Fotomontagem TM
A população brasileira ainda cresce, mas em um ritmo cada vez menor. É o que indicam os primeiros dados do Censo Demográfico 2022, divulgados nesta quarta-feira (28) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). As informações são de Leonardo Vieceli e Isabella Menon / folha de S. Paulo
Segundo
o levantamento, a população residente no país era de 203,1 milhões de pessoas
em 2022 o contingente exato foi de 203.062.512. Projeção anterior do instituto
apontava que o Brasil teria entre 213 milhões e 214 milhões de habitantes.
O
número de moradores representa uma alta de 6,5% (12,3 milhões a mais) em
relação ao Censo anterior, de 2010 (quando o país tinha 190,8 milhões de
habitantes). Isso significa que a taxa de crescimento foi de 0,52% ao ano.
Trata-se
do menor nível já registrado em um recenseamento no Brasil. O primeiro ocorreu
150 anos antes, em 1872. De lá para cá, o país soma 13 operações censitárias.
A
série histórica divulgada pelo IBGE mostra que a taxa de crescimento anual já
chegou a 2,99% na passagem de 1950 para 1960.
O
percentual encolheu de forma consecutiva nas décadas seguintes, até atingir
1,17% em 2010 e 0,52% em 2022. É a primeira vez que o avanço fica abaixo de 1%
em um Censo.
Esse
movimento ilustra o que especialistas chamam de transição demográfica, que traz
reflexos tanto em questões comportamentais quanto na área econômica.
"A
queda da fecundidade começou no final da década de 1960. Começou com uma queda
pequena, mas a partir da década de 1970 se espalhou pelo Brasil todo", diz
o demógrafo José Eustáquio Diniz Alves, pesquisador aposentado do IBGE.
"De
lá para cá, a fecundidade só cai. Ao mesmo tempo, temos um aumento da
expectativa de vida e uma redução das taxas de mortalidade."
Com
menos filhos, as famílias tendem a investir mais na formação de uma mesma
criança, e as mulheres podem encontrar menos dificuldades para a entrada no
mercado de trabalho, afirma Alves.
O
crescimento menor da população, por outro lado, encaminha o país para o fim do
chamado bônus demográfico, segundo o especialista.
Isso
traz desafios para a economia, já que a parcela da população em idade de
trabalhar tende a diminuir, enquanto a de aposentados, aumenta. O segredo para
superar o quadro, diz Alves, é elevar a produtividade capacidade de produzir
mais com menos.
"A
transição demográfica é o maior fenômeno de mudança de comportamento em massa
da humanidade. Está mexendo com a vida das pessoas, com a morte delas",
afirma.
Higor
Gonçalves, 37, trabalha como relações públicas e é filho único. Sua mãe vinha
de uma casa cheia: tinha dez irmãos.
"Minha
mãe tinha pavor de família gigantesca e isso impactou na decisão de ter só um
filho", diz ele, que não planeja ser pai.
"Não
queria colocar um filho no mundo para ser criado por babá. Queria dar atenção e
cuidar. Mas, no mundo de hoje, está muito complicado pela rotina e pelo trabalho.
Sou muito absorvido pelo trabalho e é algo que me satisfaz", afirma.
"Tínhamos
mais tempo antes, trabalhávamos no horário comercial, hoje não. Com WhatsApp,
isso fica impossível."
Com
o casamento se aproximando, a assessora de eventos Jéssica Souza, 28, acredita
que a pressão por ter filho deve aumentar. Porém, nem ela e nem o noivo desejam
uma criança.
"Tenho
outras prioridades, outros objetivos, e ter um filho precisa de condições,
casa, orçamento. Gosto da minha liberdade, chegar na hora que quiser",
diz.
O
presidente interino do IBGE, Cimar Azeredo, disse que o instituto ainda
trabalha para entender o que está por trás do crescimento menor da população.
Segundo
ele, também é necessária uma análise mais detalhada a respeito de eventuais
impactos da mortalidade provocada pela pandemia de Covid-19.
