A tecnologia será o diferencial para o futuro da produção agrícola. Para o consultor de agronegócios da BMJ, Victor Nogueira, a agricultura brasileira tem, ao longo do tempo, promovido um aumento da produtividade não pela expansão da fronteira agrícola ou pela contratação de uma quantidade maior de mão de obra e, sim, pela utilização de insumos agrícolas mais avançados e eficientes. “Nos próximos anos, haverá um fortalecimento cada vez mais intensivo em capital, mediante maior emprego de sementes tratadas, fertilizantes e defensivos mais avançados e mais eficientes, organismos geneticamente modificados, máquinas mais tecnológicas, tudo isso cada vez mas adaptado para cada tipo de solo, cada tipo de clima, cada tipo de bioma. Então, o crescimento da produção agrícola brasileira deve seguir guiado pelo incremento da produtividade puxados pelo avanço tecnológico, atingindo patamares cada vez mais elevados da produtividade total dos fatores empregados na atividade”, observa.
Os
números do recente estudo "Projeções do Agronegócio, Brasil 2022/23 a
2032/33", feito pela Secretaria de Política Agrícola, do Ministério da
Agricultura e Pecuária (Mapa) e pela Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa), apontam que a produção de grãos no Brasil deverá
aumentar 24,1% nos próximos dez anos, chegando perto de 390 milhões de
toneladas na safra 2032/2033. O acréscimo estimado é de 75,5 milhões de
toneladas. Na prática, isso corresponde a uma taxa de crescimento de 2,4%
ao ano. Soja, milho de segunda safra (safrinha) e algodão devem continuar
alavancando o crescimento da produção de grãos. A área de grãos também deve
expandir dos atuais 77,5 milhões de hectares (Conab - maio/2023) para 92,3
milhões de hectares em 2032/33.
O
assessor técnico da Comissão Nacional de Cereais, Fibras e Oleaginosas da
Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Tiago Pereira, acredita
que esses números ainda podem ser maiores. Apesar de não trabalhar com
projeções, ele acha que essa estimativa é, de certa forma, conservadora. “A
produção de grãos deve superar. Acreditamos que é factível esses ganhos em
produção, produtividade em área, a não ser que tenhamos problemas climáticos
muito severos. Caso contrário, quando a gente analisa o histórico de ganho de
produtividade e a tendência sustentável do país em recuperar pastagens
degradáveis, por exemplo, podemos ter uma expansão em área. É possível
atingir ou até superar esse número”, avalia.
Conforme
o relatório, a produção de soja em 2032/33 está projetada para 186,7 milhões de
toneladas, com um de acréscimo de 20,6% em relação à produção de 2022/23. A
projeção de exportação de soja em grão está em 121,4 milhões de toneladas, com
participação prevista de 60,6% nos embarques mundiais.
Segundo
o consultor Victor Nogueira, esse crescimento da soja já é esperado pela
necessidade de o país aumentar as exportações. "A soja é muito demandada
não apenas pela alimentação humana, mas também pelo consumo animal, já que o
consumo mundial de proteínas tem aumentado e aves também, e ainda para a
produção de biocombustíveis, por questões climáticas. A soja continuará sendo o
principal produto agrícola brasileiro para exportação”, destaca.
Já
o engenheiro agrônomo Vinicius Novaes aposta em novas produções. “O Brasil
é um grade exportador de tecnologia. Estamos num país tropical, onde o ataque
de pragas e doenças é muito intensivo e o Brasil se sobressai na produção
diferente do clima europeu que passa um tempo no frio e paralisa o ciclo das
pragas e doenças. A tecnologia também está na semente de soja, de milho, de
trigo - principalmente porque o Brasil logo se tornará um exportador de trigo.
A tecnologia está no campo, e o Brasil tem muita tecnologia no campo”, pontua.
Milho
A produção total de milho está projetada para 160 milhões de toneladas para
2032/33, alta de 27% em relação à produção de 2022/23. Brasil e Estados Unidos
deverão liderar juntos as exportações mundiais de milho, estimadas em 69
milhões de toneladas por país. Corresponde a uma participação nas exportações
de 30% para cada um dos países.
O
consultor agrícola Victor Nogueira destaca que existem estimativas de que a
população mundial atingirá a marca de 9 bilhões de pessoas em 2050. Aliado ao
crescimento econômico mundial, ele diz que isso acarretará em uma expansão da
produção de alimentos no mundo todo. E o Brasil, que atualmente já é uma
das maiores potências agrícolas, deverá aproveitar esse efeito fortalecendo
ainda mais a sua produção. “Espera-se que o agronegócio brasileiro dê
continuidade aos investimentos nessa atividade mediante a expansão da área
cultivada, com emprego de mão de obra cada vez mais qualificada, pesquisa e
desenvolvimento de técnicas e insumos voltados para o aumento da
produtividade".
O
especialista também indica a preocupação ambiental como fator para aumentar a
produtividade. “Esforços devem ser empregados para evitar que a expansão gerem
custos ambientais e climáticos. Então, tanto o setor privado quanto o público
devem trabalhar juntos para evitar o desmatamento, a ampliação da área dedicada
ao cultivo deve avançar através da recuperação de pastagens degradadas, para que
áreas que tenham proteção de matas nativas continuem com essa finalidade. Dessa
forma, o agronegócio ele deve continuar ampliando a sua importância para a
economia do Brasil”, afirma.
De
acordo com o documento do MAPA e da Embrapa, a produção de carnes (bovina,
suína e frango) também deverá ter alta de 6,6 milhões de toneladas entre
2022/23 e 2032/33, representando 22,4% de aumento. Saindo dos atuais 29,6
milhões de toneladas para 36,2 milhões de toneladas de carnes. Já as projeções
do algodão em pluma indicam produção de 3,6 milhões de toneladas em dez anos,
expansão de 26,8%, dominado principalmente pela produtividade. Mato Grosso e
Bahia respondem atualmente por 90% da produção nacional. Espera-se que o
aumento da produtividade seja impulsionado por melhoramento genético, melhores
práticas agronômicas, novas tecnologias e agricultura de precisão.
Fonte:
Brasil 61
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