Terceira colocada no primeiro turno, Patricia Bullrich anuncia que vai apoiar Javier Milei – de quem foi alvo de ataques na campanha – na disputa contra Sergio Massa. “Quando a pátria está em perigo, tudo é permitido.”A candidata derrotada Patricia Bullrich anunciou nesta quarta-feira (25/10) que apoiará Javier Milei no segundo turno das eleições presidenciais da Argentina, que será disputado entre o ultradireitista e o ministro peronista Sergio Massa. Bullrich, uma conservadora “tradicional”, terminou a disputa do primeiro turno com 23,8% dos votos, abaixo dos 30% de Milei e dos 36,7% de Massa.
Ao
anunciar sua decisão, Bullrich disse que pretende apoiar o que ela chamou de “a
mudança” representada por Milei, um economista novato na política argentina que
se notabilizou por uma campanha populista e agressiva e por propostas como a
dolarização total da economia argentina.
“A
urgência do momento obriga-nos a não sermos neutros”, disse Bullrich em
coletiva de imprensa. “A Argentina não pode iniciar um novo ciclo kirchnerista
liderado por Sergio Massa”, disse, em referência ao atual ministro da Economia,
que é aliado do kirchnerismo. “Quando a pátria está em perigo, tudo é
permitido”, continuou, usando uma frase atribuída a José de San Martín, militar
e estadista argentino do século 19.
“Temos
diferenças com Milei, por isso competimos. No entanto, enfrentamos o dilema da
mudança, ou da continuidade mafiosa. A maioria escolheu a mudança, nós a
representamos”, finalizou Bullrich, que é do mesmo grupo político do ex-presidente
liberal Mauricio Macri (2015-2019) e que liderou uma campanha focada na
segurança pública.
Ataques
Durante
a disputa do primeiro turno, o ultraliberal Milei fez pesados ataques pessoais
contra Bullrich, explorando e distorcendo o passado da atual política
conservadora durante a ditadura. Nascida em uma família rica, Bullrich foi
inicialmente membro da juventude peronista de extrema esquerda nos anos 1970.
Durante a ditadura argentina, ela foi presa e chegou a se exilar no Brasil.
Posteriormente, morou na Espanha.
Esse
passado foi usado por Javier Milei na campanha, que acusou, sem provas, a rival
de “terrorismo” e de colocar “bombas em jardim de infância”. Bullrich sempre
negou ter participado em ações de guerrilha.
Após
a apuração indicar sua passagem para o segundo turno, Milei já havia feito
acenos para o grupo político de Bullrich, argumentando que ambos têm um
adversário em comum: o peronismo kirchnerista, o grupo político da
ex-presidente e atual vice-presidente Cristina Kirchner, de quem Massa
atualmente é aliado, apesar de não ser exatamente membro do kirchnerismo.
“Todos
nós que queremos mudanças temos que trabalhar juntos”, disse Milei no domingo.
Com o tom habitual da sua campanha, Milei afirmou que “o kirchnerismo foi a
pior coisa que aconteceu à Argentina”. “Há dois anos viemos disputar o poder
contra a coisa mais desastrosa da história da democracia moderna. Durante todos
esses meses, a campanha fez com que muitos de nós, que queremos mudanças, nos
encontrássemos em conflito. Estou disposto a virar a página com o objetivo de
acabar com o kirchnerismo”, afirmou Milei.
Após
o anúncio de Bullrich nesta quarta-feira, Milei publicou em sua conta na rede X
(ex-Twitter) um desenho que mostra um leão e um pato abraçados – uma referência
ao apelido de Patricia “Pato” Bullrich e o felino usado como símbolo pelos
apoiadores de Milei.
Bullrich
apoia, mas sua coligação é outra história
No
segundo turno, os eleitores da conservadora Bullrich devem ser decisivos para a
escolha do novo presidente. Somado, o eleitorado de Milei e Bullrich, dois
candidatos de direita, somou mais de 50% dos votos válidos no primeiro turno, o
que sinaliza uma segunda rodada desafiadora para Massa.
No
entanto, o apoio de Bullrich não significa que Milei pode garantir todos os
votos da conservadora. A própria Bullrich esclareceu nesta quarta-feira que não
falava em nome do seu partido, o Proposta Republicana (PRO), nem da sua
coligação, a Juntos pela Mudança (JxC), que não é exatamente um bloco
homogêneo.
Setores
do PRO, especialmente aqueles ligados ao ex-presidente Macri, já vinham
mostrando uma tendência de apoio a Milei. Mas o apoio não é monolítico. O atual
prefeito de Buenos Aires, Horacio Rodríguez Larreta, outra figura importante do
PRO, já disse que não pretende apoiar Milei.
A
situação também se repete dentro de outro membro importante da coligação, a
União Cívica Radical (UCR), uma legenda de centro-esquerda não peronista, que,
embora seja oponente do kirchnerismo, não é radicalmente contra no mesmo nível
do PRO de Bullrich e Macri. Durante a campanha, Milei direcionou vários ataques
à UCR, a quem chamou de “traidores”.
A
posição de Bullrich também não reflete a da Coalizão Cívica, outro membro da
JxC. Após o anúncio do apoio da candidata derrotada a Milei, a presidente da
Coalizão Cívica, Elisa Carrió, rechaçou apoiar o ultradireitista. “Não vamos
dar um salto no vácuo. Patricia [Bullrich] está cometendo um erro histórico”,
disse, acusando ainda o ex-presidente Macri de “destruir” a JxC por causa da
aproximação com Milei. “Macri sempre jogou por Milei e pela destruição da JxC”,
disse a política, que defende o voto nulo no segundo turno.
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post Na Argentina, conservadora declara apoio a ultradireitista apareceu
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