Especialista explica que população tem tendência a guardar notas de maior valor, que somem do mercado. Foto: Raphael Ribeiro/BCB
Há
três anos, em setembro de 2020, o Banco Central (BC) anunciou a criação da
cédula de R$ 200. À época, a autoridade monetária afirmou que a nota de
200 reais teria o objetivo de facilitar o pagamento do auxílio
emergencial. Além disso, poderia evitar a falta de papel-moeda com as reservas
em dinheiro na pandemia.
No
entanto, passado esse período, a nota ainda está longe de estar no dia a dia
dos brasileiros, como mostram os próprios dados do BC. De acordo com as
estatísticas da autoridade monetária, apenas 132 milhões de cédulas de R$
200 circulam hoje. Isso representa menos que a própria nota de R$ 1,
aposentada em 2005.
Para
efeito de comparação, esse total é o equivalente a cerca de 14 vezes menos
que as notas de R$ 50 e de R$ 100. Essas são as cédulas que mais circulam hoje.
Ao todo, são 1,74 bilhão de notas de R$ 50 e 1,81 bilhão de notas de R$ 100 na
praça.
Nota
de 200 reais ainda existe?
Sim,
existe. Mas onde ela está? A resposta para essa pergunta é que a maior
parte está… guardada. O Banco Central informa que encomendou 450 milhões de
cédulas em 2020, quando lançou a nova nota com a estampa do lobo-guará.
Portanto,
temos cerca de 318 milhões de cédulas (ou pouco mais de 70% do total)
aguardando para entrar em circulação. Procurado pela Inteligência
Financeira, o Banco Central afirma que a distribuição “vem evoluindo em linha
com o esperado”.
O
Banco Central também diz que mais notas serão liberadas conforme demanda do
mercado. “Esse ritmo é definido pela demanda dos bancos, que reflete a da
população pelo uso da cédula”, diz a autoridade monetária
Mas
e as cédulas que estão no mercado, cadê?
Paula
Sauer, professora da FIA Business School, cita três motivos para que se perceba
pouco a presença da nota no dia a dia.
O fenômeno do “entesouramento”
A
criação do Pix
A
inadequação da nota de 200 reais às pessoas com deficiência visual
O
fenômeno do entesouramento
De
acordo com a especialista, há na economia um fenômeno que faz com que as
pessoas em geral deem maior importância a uma nota de valor maior do que a
várias notas de menor valor que representam a mesma quantia.
Por
exemplo, uma nota de R$ 200 e dez notas de R$ 20. Apesar de estarmos falando do
mesmo valor, há a tendência de que os brasileiros armazenem a cédula de numeral
mais alto, enquanto gastam mais facilmente as de valor nominal mais baixo.
“É
como se esse mesmo dinheiro tivesse funções diferentes, um é pra guardar, o
‘outro é pra gastar’. Não parece fazer muito sentido, ou ser mesmo uma atitude
muito racional, mas se pararmos para pensar, talvez até nos lembremos de
exemplos onde nós mesmos agimos assim”, explica a professora da FIA.
Mais
Pix e menos notas de 200 reais
Paula
Sauer cita que, do momento do anúncio da cédula de R$ 200 até hoje, tivemos uma
grande mudança, que foi o surgimento do Pix ,
em 2021. A ferramenta de transferências permitiu que os brasileiros façam mais
pagamentos sem a necessidade de papel-moeda, explica.
“O
advento de outros meios de pagamento como o Pix, a ‘uberização’ da economia,
que nos disponibilizaram outras formas de efetuar pagamentos, enviar e receber
recursos mais práticas, tão rápidas quanto e em muitas ocasiões mais seguras do
que andar por aí com dinheiro no bolso.
Defensoria
contestou tamanho da nota de 200 reais na Justiça
A
professora cita ainda uma controvérsia que começou em 2020 e segue até hoje. A
nota de R$ 200 tem o mesmo tamanho que a nota de R$ 20. Em ação aberta na
Justiça e ainda não julgada, a Organização Nacional de Cegos do Brasil (ONCB)
em conjunto com a Defensoria Pública pede que o Banco Central altere o padrão
da nota.
“Para
os que não enxergam, ou tem deficiência visual grave, o tamanho idêntico da
cédula é um problema, a solicitação da Organização para mudança do tamanho da
nota geraria retrabalho e custo, menos um ponto a favor da nota do Lobo Guará”,
explica Paula Sauer.
À
época, o Banco Central argumentou que não haveria tempo hábil para modificar o
tamanho da cédula nem acionar um fornecedor estrangeiro. O Bacen afirmou ainda
que ter um tamanho semelhante ao de outra nota já existente facilitaria a
adoção da cédula pelo sistema financeiro.
Como
o Banco Central coloca novas notas no mercado
A
professora Paula Sauer explica que há duas situações que levam o Banco Central
a colocar novas notas no mercado. Uma delas é o crescimento da circulação de
dinheiro vivo no país e a outra é quando é preciso substituir cédulas e moedas
desgastadas ou avariadas.
“Após
a fabricação, as notas e moedas as notas e moedas seguem para o Banco Central
de onde são encaminhadas ao Banco do Brasil, que é contratado para distribuir o
dinheiro entre os demais bancos. Por esse trabalho, fiscalizado pelo Banco
Central, o distribuidor é chamado de custodiante”, explica a professora.
Fonte: Artigo publicado originalmente por Lívia Venaglia jornalista do Inteligência Financeira
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