A
divulgação do Censo 2022 será feita em etapas. A primeira, ocorrida nesta
quarta, não trouxe dados sobre as características etárias e de gênero dos
brasileiros. Ficou centrada na evolução do número de habitantes e de
domicílios.
"A
gente precisa esperar o trabalho que os demógrafos do IBGE estão fazendo para
que a gente possa entender melhor o quanto o Brasil pós-pandemia está sendo
influenciado por fecundidade, mortalidade, migração internacional, uma série de
fatores que podem contribuir de forma expressiva para a queda da taxa de
crescimento anual", afirmou Azeredo.
A
coleta das informações do Censo começou no dia 1º de agosto do ano passado, e o
IBGE planejava encerrar as entrevistas em três meses, até outubro. O instituto,
contudo, encontrou uma série de dificuldades para avançar nos trabalhos. Por
isso, foram feitas coletas de dados residuais até o final de maio deste ano. Ou
seja, a operação levou quase dez meses.
Restrições
orçamentárias, atrasos em pagamentos para recenseadores e o clima de tensão em
meio à corrida eleitoral estão entre os motivos apontados para a demora.
A
taxa de não resposta ao Censo foi de 4,23% no Brasil. É o percentual de
domicílios onde o IBGE constatou que havia moradores, mas não conseguiu fazer
as entrevistas.
Já
a taxa de recusa alcançou 1,38%. Trata-se do percentual de domicílios onde as
pessoas não quiseram prestar as informações.
Essas
porcentagens foram maiores no estado de São Paulo, o mais populoso do país. A
taxa de não resposta local alcançou 8,11%, e a de recusa, 2,34%.
Questionado
se os percentuais de São Paulo impactaram o resultado geral da população
brasileira, Azeredo disse que a cobertura está "muito consistente" e
que o IBGE está "bastante contente" com os resultados.
O
presidente interino lembrou que, em pesquisas como o Censo, e não só no Brasil,
é usada a técnica de imputação em domicílios ocupados cujos moradores não
participam das entrevistas. Trata-se de uma estimativa.
Segundo
Azeredo, a imputação não prejudicou o resultado geral. "Hoje, a gente tem
total certeza de que a população é essa que está colocada, os 203
milhões", disse.
Em
2022, a população imputada no Brasil foi de quase 8 milhões, o equivalente a
3,92% do total. A contada alcançou 195,1 milhões.
No
Censo de 2010, a parcela resultante do processo de imputação havia sido de 2,8
milhões, segundo o IBGE. Foi menos de 2% do total à época.
POPULAÇÃO
RECENSEADA É MENOR DO QUE ESTIMATIVA
A
nova edição do Censo tem o dia 31 de julho de 2022 como data de referência.
Assim, as pessoas nascidas após essa data não foram incluídas na contagem.
Durante
a operação censitária, especialistas alertaram que a coleta prolongada traria
riscos de imprecisão para os dados, mas o IBGE argumentou que o uso de novas
tecnologias minimizaria as ameaças.
Os
dados da contagem da população, contudo, mostram diferenças em relação às
estimativas populacionais do instituto.
Em
2021, o órgão havia projetado a população brasileira em 213,3 milhões de
habitantes, ou seja, em torno de 10 milhões a mais do que a contagem do ano
passado.
As
estimativas populacionais são feitas a partir da edição mais recente do Censo.
Um dos procedimentos recomendados por especialistas para calibrá-las é a
realização de uma nova contagem, mais enxuta do que o Censo, no meio de cada
década. Porém, em 2015, essa contagem foi cancelada por falta de verba.
Azeredo
afirmou que os demógrafos do IBGE estão "debruçados" sobre os dados
para entender as diferenças entre as estimativas e o Censo. Ele, contudo,
chamou atenção para a falta da contagem no meio da década passada.
"Essa
diferença, ela tem uma associação, nós não tivemos a contagem de população no
meio da década. É fundamental que, em 2025, a gente faça a contagem da
população", disse.
"Temos
que fazer uma contagem para que a gente não se depare com diferenças grandes.
Acho que a pandemia teria sido muito mais branda se nós tivéssemos tido uma
contagem de população no meio da década. A pandemia pegou o Brasil num apagão
de dados", acrescentou.
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