Foto captura de tela - TV UFBA
A líder quilombola Bernadete Pacífico, conhecida como
Mãe Bernadete, foi assassinada na noite desta quinta-feira (17) a tiros dentro
do terreiro que comandava em Simões Filho, na região metropolitana de Salvador. As informações são do FolhaPress.
Ela
era coordenadora nacional da Conaq (Coordenação Nacional de Articulação de
Quilombos) e liderava o Quilombo Pitanga dos Palmares, em Simões Filho. Era
ialorixá e mãe de Flávio Gabriel Pacífico dos Santos, o Binho, líder
assassinado há 6 anos.
A
Secretaria da Segurança Pública da Bahia informou que dois homens, usando
capacetes, entraram no imóvel de Bernardete e efetuaram disparos com arma de
fogo. As polícias Militar, Civil e Técnica da Bahia iniciaram as diligências e
a perícia no local para identificar os autores do crime.
A
Conaq repudiou o crime em nota divulgada nesta quinta. "Sua dedicação
incansável à preservação da cultura, da espiritualidade e da história de seu
povo será sempre lembrada por nós", diz o texto. "Sua ausência será
profundamente sentida. Seu espírito inspirador, sua história de vida, suas
palavras de guia continuarão a orientar-nos e às gerações futuras".
Segundo
a organização, a morte de Binho não foi elucidada e Bernadete atuava para
solucionar o caso. "Enquanto lamentamos a perda dessa corajosa liderança,
também devemos nos unir em solidariedade e determinação para continuar o legado
que ela deixou", diz a Conaq.
Na
nota, a organização cobra do governo medidas imediatas para a proteção dos
outros líderes do quilombo de Pitanga de Palmares e uma investigação rápida
para encontrar os responsáveis pelo crime.
Considerada
uma das principais líderes da luta quilombola no país, Bernadete foi secretária
de Políticas de Promoção da Igualdade Racial de Simões Filho na gestão do então
prefeito Eduardo Alencar (PSD), irmão do senador Otto Alencar (PSD).
Em
julho, ao lado de outras líderes quilombolas, ela participou de um encontro com
a presidente do Supremo Tribunal Federal, Rosa Weber, na comunidade Quingoma,
na cidade de Lauro de Freitas. Na ocasião, ela afirmou que era ameaçada por
fazendeiros.
"É
o que nós recebemos, ameaças. Principalmente de fazendeiros, de pessoas da
região. Hoje eu vivo assim que não posso sair que eu estou sendo revistada.
Minha casa é toda cercada de câmeras, eu me sinto até mal com um negócio
desse", afirmou.
O
ministro Silvio Almeida determinou o deslocamento de equipes do Ministério dos
Direitos Humanos para Simões Filho e expressou solidariedade aos familiares e à
comunidade.
Nas
redes sociais, a conta do ministério fez uma postagem cobrando rapidez na
investigação e punição do crime.
O
Ministério da Igualdade Racial também enviará uma comitiva para reunião com
órgãos governamentais da Bahia, atendimento aos familiares de Bernadete e
proteção ao quilombo.
Outra
providência será a convocação de uma reunião extraordinária do Grupo de
Trabalho de Enfrentamento ao Racismo Religioso, para que providências sejam
tomadas no âmbito interministerial.
"O
ataque contra terreiros e o assassinato de lideranças religiosas de matriz
africana não são pontuais. Mãe Bernardete tinha muitas lutas, e a luta pela
liberdade e direitos para todo o povo negro e de terreiro tranversalizava
todas", diz nota do ministério.
O
governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT), disse que recebeu com indignação
a notícia sobre o assassinato e determinou que as polícias Militar e Civil
desloquem-se para o local e "sejam firmes na investigação".
Segundo
ele, o governo está empenhado no acompanhamento do caso e no apoio à família e
à comunidade.
"Deixo
aqui meu compromisso na apuração das circunstâncias", afirmou. "Não
permitiremos que defensores de direitos humanos sejam vítimas de violência em
nosso estado".
Outros
políticos baianos lamentarem a morte da líder e pediram justiça. O deputado
federal Valmir Assunção (PT-BA) afirmou ter recebido a notícia com tristeza e
indignação.
"O
governador Jerônimo Rodrigues tem que determinar investigação rigorosa desses
crimes abomináveis, que não podem ficar impunes. Uma perda dolorosa e
irreparável", afirmou a deputada estadual Olívia Santana (PC do B-BA).
A
vereadora Marta Rodrigues (PT), de Salvador, pediu rigor nas investigações.
"Precisamos
nos indignar coletivamente. Não podemos aceitar a morte de uma grande defensora
de direitos humanos Quem matou Bernadete e a mando de quem?", perguntou a
cantora Daniela Mercury.
O
Instituto Marielle Franco também divulgou nota pedindo uma investigação rápida
e responsável do assassinato da líder, uma mulher negra e ialorixá.
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