Em
2023, a indústria química brasileira está no nível mais baixo de
capacidade produtiva dos últimos 20 anos, segundo a Associação Brasileira
da Indústria Química (Abiquim). O presidente da entidade, André Passo Cordeiro,
diz que o país precisa de uma combinação de política industrial e de
comércio exterior para a retomada da produção de químicos.
Durante
o seminário “Neoindustrialização: Inovação e Descarbonização", ocorrido no
último dia 17 na Câmara dos Deputados, André Passos Cordeiro
criticou a falta de incentivos para a utilização de matérias-primas
verdes, como o gás natural.
“Nós
estamos colocando em risco R$ 33 bilhões de massa salarial, 190 bilhões de
dólares de faturamento de PIB no nosso país porque a gente não avança com a
velocidade necessária na viabilização do fornecimento do gás a preço
competitivo no Brasil e na criação de instrumentos econômicos de estímulo ao
uso de matérias-primas verdes, como etanol, os óleos vegetais e biomassa”,
ressalta.
Para
ele, o gás natural — matéria-prima que pode ser utilizada na produção de
substâncias químicas importantes, como anestésicos — é uma possibilidade viável
e sustentável para o país retomar o crescimento industrial, em especial o setor
químico, mas enfrenta dificuldades diante do cenário geopolítico que permite
a China, Rússia e Índia comercializarem o produto 48% mais barato que no
Ocidente.
“É
vital que a gente tenha uma política industrial que permita à indústria química
acessar o gás natural e as suas frações, etano, propano e butano, se a gente
quiser conservar a indústria química no Brasil”, afirma o Cordeiro. Segundo a
Abiquim, a indústria química brasileira é a sexta maior do mundo e responde por
dois milhões de empregos diretos e indiretos e 12% do PIB industrial.
Plano
de desenvolvimento
O
gás natural faz parte de uma lista extensa de mecanismos sustentáveis — como a
regulamentação do mercado de carbono, hidrogênio verde, dentre outros — que
devem influenciar no desenvolvimento não só do setor químico, mas da indústria
de modo geral, segundo os participantes do seminário. Eles defendem
a criação de uma política industrial baseada na agenda ambiental e na
inovação.
O
diretor de Planejamento e Estruturação de Projetos do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Nelson Barbosa, considera a
indústria o “miolo da economia”, de modo que, ao se desenvolver, impulsiona
outros setores econômicos.
“Política
industrial é intensiva inovação. A indústria está sempre se renovando, sempre
inovando. Por isso, é crucial ter um apoio à inovação. Outro desafio importante
é a transição ecológica. Está ficando claro que não dá para ter um padrão de
desenvolvimento igual ao século XX, o mundo não aguenta. Você tem que
substituir as estruturas existentes por novas estruturas: reurbanização,
recondicionamento de fábricas, novas fontes de energia, reciclagem,
despoluição. Isso gera emprego”, defende Barbosa.
Professor
de economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Paulo Gala pontua que o Brasil
enfrenta dificuldades para tornar sua indústria competitiva, tanto interna
quanto externamente. No âmbito nacional, ele traz como exemplo a complexidade
tributária e a falta de infraestrutura. Já os aspectos internacionais estão
relacionados ao domínio americano e europeu sobre as tecnologias e a
predominância asiática — especialmente da China — na escala de
produção. Entretanto, o economista aponta um trunfo brasileiro: a transição
ambiental e energética.
“Para
o Brasil, a agenda ambiental e de transição é uma grande oportunidade de
desenvolvimento econômico. O Brasil não só tem que avançar em termos ambientais
pela questão da preservação ambiental, mas tem que encarar isso como uma grande
oportunidade de desenvolvimento econômico e de reindustrialização. O negócio
brasileiro é a economia verde. É assim que o Brasil vai conseguir se
reindustrializar, é assim que o Brasil vai conseguir ganhar dinheiro, é assim
que o Brasil vai conseguir avançar no mundo”, defende.
O
presidente da Comissão de Indústria, Comércio e Serviços, deputado Heitor
Schuch (PSB-RS), defende que incentivar o crescimento da indústria é uma
tarefa necessária para o crescimento econômico brasileiro, com geração de
emprego e renda. O parlamentar destaca que a chamada
neoindustrialização deve ser pautada na utilização de mecanismos
sustentáveis para reduzir os impactos das mudanças climáticas no Brasil e no
mundo.
“Quando
a gente vê tanta mudança climática no mundo e nós aqui no Brasil também já
estamos sentindo isso. Nunca vi tanta enchente no sul e tanta seca no Norte.
Isso nos mostra que está na hora da gente fazer a troca, fazer o câmbio porque
do jeito que nós estamos indo está errado nós vamos poluir cada vez mais
o planeta, produzir cada vez mais lixo”, destaca.
Fonte: Brasil 61
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