Foto ilustrativa
A
diferença entre a maior receita per capita municipal (ISS + ICMS) e a menor
pode cair de 200 para 13 vezes com a aprovação da reforma tributária. É o que
aponta um estudo publicado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea).
Segundo
a nota técnica Impactos Redistributivos (na Federação) da Reforma Tributária, a
diferença de receita por habitante/ano entre o município mais rico e o mais
pobre do país chega a 200 vezes (R$ 14.621 x R$ 74). O cenário considera as
receitas das prefeituras com o Imposto sobre Serviços (ISS) e a cota-parte do
Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) que recebem dos
estados.
O
estudo projeta que, se a reforma tributária adotar o princípio da tributação no
destino e a divisão da cota-parte do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) – novo
tributo de estados e municípios – passar a ocorrer preponderantemente pela
população, a cidade mais rica teria receita 13 vezes maior do que a mais pobre (R$
6.426 x R$ 497).
Pesquisador
do Ipea cedido à Secretaria de Fazenda do Estado do Rio Grande do Sul
(Sefaz-RS), Sérgio Gobetti é um dos autores do estudo. Ele afirma que o
levantamento destaca que a reforma tributária traria vantagens pouco propagadas
nas discussões em torno do tema.
"O
ponto de partida do estudo é mostrar para a sociedade quão profundamente
desigual é a distribuição dessas receitas de impostos entre os entes federados.
Em resumo, o objetivo é mostrar que os benefícios da reforma tributária vão
muito além da simplificação e do importante ganho de eficiência econômica. Ela
permite quase uma revolução distributiva na federação brasileira, reduzindo
drasticamente a diferença de receita entre os estados e, principalmente, entre
os municípios."
Exceção
Os
pesquisadores analisaram a troca do ICMS (estadual) e do ISS (municipal) pelo
IBS. Tal como na versão preliminar do substitutivo da Proposta de Emenda à
Constituição (PEC) 45/2019 — apresentado na Câmara dos Deputados no último
dia 23 —, o estudo considera um IBS com base de incidência ampla, ou seja, que
atinja a maioria dos produtos e serviços; de não cumulatividade plena; e que
seja recolhido no destino, isto é, onde há o consumo.
Além
de diminuir a desigualdade de receita por habitante-ano entre os municípios, a
reforma tributária guiada por uma regra de transição "longa e suave",
aliada ao crescimento econômico acelerado, amenizaria os efeitos
redistributivos para quem hoje ganha mais e propiciaria um alta quase
generalizada de receita entre as unidades da federação, acreditam os
autores.
Os
pesquisadores simularam os efeitos da proposta prevista no relatório final da
PEC 110/2019 sob três cenários econômicos. No primeiro, em que a reforma não
gera crescimento econômico extra, cerca de 16% dos municípios e dez estados
acumulariam uma receita menor, em 20 anos, do que na hipótese de não haver
reforma. Isso quer dizer que 84% das prefeituras e 17 estados veriam a receita
própria crescer.
Já
o segundo cenário considera um crescimento de 4% sobre o Produto Interno Bruto
(PIB) em 15 anos, como resultado do fim da cumulatividade. Nessa situação, o
percentual dos municípios perdedores cai para 12% e o de estados diminui para
seis. O de ganhadores sobe para 88% e 21, respectivamente.
No
cenário mais otimista, em que haveria ganho de produtividade da economia e PIB
apresentaria crescimento adicional entre 12% e 20% num intervalo de 15 anos,
apenas 2% dos municípios sairiam perdendo. Nenhum estado ou capital teria
perdas.
Coordenador
do grupo de trabalho que discutiu a reforma tributária na Câmara dos Deputados,
Reginaldo Lopes (PT-MG) acredita que a proposta vai impulsionar o crescimento
do país.
"Eu
tenho muita convicção do sucesso desta reforma, quando ela for promulgada.
Acredito que, de fato, vai criar um ecossistema favorável para atração de novos
investimentos, externo e interno. Vai colocar o Brasil em outro patamar de
competitividade, vai fortalecer as nossas vocações econômicas."
Gobetti
explica que as cidades que se encaixam entre as potenciais perdedoras de
recursos terão os impactos sobre o caixa minimizados graças à transição lenta.
"Eles vão perder uma fatia do bolo, mas essa perda vai ocorrer
gradualmente. Digamos que um município tenha uma fatia do bolo equivalente a
10% e ela vai cair para 5%. Essa mudança não vai ser do dia para a noite. Vai
ser uma mudança entre 40 e 50 anos. Significa que, no primeiro ano, em vez dele
receber 10%, ele vai receber 9,9%, depois 9,8%. Ou seja, a fatia dele vai sendo
reduzida bem devagarinho, enquanto o tamanho do bolo vai aumentando. Por que o
tamanho do bolo vai aumentando? Porque nós temos o crescimento da
economia", analisa.
Na
última semana, o deputado Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) apresentou o texto
preliminar da reforma tributária. A expectativa do presidente da Câmara,
deputado Arthur Lira (PP-AL), é colocar a proposta em votação ainda na primeira
semana de julho.
Fonte: Brasil 61
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