Foto ilustração
A
política de valorização do salário mínimo tem reflexos sobre as contas públicas
da Previdência Social e dos municípios brasileiros, sobretudo aqueles com menor
população. A opinião é do economista Fernando Dantas. “Boa parte dos municípios
de menor porte têm sua arrecadação vinculada às transferências constitucionais
do Fundo de Participação dos Municípios, cujo valor basicamente serve para
remunerar folhas de pagamentos e financiar a prestação de alguns dos serviços
públicos dos municípios”, explica.
Um
levantamento feito pela Confederação Nacional de Municípios (CNM) revela o
impacto que um reajuste no salário mínimo pode trazer para os cofres
municipais, especialmente para os de pequeno porte. O estudo usou como base o
Projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2024 — enviado
ao Congresso Nacional — que prevê o valor de R$ 1.389 para o
próximo ano. O resultado mostrou uma estimativa de R$ 4,75 bilhões de custos para
os cofres municipais.
De
acordo com Fernando Dantas, esse tipo de reajuste requer uma análise profunda
da situação de cada município. “A elevação do salário mínimo tem o potencial de
impactar as finanças públicas municipais, pressionando as contas públicas e
exigindo maior alocação de recursos para o pagamento de pessoal em detrimento
da alocação de recursos em serviços públicos, impactando assim na qualidade dos
serviços para a população”, avalia.
O
economista da FGV-SP, Renan Gomes de Pieri, diz que a proposta de aumento para
R$ 1.389 representa 5,22% de aumento. “Neste ano, o valor está acima da
expectativa do mercado para o índice de preços de referência, que deve crescer
o INPC — Índice Nacional de Preços ao Consumidor — em torno de 4,75%. A
expectativa é que um aumento desse nível não gere tantos problemas no mercado
de trabalho”.
O
especialista alerta: “Na esfera pública, isso representa um aumento de custos”.
Renan espera que o cenário melhore com o aumento das receitas conforme a
inflação. “Inflação representa o aumento dos preços dos produtos, a arrecadação
dos governos vem das vendas do faturamento das empresas e do consumo das
famílias, então naturalmente com a inflação a receita deve aumentar
proporcionalmente para os municípios”
Maiores
dificuldades para as prefeituras menores
Para
a consultora da BMJ Consultores Associados, Larissa Souza, o ponto a ser
questionado não está na avaliação da política de salário mínimo, mas sim nas
alternativas que o governo federal vai ter que encontrar para conseguir
auxiliar os municípios e os estados a custearem esse reajuste.
“Isso
pode acarretar em dificuldades dessas prefeituras menores de conseguirem arcar
com gastos de folha, gastos com pessoal e também conseguir finalizar obras
públicas e conseguir fazer investimentos para a ampliação de alguns serviços”,
aponta.
Na
opinião da especialista, alguns pontos precisam ser observados. “A gente pode
levar em consideração uma série de iniciativas que a própria confederação dos
municípios está tentando obter por meio de negociações relacionadas à reforma
tributária. Eles estão tentando conseguir formas de se fazer uma revisão desses
valores para que os municípios possam receber recursos maiores, uma
participação maior e uma maior flexibilidade também para definir como que esses
recursos obtidos pelos novos impostos — que vão ser
instituídos — possam ser utilizados pelos municípios”, destaca.
A
consultora acredita que o impacto desse aumento salarial também vai permitir um
maior poder de “barganha” dos municípios junto ao governo federal. “Eles vão
poder buscar outras alternativas para aumentar fundos de desenvolvimento
regional e outros fundos relacionados a municípios pra serviços específicos de
educação, saúde”. Mas Larissa Souza ressalta: “Talvez, esse ajuste seja
avaliado, estudado, mas dificilmente será muito alterado porque ele precisa
obedecer a essa nova política de valorização salarial”, ressalta.
De
acordo com o levantamento da CNM, os estados de Minas Gerais, Bahia e Ceará
concentram o maior número de servidores municipais que recebem até 1,5 salários
mínimos. A soma dos servidores municipais desses três estados corresponde a 1/3
do total de servidores municipais levantados. Por outro lado, os três estados
com a menor concentração de servidores municipais que recebem até 1,5
salário mínimo são: Acre, Amapá e Rondônia, que juntos correspondem a
1,5% do total de servidores municipais com remuneração de até um salário mínimo
e meio.
A
nova política de valorização do salário mínimo tem como cálculo de reajuste
anual do piso nacional, definida pelo Projeto Lei 2.385/2023, que leva em
consideração o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) de 12 meses,
encerrado em novembro do ano anterior — e o crescimento do Produto Interno
Bruto (PIB) consolidado de dois anos antes.
Fonte: Brasil 61
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