Foto reprodução
Condições
características do fenômeno El Niño se desenvolveram rapidamente no oceano Pacífico
equatorial. Esse fenômeno, cuja principal assinatura é o aquecimento anômalo da
temperatura da superfície do mar na região do oceano Pacífico equatorial,
começou a apresentar seus primeiros sinais de possível manifestação no mês de
fevereiro, quando surgiram anomalias positivas de temperatura das águas na
região do Pacífico equatorial próximas a costa oeste da América do Sul. No
meses seguintes (entre março e maio), esse aquecimento próximo a costa
sul-americana se intensificou, e houve a expansão para oeste da área de
aquecimento anômalo em direção a porção central do Pacífico equatorial, de modo
que em junho as condições de temperatura da superfície do mar observadas
apresentam um padrão típico do fenômeno El Niño, como ilustrado na Figura 1. Esse
padrão se apresenta na forma de uma faixa de águas quentes em grande parte do
Pacífico equatorial desde a porção central até a costa da América do Sul com
anomalias superiores a 0.5oC. Próximo a costa da América do Sul as anomalias de
temperatura da superfície do mar são superiores a 3oC, enquanto na porção
central e leste do Pacífico equatorial as anomalias são superiores a 1oC.
A
Figura 2 mostra que em maio de 2023 o Índice de Oscilação Sul, que mede a
variação de pressão atmosférica entre Tahiti (na Polinésia Francesa) e Darwin
(no norte da Austrália), apresentou valor -1.0. Este valor negativo indica que
as condições de pressão atmosférica na região do Pacífico central se mostraram
mais baixas do que o normal, e na região do norte da Austrália mais altas do
que o normal, começando a caracterizar condições atmosféricas típicas do
fenômeno El Niño. Em junho, na região do Pacífico equatorial, que vem
apresentando anomalias positivas de temperatura da superfície do mar, surgiram
sinais de atividade convectiva anômala em associação ao desenvolvimento de
nuvens profundas, que são comumente observadas durante episódios El Niño.
Abaixo
da superfície do oceano na região do Pacífico equatorial, até a profundidade de
300 metros, são observadas desde março anomalias positivas das águas
sub-superficiais. Atualmente essas anomalias são superiores a 2oC em uma ampla
faixa desde o Pacífico central até as proximidades da costa oeste da América do
Sul. Essas águas se propagam de leste para oeste através de ondas oceânicas sub-superficiais,
que fornecem energia para a continuidade da manifestação do fenômeno El Niño.
Portanto, todas essas características atmosféricas e oceânicas são consistentes
com as atuais condições do fenômeno El Niño observadas no Pacífico equatorial. No
entanto, vale notar que para incluir a ocorrência de um episódio do fenômeno El
Niño nos registros históricos é necessário aguardar a observação da
persistência de pelo menos 5 períodos com as médias de 3 meses das anomalias da
temperatura da superfície do mar na porção central do Pacífico equatorial com
valores superiores a 0.5oC.
As
previsões de temperatura da superfície do mar para a região do Pacífico
equatorial produzidas por modelos climáticos globais indicam mais de 90% de
probabilidade de que condições de El Niño continuem a se manifestar nos
próximos meses (Julho-Agosto-Setembro 2023), condições estas previstas a
persistir, pelo menos até o final do ano (Figura 3). Alguns modelos climáticos
sugerem a continuidade do desenvolvimento do fenômeno El Niño com intensidade
moderada (com anomalias de temperatura da superfície do mar na região do
Pacífico central superiores a 1oC), enquanto outros sugerem a possibilidade de
um fenômeno de intensidade forte (com anomalias de temperatura da superfície do
mar na região do Pacífico central superiores a 1.5oC).
O
fenômeno El Niño altera os padrões de circulação atmosférica (ventos),
transporte de umidade, temperatura e chuvas, em particular em regiões
tropicais. No Brasil, os principais efeitos do fenômeno El Niño são:
- Região Norte:
secas de moderadas a intensas no norte e leste da Amazônia.
Aumento da probabilidade de incêndios florestais, principalmente em áreas de
florestas degradadas.
- Região Nordeste:
como no leste da Amazônia, secas de diversas intensidades no
norte do Nordeste ocorrem durante a estação chuvosa de fevereiro a maio. Sul e
oeste da Região não são significativamente afetados. Todavia, a Região como um
todo é muito influenciada também pelas variações que ocorrem no Oceano
Atlântico Tropical.
- Região Sudeste:
Moderado aumento das temperaturas médias, principalmente no
inverno e no verão. Não há padrão característico de mudança das chuvas durante
a ocorrência do fenômeno, com exceção do extremo sul do Estado de São Paulo.
Aumento da probabilidade de queimadas durante o período seco, principalmente no
inverno e início da primavera.
- Região Centro-Oeste:
Não há evidências de efeitos pronunciados nas chuvas nesta
Região. Tendência de chuvas acima da média climatológica e temperaturas mais
altas no sul do Mato Grosso do Sul. Aumento da probabilidade de queimadas
durante o período seco, principalmente no inverno e início da primavera.
- Região Sul:
Precipitações abundantes,
principalmente na primavera e verão. Aumento da temperatura média. As frentes frias
que vêm do sul, podem ficar semi-estacionadas por vários dias sobre a Região,
provocando chuvas ao longo de praticamente todo o dia.
Figura
2: Anomalia da temperatura da superfície do mar (série temporal em cores em oC)
na região do oceano Pacífico centro-leste (região Niño-3 ilustrada pelo
retângulo vermelho no mapa no canto superior esquerdo), e Índice de Oscilação
Sul dado pela diferença entre as anomalias padronizadas de pressão ao nível
médio do mar em Tahiti na Polinésia Francesa, e Darwin, no norte da Austrália
(barras em cinza)
No entanto destacamos que nem todo evento El Niño gera impactos típicos, podendo ser observados impactos distintos de acordo com a configuração e intensidade do fenômeno.
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