O presidente Lula e o ministro da Justiça Flávio Dino.| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Levado mais uma vez por seu piloto automático, que entra em ação sempre que os gatos gordos de Brasília se veem diante de alguma dificuldade, o governo Lula acaba de passar um novo recibo. O Ministério da Justiça, logo ele, enrolou-se num caso de convívio amistoso com o crime organizado. Uma reportagem do jornal O Estado de S. Paulo, recém-publicada, revelou que a mulher do chefe do Comando Vermelho no Amazonas foi recebida duas vezes no edifício sede do ministério, este ano, por dois secretários e dois assessores do ministro Flávio Dino.
É
coisa que não tem desculpa. Como uma dirigente de organização criminosa (a
polícia aponta a visitante, que, aliás, está condenada a 10 anos de cadeia,
como a gerente financeira do grupo) poderia circular livremente pelos gabinetes
do Ministério da Justiça? Ao invés de pedir desculpas, porém, e de tomar alguma
providência contra os responsáveis, o governo Lula declarou guerra aos fatos.
Apresentou-se como vítima dos “fascistas” e de fake news – uma mentira
flagrante que só serve para sugerir que existem, mesmo, problemas sérios nas
relações entre governo federal e crime organizado. Se não existissem, por que
tanto esforço para ocultar a realidade?
O
que fica de indiscutível, nessa história toda, é o miserável fracasso do Ministério
da Justiça no combate ao crime organizado.
Lula,
após dois dias de dúvida sobre o que fazer, fez a coisa errada – soltou um
irado manifesto de apoio ao ministro Dino, que segundo ele sofreu “acusações
absurdas” e “ataques artificialmente plantados”. É falso. A reportagem não diz,
em nenhum momento, que o ministro recebeu a “Dama do Tráfico”; informa, apenas,
que quatro de seus funcionários receberam, um fato acima de qualquer dúvida.
Não se acusou ninguém e não se “plantou” nada; absurda, na verdade, é a
declaração do presidente.
O
ministro dos Direitos Humanos, que também foi flagrado no caso pagando diárias
para a gerente do CV ir à Brasília, afirmou que os responsáveis pela divulgação
dos fatos são “próceres do fascismo à brasileira”. Quem é “prócer do fascismo”?
O jornal? Os jornalistas que fizeram a reportagem? O ministro não diz. O
próprio Dino, enfim, achou conveniente comparar Israel ao Rei Herodes da
Bíblia, e os palestinos à Sagrada Família em fuga para o Egito; imaginou que
assim estaria desviando o assunto.
O
que fica de indiscutível, nessa história toda, é o miserável fracasso do
Ministério da Justiça no combate ao crime organizado – uma de suas funções
essenciais. Após quase um ano inteiro de governo, tudo o que o governo Lula tem
de concreto para apresentar no assunto são as visitas da “Dama do Tráfico”. O
resto é pura fumaça. O ministro anuncia milhões e bilhões para a polícia. Acha
que falando de verbas, a respeito das quais não se sabe nada, mostra para o
público que o problema está resolvido – mas resultado, mesmo, não houve nenhum
até agora.
No
último dos seus surtos, colocou o Exército a controlar malas em aeroportos. É,
além de jogar dinheiro público pela janela, pura simulação de atividade: as
pessoas ficam vendo os soldados, mas a possibilidade de que eles façam alguma
coisa útil olhando as esteiras de bagagem está entre o zero e o duplo zero.
A
atuação do Ministério da Justiça na área da segurança pública é uma ficção. O
ministro, pouco depois de assumir seu cargo, fez uma visita a uma favela do Rio
de Janeiro que sabidamente é governada pelo crime. Está perpetuamente atrás dos
clubes de tiro ao alvo – que segundo ele são um fator essencial da
criminalidade no Brasil. Faz solenidades em série para anunciar planos e
campanhas. Fica contra a polícia nos estados em que a oposição governa. Propõe
“políticas de desencarceramento”. Não foi capaz de apresentar um único projeto
de lei para auxiliar o combate ao crime e aos criminosos. Por fim, vê
assessores do Ministério da Justiça enrolados com a “Dama do Tráfico – e a sua
única reação é denunciar “a direita”. É mais um passo na construção de um país
pró-crime.
Fonte: Gazeta
do Povo
(*)
José Roberto Guzzo, mais conhecido como J.R. Guzzo, é um jornalista brasileiro,
colunista dos jornais O Estado de São Paulo, Gazeta do Povo e da Revista Oeste,
publicação da qual integra também o conselho editorial.
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