Foto crédito Tacilla Medrado
Representantes
do Conselho Nacional de Educação e conselhos
estaduais solicitaram, em um documento conjunto levado ao
Ministério da Educação, que as anunciadas mudanças no Novo Ensino
Médio só ocorram a partir de 2025. Para eles, a virtual alteração do
sistema — que divide opiniões entre os próprios professores e
alunos — precisa ser acompanhada de um prazo factível e
razoável para sua implantação nas escolas.
Na
opinião do professor Bruno Borges, da Subsecretaria de Formação Continuada dos
Profissionais da Educação (EAPE) - GDF, a solicitação para que as
mudanças no ensino médio sejam adiadas para 2025 são justificáveis por permitir
uma melhor adequação do sistema. " É o replanejamento da estrutura e
da disposição das unidades escolares para atender as demandas pedagógicas do novo
ensino médio e, ao mesmo tempo, formação de professores”, explica.
De
acordo com o professor, o que foi alertado pelo Conselho Nacional de Educação
(CNE) é que toda mudança seja acompanhada de um prazo factível e de um período
onde alguns eixos possam ser implementados. “Um dos principais dramas que nós
temos até hoje é que ainda não foi possível alcançar todo o corpo docente do
país que atuou com o ensino médio na compreensão e na familiaridade do que é o
novo ensino médio, do que é a sua proposta, como construir um itinerário
informativo, qual o papel da FGB, do projeto de vida”.
Ele
diz que essa solicitação dos Conselhos Nacionais e Estaduais de Educação é
justamente para viabilizar esses dois índices: formação continuada e um novo
planejamento relativo à estrutura para atender às eventuais mudanças no novo
ensino médio".
O
professor de Física do Centro de Ensino Médio Elefante Branco (CEMEB) - no
DF, Adam Smith Gontijo Brito de Assis explica que o novo ensino médio foi
uma organização curricular.
“Antes,
o estudante, no ensino público do DF, por exemplo, ele tinha 800 horas no ano
letivo, distribuídas em todas as disciplinas, Português, Matemática, Geografia,
Sociologia, e a maioria delas dividida igualmente. Com o Novo Ensino Médio,
essa carga horária passou para 1000 horas, só que as disciplinas específicas
reduziram a carga para entrar as chamadas matérias eletivas — disciplinas
escolhidas pelos estudantes de acordo com a sua aptidão”. O
professora destaca que o estudante vai poder escolher uma disciplina
eletiva sem ter uma grade fixa. “Ele tem uma grade adaptada para o seu
interesse.”
Mas,
segundo Adam Smith, o novo ensino médio poderia levar à redução da carga
horária de disciplinas que são necessárias e específicas para a entrada de
disciplinas eletivas.
“O
professor não tem condições de oferecer uma qualidade muito boa ou porque a
escola que decidiu aquela eletiva e o professor não tem a formação, ou não teve
tempo para fazer essa formação — ou não tem tempo suficiente para
fazer nenhum nem outro", avalia. Smith acredita que aprofundar
o conhecimento das eletivas deixa tudo muito superficial.
Na
opinião do professor, os alunos precisam ter conhecimento geral e aprofundo em
matérias essenciais para a formação. “O estudante precisa, além de matemática
português e educação física, ele precisa entender filosofia, ele precisa
entender sociologia, ele precisa encontrar esses diálogos. Então, o novo ensino
médio, ele reorganiza para tentar fazer uma abordagem mais flexível",
ressalta.
Mudança
na LDB
O
professor Bruno Borges, da Subsecretaria de Formação Continuada dos
Profissionais da Educação (EAPE) - GDF diz que o novo ensino médio
nada mais é do que uma alteração que ocorreu na Lei de Diretrizes e Bases da
educação nacional, em 2017. “Uma lei foi aprovada, a 13.415, alterando a
dinâmica e a arquitetura da última etapa da educação básica que é o ensino
médio. Existia um diagnóstico muito negativo sobre os efeitos colaterais do
modelo de ensino médio no Brasil. A alta evasão, baixa aprendizagem, baixo
engajamento e identificação dos alunos com o ensino médio demandou uma série de
reflexões sobre que outras formas e modelos nós poderíamos adotar”, afirma.
