O Ministério da Educação (MEC) deu início à nova fase de pactuação de metas para a ampliação de matrículas em tempo integral, no âmbito do Programa Escola em Tempo Integral. Para o advogado especialista em direito educacional, Henrique de Mello Franco, é programa que pode dar certo, mas é preciso pensar que essa modalidade de ensino vai além de uma escola e de um professor. Ele explica que a estrutura física — os prédios — até existe no Brasil o suficiente para ter a grande maioria dos alunos em escolas de período integral. Mas ainda é necessário pensar e organizar todos os outros elementos que integram a discussão.
“Em
termos de professores, existe sim o suficiente. Em termos de gestores, também,
provavelmente, existe o suficiente para fazer esse atendimento. Agora, em
termos dessas pessoas todas organizadas com segurança e com todo tipo de
atendimento em geral, a própria alimentação também, isso precisa ser melhor
equacionado. Esses elementos todos precisam ser melhor ordenados para
disponibilizar o serviço aos alunos”, avalia.
A secretaria de Educação que aderiu à política deve agora indicar se pactuará com o total de matrículas em tempo integral apresentada pelo MEC, chamada de pré-meta, ou se optará por um quantitativo menor neste primeiro ciclo de pactuação. Além disso, deverá indicar em quais segmentos da educação básica criarão as matrículas em tempo integral: creche ou pré-escola, no caso da educação infantil; ou anos iniciais e finais do ensino fundamental. No caso de rede estadual, pode ser indicado também o ensino médio.
Para
o professor da Educação Básica da Secretaria de Educação do
DF Alessandro Araújo é importante que o programa também ofereça
condições de melhorias para as escolas. “Hoje, nem todas as escolas possuem
estrutura suficiente para educação em tempo integral”, aponta. Ele acrescenta
que a educação em tempo integral está muito além.
“Nós
precisamos de uma quadra de esporte ou mesmo um refeitório para que os alunos
possam almoçar e tomar um lanche decentemente. A estrutura de uma escola em
tempo integral passa também pela questão da acessibilidade, da formação dos
professores, da formação dos agentes de educação e, principalmente, da adesão
da comunidade e sua participação efetiva junto às escolas”, lembra.
Mas
Alexandre Veloso diz que ainda existem dificuldades por parte dos estados
e municípios em relação à implementação do programa. “A grande maioria das
escolas possui toda a sua grade horária comprometida com aulas, pela manhã, à
tarde e muitas inclusive à noite.”, destaca. Ele entende a importância de
realizar esse trabalho, mas acredita que não é necessário que a criança fique
naquele mesmo espaço da escola.
Convênios
“Os
estados e municípios podem fazer convênios com instituições parceiras, como por
exemplo, Secretaria de Educação, Secretaria de Esporte, para ofertar para esses
alunos atividades no contraturno, como esporte, como arte, como música. Isso
exigirá dos gestores uma boa articulação para que realmente possam ser
implementados e entregues uma escola de tempo integral de qualidade para os
alunos da rede pública”, observa.
Na
opinião do advogado especialista em direito educacional, Henrique de Mello
Franco, a educação, especialmente educação pública, é um assunto bastante
complexo. “Todos nós sabemos que a educação é o melhor meio para a melhoria da
sociedade. E se eu tivesse que indicar apenas um ponto para a melhoria da
educação no Brasil, eu indicaria a remoção de recursos públicos do ensino
superior e colocação desses recursos na educação básica”, salienta.
Ele
entende a importância do programa, mas avalia a necessidade de melhorar alguns
pontos antes de implementar novos projetos. “Acredito que, no Brasil, a educação
básica ainda falha bastante e, portanto, é mais prioritária do que o ensino
superior. Me parece muito racional, se eu fosse um gestor público, direcionar,
por exemplo, 1 milhão de reais, em vez de este 1 milhão ser utilizado para
formar algumas dezenas de alunos no ensino superior, esse mesmo um milhão ser
usado para atender algumas centenas de estudantes na educação básica,
especialmente nas creches”, destaca.
Escolas
precisam ser mais atrativas
O
professor da Educação Básica da Secretaria de Estado da Educação do
GDF Alessandro Araújo reconhece os avanços na educação brasileira,
mas diz que ainda tem muito para melhorar. “O próprio plano nacional de
educação, que foi estabelecido pela Lei de 3005 de 2014, prevê 20 metas para
educação nacional até o ano de 2024. Dentro dessas metas, algumas não foram
alcançadas e outras ainda precisamos discutir, como por exemplo a
universalização do atendimento escolar, a melhoria da qualidade do ensino, a
erradicação do analfabetismo e a valorização dos profissionais de educação”,
cita.
Araújo
aponta a falta de atratividade das escolas como um dos fatores para o baixo
número de estudantes interessados. “As escolas precisam ser visualmente
atraentes para que as pessoas, os agentes ali envolvidos, possam se sentir felizes
a estarem frequentando aquele ambiente. Essa degradação da educação escolar faz
com que temas como educação domiciliar possam ser discutidos de maneira mais
ampla. Isso coloca em xeque a questão da educação de qualidade dentro das
escolas públicas”, ressalta.
O
Conselheiro de Educação do DFAlexandre Veloso diz que também existe uma
defasagem muito grande de vagas nos primeiros anos de creche e pré-escola. “Só
como exemplo, na capital do país, nós temos hoje uma defasagem de mais de 15
mil vagas para crianças de creche e pré-escola. Isso demonstra a necessidade de
maior investimento nessas áreas de educação inicial, educação infantil.
Escola
em tempo integral x Aula em tempo integral
O
presidente da Associação de Pais e Alunos das Instituições de Ensino do
Distrito Federal (ASPA-DF) e Conselheiro de Educação do DF, Alexandre Veloso,
ressalta que existe uma diferença entre escola em tempo integral e aula em temo
integral “Escola em tempo integral é aquele espaço que o aluno vai ficar dois
turnos num espaço escolar, mas que ele possa ter ali na sua grade a
oportunidade de experimentar outras vivências, como a leitura, a música, o
esporte, a arte e outras disciplinas que possam ser ofertadas para esse aluno
de escola em tempo integral”, explica.
Já
com relação às aulas, Veloso informa. “Aulas em tempo integral o aluno na
verdade faz aulas de manhã e por exemplo, a tarde continua fazendo outras aulas
ou aulas de reforço. Isso não é escola em tempo integral. A associação vai
acompanhar, orientar os pais para que os alunos que, eventualmente, possam
estar sendo contemplados por essas escolas de tempo integral, possam saber o
que exigir dos governos, dos municípios em relação a essa escola em tempo
integral, para que eles possam ter essas experiências em outros campos da
educação”, alerta.
A fase de pactuação de metas para a ampliação de matrículas em tempo integral no âmbito do Programa Escola em Tempo Integral deve ser realizado até o dia 15 de outubro, por meio do Sistema Integrado de Monitoramento Execução e Controle (Simec). As secretarias de educação devem apresentar ao MEC sua Política de Educação Integral ou, no caso de ainda não a ter, devem elaborar uma política local e aprová-la junto ao Conselho de Educação. Para os estados ou municípios que não têm uma política de educação integral local, o prazo para apresentá-la ao MEC foi prorrogado até o dia 1º de março de 2024.
As
secretarias interessadas em ampliar a quantidade de matrículas em tempo
integral, para além do que o MEC apresentou, devem manifestar interesse na
etapa seguinte, chamada de Redistribuição de Matrículas, que começa no dia 16
de outubro, também por meio do Simec.
Fonte:
Brasil 61
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