Cresce
na Câmara dos Deputados o número de projetos de lei que tentam acabar com a
isenção do Imposto de Importação federal para compras no comércio eletrônico. O
varejo e a indústria nacionais veem de forma positiva o fim do benefício para
quem compra em plataformas estrangeiras, pois dizem que a isenção desequilibra
a competição e gera queda na produção e no emprego.
Seis
projetos de lei — a maioria protocolada este ano — tratam
da isenção do imposto de importação, alguns para acabar com a desoneração, outros para aumentá-la. Por tratarem de conteúdo
semelhante, essas propostas foram apensadas ao PL
2339/2022. O texto estabelece regras para o comércio eletrônico de remessas
internacionais.
De
autoria do deputado federal Félix Mendonça Júnior (PDT-BA), o projeto prevê o
recolhimento do Imposto de Importação em todas as compras internacionais feitas
pela internet. Atualmente, o governo federal isenta do tributo as transações
até o limite de 50 dólares, desde que as plataformas estejam cadastradas no
Programa Remessa Conforme. A proposta tramita na Comissão de Finanças e
Tributação, onde aguarda parecer do relator, o deputado federal Paulo Guedes
(PT-MG).
Um
dos projetos de lei apensados à proposta principal tem autoria do deputado
federal Júlio Lopes (PP-RJ). O parlamentar é um dos críticos à isenção.
"Como nós não podemos equalizar fazendo uma isonomia entre aquilo que está
sendo cobrado das empresas estrangeiras, nós obviamente não podemos deixar que
essa situação permaneça. A menos que a gente tivesse condição de isentar o
varejo e a indústria do Brasil", afirma.
Questionado
sobre o aumento do preço dos importados em caso de fim da isenção, Lopes afirma
que o modelo atual vai gerar impactos negativos para os consumidores
brasileiros. "O que o consumidor vai entender é que ele está pagando de
qualquer forma, porque ele pode estar pagando mais barato na mercadoria, mas
ele está pagando com desemprego, ele está pagando com inflação, ele está
pagando com juros mais altos, ele está pagando com o desequilíbrio das contas
brasileiras, ele está pagando sob todos os aspectos da cidadania",
pontua.
Segundo
Suély Mühl, assessora jurídica da Associação Brasileira das Indústrias de
Calçados (Abicalçados), a "falta de isonomia tributária" gera
impactos negativos no emprego. "A produção do país fica impactada, diminui
drasticamente — e também automaticamente os postos de
trabalho. Se não há trabalho, não há renda. Se não há renda, não há como haver
as compras", diz.
Entenda
A
maior parte desses projetos visa alterar o Decreto-Lei 1.804/1980. O segundo artigo dessa norma dá ao
Ministério da Fazenda a prerrogativa de isentar do Imposto de Importação as
compras de até 100 dólares. Segundo entendimento do Superior Tribunal de
Justiça (STJ), o decreto dá ao governo a opção de conceder ou não a
isenção.
Com
base nesta interpretação do decreto, o Ministério da Fazenda publicou uma portaria em 1999 que isenta as remessas internacionais de
até 50 dólares — dentro do teto de 100 dólares, portanto
—, desde que vendedor e comprador fossem pessoas físicas.
Este
ano, a tributação do e-commerce voltou aos holofotes e o governo federal editou
nova
portaria instituindo o Programa Remessa Conforme. A principal diferença
desta portaria para a publicada há 24 anos é a possibilidade de isenção do
imposto mesmo quando o remetente (vendedor) for pessoa jurídica, o que engloba
as gigantes varejistas asiáticas.
Ao ampliar as possibilidades de isenção dentro do limite de até 50 dólares, o governo viu as críticas do setor produtivo aumentarem. Se antes o desconforto do varejo se dava, principalmente, por falhas na fiscalização brasileira, permitindo que produtos enviados por empresas entrassem no país sem tributação, agora as empresas brasileiras alegam condições injustas de competição.
Fonte: Brasil 61
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