© AP - Josh Reynolds
O prêmio Nobel de Economia foi concedido à americana Claudia Goldin, nesta segunda-feira (9). Terceira mulher premiada na história, a professora da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, foi distinguida por "ter feito avançar nossa compreensão dos resultados da participação das mulheres no mercado de trabalho", anunciou o júri. “É um prêmio muito importante, não só para mim, mas para muitas pessoas que trabalham nesta temática e que tentam explicar porque é que persistem grandes desigualdades”, apesar de “desenvolvimentos importantes”, disse ela à AFP.
Claudia
Goldin gosta de se definir como uma “detetive”. Combinando abordagem histórica
e teoria econômica, a norte-americana examinou o emprego das mulheres,
destacando as causas das desigualdades salariais.
Primeira
mulher nomeada para chefiar o departamento de economia de Harvard, esta
economista de 77 anos retraçou o longo percurso dos trabalhadores americanos
rumo à igualdade, sublinhando o papel da história e dos avanços tecnológicos na
sua integração no mercado de trabalho, mas também as dificuldades que as
mulheres tiveram que enfrentar para equilibrar carreira e família desde o
início do século XX.
Claudia
Goldin identifica cinco períodos: primeiro os anos 1900-1920, quando o pequeno
número de mulheres qualificadas teve que escolher entre o trabalho e a família
(menos de um terço das que trabalhavam tinham filhos), depois os anos
1920-1940, quando muitas mulheres deixaram de trabalhar para começar uma
família, devido à Grande Depressão.
Depois
veio a guerra e, até à década de 1960, um período em que as mulheres foram
pressionadas a ter filhos e só regressaram ao trabalho depois de tê-los
criados, com perspectivas limitadas. Graças ao advento da pílula, as mulheres
nascidas nas décadas de 1970 e 1980 começaram a priorizar suas carreiras e mais
de um quarto nunca tiveram filhos.
A
última geração tentou conciliar carreira e família, ajudada pelos avanços na
procriação medicamente assistida, mas sem conseguir igualdade salarial ou
igualdade na relação.
No
seu último trabalho publicado em 2021 nos Estados Unidos, "Career and
family: women's century-long journey towards equity" (Carreira e família:
a jornada centenária das mulheres rumo à equidade, em português), Claudia
Goldin explica a persistência destas disparidades e
como elas se alimentam mutuamente através do “trabalho voraz”, ou seja, o fato
de muitas profissões pagarem mais pela disponibilidade dos funcionários, longas
horas de atividade e trabalho aos fins de semana.
“A
igualdade no casal custa dinheiro, e quanto mais voraz o trabalho, mais custosa
é essa busca pela igualdade”, enfatiza.
Arqueologia
como primeira paixão
Esta
pioneira no estudo do gênero no trabalho, que também escreveu sobre escravidão,
corrupção e educação, interessou-se primeiro pela economia da família.
"Este
trabalho me ocupou durante algum tempo, mas por volta de 1980 percebi que
faltava alguma coisa. Estava negligenciando o membro da família que iria experimentar
a mudança mais profunda a longo prazo - a esposa e a mãe. Negligenciei-o porque
as fontes fizeram isso”, confidencia em um breve ensaio autobiográfico,
publicado em 1998.
O
texto abre com esta frase: “Sempre quis ser detetive e finalmente consegui”.
Original do Bronx, nascida em 14 de maio de 1946, Claudia Goldin se apaixonou
pela arqueologia pela primeira vez graças às tardes passadas entre as múmias do
Museu de História Natural para fugir do calor dos verões nova-iorquinos.
Na
época, ela descobre a magia do microscópio e decide desvendar os segredos das
bactérias. Foi com a ideia de se tornar microbiologista que ela se matriculou
na Universidade Cornell. Mas o curso do professor Alfred Kahn sobre organização
industrial introduziu-a num campo de investigação totalmente novo: Claudia
Goldin acabaria por se tornar economista.
Ela
descreve com paixão e deleite as horas gastas vasculhando arquivos para
desenterrar dados sobre disparidades salariais, negócios assumidos por mulheres
após a morte de seus maridos e até mesmo políticas empresariais relacionadas ao
emprego - ou não-emprego de mulheres casadas.
Apaixonada
por ornitologia, caminhadas e cães – seu golden retriever Pika tem página
própria em seu site em Harvard. Claudia Goldin é casada com o economista Larry
Katz. Em 2014, ela fundou um programa destinado a incentivar mais jovens ao
estudo de Economia.
Com informações da AFP
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