Por: Fabricio de Castro/ Reuters
A
afirmação do presidente do pais durante a tarde de que a meta
de resultado primário zero em 2024 dificilmente será alcançada azedou o clima
no mercado brasileiro nesta sexta-feira, fazendo as taxas dos DIs encerrarem o
dia em forte alta, superior a 20 pontos-base nos principais vencimentos.
Em
conversa com jornalistas no Palácio do Planalto, Lula disse que entende que a
disposição do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mas fez uma série de
ponderações sobre a meta.
“Nós
dificilmente chegaremos à meta zero, até porque não quero fazer cortes em
investimentos de obras", afirmou o presidente.
“Tudo
que a gente puder fazer para cumprir a meta fiscal a gente vai fazer. O que eu
posso dizer é que ela não precisa ser zero, a gente não precisa disso. Eu não
vou estabelecer uma meta fiscal que me obrigue a começar o ano fazendo corte de
bilhões nas obras que são prioritárias para este país”, acrescentou.
Antes
da fala de Lula, publicada às 13h55, as taxas dos DIs (Depósitos
Interfinanceiros) operavam próximas da estabilidade. Mais cedo, algumas delas
chegaram a oscilar no território negativo.
“O
(contrato para) janeiro de 2026 chegou a cair alguns bips e agora está abrindo
18 bips, que é um movimento enorme para cima”, comentou durante a tarde Laís
Costa, analista da Empiricus Research.
Na
prática, os receios em torno do cumprimento da meta fiscal em 2024, que já
permeavam o mercado, foram reforçados pela fala de Lula, que coloca em dúvida o
espaço do Banco Central para reduzir a taxa básica Selic no futuro. A visão é
de que os cortes de 0,50 ponto percentual da Selic continuarão nas próximas
reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, mas as dificuldades
fiscais do governo limitarão o nível terminal da taxa básica no atual ciclo.
“O
mercado estava acompanhando bem o exterior, estava relativamente calmo, o
problema foi a fala do presidente. O cenário virou completamente”, pontuou
Costa. “No fim das contas, se não temos uma regra fiscal a ser perseguida, não
há ancoragem de inflação e não há ancoragem fiscal”, acrescentou.
A
taxa do contrato futuro para janeiro de 2026, que chegou a oscilar levemente no
negativo, subiu 26 pontos-base no pico da sessão, às 15h25. No fechamento,
acomodou-se um pouco, mas ainda assim com alta firme.
O
movimento de alta das taxas no Brasil foi favorecido também durante o início da
tarde, ainda que em menor proporção, pelo avanço dos rendimentos dos
Treasuries.
Nos
EUA, investidores ponderavam os dados econômicos divulgados durante a semana,
como o Produto Interno Bruto e o índice de preços PCE, além dos desdobramentos
do conflito entre Israel e Hamas no Oriente Médio.
No
fim da tarde, porém, o rendimento do Treasury de 10 anos -- referência global
de investimentos -- já havia migrado para o negativo, em meio à baixa do índice
de ações S&P em Nova York, com a percepção de maior risco global permeando
os negócios. Durante a tarde, a Jordânia informou que Israel havia lançado a
guerra terrestre em Gaza. Em busca de proteção, investidores saíram do mercado
de ações e buscaram a renda fixa norte-americana, o que colocou os yields em
baixa.
Na
próxima semana, as atenções estarão voltadas para a quarta-feira, quando
ocorrem as decisões de política monetária do Federal Reserve e do Banco Central
do Brasil.
Perto
do fechamento desta sexta-feira a curva a termo precificava em 97% as chances
de o corte da taxa básica Selic na próxima semana ser de 0,50 ponto percentual.
Já as chances de corte de apenas 0,25 ponto percentual eram precificadas em 3%.
Estes percentuais vêm se repetindo desde quarta-feira da semana passada.
Atualmente, a Selic está em 12,75% ao ano.
No
fim da tarde, a taxa do DI para janeiro de 2025 estava em 10,98%, ante 10,797%
do ajuste anterior, enquanto a taxa do DI para janeiro de 2026 estava em
10,795%, ante 10,578% do ajuste anterior.
Entre
os contratos mais longos, a taxa para janeiro de 2027 estava em 10,95%, ante
10,723%, enquanto a taxa para janeiro de 2028 estava em 11,195%, ante 10,986%.
Às
16:41 (de Brasília), o rendimento do Treasury de dez anos --referência global
para decisões de investimento-- caía 0,80 ponto-base, a 4,8367%.
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