o tumor. Já no
caso do Brasil, médicos apontam que o rastreio da doença em fase inicial ainda
é um desafio.
Por
que no Brasil é diferente?
Segundo
Bruno Benigno, urologista do Centro de Oncologia e Urologia do Hospital Alemão
Oswaldo Cruz, o cenário americano é diferente do brasileiro. “Lá, há
um excesso de exames e diagnósticos, mas aqui a maioria dos homens descobre a
doença em estágio avançado. Precisamos reforçar a comunicação em relação aos
exames de triagem, e não o contrário”, diz.
Nos
Estados Unidos, entre 2014 e 2021, a proporção de homens com baixo risco de
câncer de próstata que escolheram fazer vigilância ativa, com exames de
rastreio a cada três ou seis meses, subiu de cerca de 27% para quase 60%. Já no
Brasil, diz o Instituto Nacional de Câncer (Inca), cerca de 20% dos
casos já são diagnosticados em estágio avançado por causa da baixa adesão
a exames periódicos.
O Inca diz ainda que o câncer de próstata é o tipo mais comum de câncer entre homens brasileiros, e representa 29% dos diagnósticos da doença no País. No ano passado, 16.055 homens morreram pela doença - cerca de 44 óbitos por dia, segundo o Sistema de Informação sobre Mortalidade do Ministério da Saúde.
Para
mudar esse cenário, Benigno defende reforçar as campanhas de
prevenção e aprimorar os métodos de análise em relação ao quadro clínico
dos pacientes para determinar com mais precisão quando o tratamento é ou não
vantajoso.
Quando
fazer exames de próstata?
A Sociedade
Brasileira de Urologia segue a Sociedade Americana de Urologia: os exames
devem ser feitos a partir dos 45 anos para todos os homens e aos
40 para os de grupo de risco.
Segundo
Marcelo Wroclawski, presidente da entidade brasileira em SP, o momento de
parar é quando o homem tem entre 5 e 10 anos de expectativa de vida –
cálculo que deve ser feito pelo médico, a partir do estilo de vida e quadro
geral de saúde do paciente.
Wroclawski
diz que a escolha por interromper o rastreio quando o paciente tem idade
avançada se dá pelo entendimento de que não há tantos benefícios em tratar o
tumor nessa faixa etária e pelos riscos das biópsias. Um dos principais métodos
de detecção do câncer de próstata, as biópsias são invasivas e têm risco de
infecção e sangramentos, apesar de alguns centros já oferecerem métodos mais
seguros.
O
Ministério da Saúde destaca que “a principal recomendação quanto à realização
dos exames como ferramenta para o rastreamento do câncer de próstata é de que a
indicação médica seja individualizada de acordo com cada caso e compartilhada
com o paciente, considerando os benefícios do diagnóstico precoce para as
opções de tratamento.”
A
pasta reforça ainda, de modo geral, que os métodos por imagem têm papel
limitado tanto no diagnóstico quanto no estadiamento clínico da doença. Assim,
a ultrassonografia transretal é o método de escolha para a realização da
biópsia prostática, porém com a finalidade de orientar o posicionamento da
agulha nas diferentes zonas da próstata. A ressonância magnética tem indicação
em casos bastante selecionados. Ambos os métodos também têm baixa acurácia na
determinação da extensão local da doença.
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