Para
Bruno Borges, o modelo adotado, a partir de 2017, com a aprovação da lei e
gradativamente assimilado pelas unidades da federação, é um modelo que amplia o
tempo do aluno dentro da escola.
“É
um modelo que privilegia a ideia de escolha orientada desses alunos para aquilo
que nós chamamos de itinerários formativos, que seria chamada parte diversificada
do currículo. O currículo é formado pela FGB, pela Formação Geral Básica,
fundamentada pela BNCC, com as aprendizagens essenciais que todos os alunos
deveriam ter acesso. Mas ele também é formado por essa parte diversificada, por
esse cardápio chamado de itinerário formativo. Então, a título de mudança, nós
tivemos essa ampliação do tempo e tivemos também a possibilidade do aluno
escolher, de forma orientada, parte do seu currículo, parte da sua experiência
escolar ao longo do ensino médio”, salienta.
Ensino
a distância (EAD)
Além
das regras de transição em um período considerado factível, os secretários
estaduais de educação e os conselhos nacional, estaduais e distrital de
educação pedem também a manutenção do ensino a distância (EaD,) tanto na formação
geral básica, que é a parte do conteúdo estipulado pela Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) — e que é comum a todas as escolas do país, quanto nos
itinerários formativos, que é a parte escolhida pelos estudantes para
aprofundamento mediante a disponibilidade de cada rede.
O
professor Bruno Borges acredita que, para algumas unidades da federação,
ofertar ensino a distância é algo possível. “É algo factível dentro da
realidade socioeconômica dos alunos, dentro do letramento digital de uma boa
parcela dos estudantes da rede pública de ensino, e que ao mesmo tempo se impõe
como uma demanda espacial.
Borges
ainda ressalta. “A demanda pela continuidade da EAD também na FGB se dá em
casos mais particulares de uma grande distância da população dos centros urbanos
e de um acesso à internet em algumas regiões específicas que iriam viabilizar
esse tipo de ensino”, aponta.
Já
o professor Adam Smith vê com preocupação a educação à distância para uma
decisão de manutenção do novo ensino médio. “Não é uma saída muito boa. Tivemos
aí a pandemia como um exemplo de educação média da tecnologia com aulas
gravadas ou até ao vivo à distância”. Para o professor de Física do Centro de
Ensino Médio Elefante Branco (CEMEB) - DF, o estudante precisa do convívio da
escola.
“O
estudante precisa fazer trabalho em grupo, precisa relacionar com os colegas,
precisa lidar com as frustrações do dia. Isso é uma inteligência, um espaço
emocional que o estudante precisa e ele consegue ter isso numa escola. A
educação à distância não é, não deveria ser e não vai ser uma escolha principal
de um estudante. Em um caso, de ele morar longe, com difícil acesso e não ter
escola perto, isso é uma possibilidade, mas em casos bem pontuais”,
observa.
Ensino
noturno
Na
opinião do professor Bruno Borges, existe um outro ponto que precisa ser
discutido: o ensino noturno. “É um outro grande gargalo, né? A legislação, as
portarias e até os debates em audiências públicas, de maneira geral, muitas
vezes tangenciam o tema. O ensino noturno, ele tem vivenciado uma redução
drástica nos últimos anos, potencializado pela pandemia, e acaba que o debate
sobre o novo ensino médio, ele esbarra numa questão de tempo.”, lamenta. Ele
lembra que as aulas no ensino noturno e o tempo de permanência na
escola são menores do que no diurno.
As
principais mudanças com o novo modelo do ensino médio são a adoção de uma base
comum curricular, a escolha de disciplinas formativas por parte do aluno e o
aumento da carga horária, que passa de 2.400 horas para 3.000 horas ao longo
dos três anos. Cada escola terá que oferecer pelo menos uma formação
complementar aos estudantes dentro das categorias: linguagens e suas
tecnologias; matemática e suas tecnologias; ciências da natureza e suas
tecnologias; ciências humanas e sociais aplicadas; formação técnica e
profissional.
O
novo ensino médio começou a ser implementado de forma gradual em 2022 com
alunos do 1º ano dessa última fase da educação básica. Neste ano, as mudanças
já abrangem alunos tanto do 1º quanto do 2º ano do ensino médio. Em 2024, todas
as fases dessa etapa de ensino devem seguir com o novo modelo.
Fonte: Brasil 61
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