Major trans da PM de SC tem promoção recusada sete vezes e pode ser demitida

 

A major da PM de Santa Catarina, Lumen Lohn Freitas (sentada), com a esposa Lisiane — Foto: Divulgação

Primeiro foi a depressão. Depois, a descoberta de si mesma e a transição. Mas em seguida, houve a estagnação na carreira. E agora, há o risco de demissão. Após se afastar do trabalho para tratar de problemas psicológicos e iniciar um processo de mudança de gênero, a major da Polícia Militar de Santa Catarina Lumen Lohn Freitas teve a promoção para tenente-coronel recusada sete vezes. As rejeições foram sucedidas por um processo de exoneração que tramita em sigilo desde que a major apresentou o pedido para mudança do nome social dentro da polícia.


Na PM desde 1998, Lumen passou 2019 e 2021 em tratamento de uma depressão. Em 2022, se descobriu uma pessoa transgênero e pediu à corporação a mudança do nome social — processo que diz ter transcorrido de forma rápida e respeitosa. Mas foi parar no Conselho de Justificação, onde se originam os procedimentos de desligamento da corporação.


O colegiado que analisa o tema foi instaurado em abril por determinação do governador do estado, Jorginho Mello (PL), para “avaliar a capacidade moral e profissional do referido oficial e a convivência de sua permanência nas fileiras da Polícia Militar”. Conservador convicto, Mello tem feito uma gestão que acumula decisões ideológicas. Recentemente, o governo catarinense determinou o recolhimento das escolas estaduais de livros clássicos, como “Laranja Mecânica”, de Anthony Burgess. Após os ataques antidemocráticos de 8 de janeiro, Mello enviou defensores públicos a Brasília para dar assistência aos catarinenses envolvidos nos ataques. Em outro ato, sancionou a lei que instituiu a escola sem partido, uma das bandeiras do bolsonarismo.


O caso contra a major foi instaurado, segundo a PM, “em virtude de fatos relatados e apurados a respeito da conduta profissional da policial militar e tramita em sigilo”. A corporação diz que não tem acesso nem poderia divulgar o conteúdo do procedimento, “por uma questão de preservação e respeito à privacidade da major”.


Chefes a favor de Lumen


Mas a corporação cita “relatos de condutas profissionais consideradas inadequadas, e que serão apuradas no decorrer do processo”, sem explicar que condutas teriam sido. Lumen também diz desconhecer.


Apesar de ser primeira colocada no sistema de pontuação para a promoção, ela tem tido a progressão recusada sem explicação.


— Todos os meus chefes diretos, e eu tive quatro nesse período, se manifestaram favoravelmente à minha promoção. Mas a comissão vem decidindo contrariamente a todos eles — diz.


O ranking leva em consideração critérios como tempo no posto, colocação em cursos e medalhas recebidas, além de conduta disciplinar. A pontuação de Lumen é justificada sobretudo pelo seu tempo de serviço, conforme os requisitos da legislação do estado.


Há quatro datas no ano, em janeiro, maio, agosto e novembro, em que um oficial pode concorrer à promoção. Nesta sexta-feira, dia 25, haverá a promoção dos últimos candidatos — e Lumen está pela sétima vez consecutiva fora da lista.


— Nunca vi alguém ser recusado tantas vezes. No máximo duas ou três, e quando a pessoa comete crimes, está sendo processada. Não é o meu caso — afirma.


Questionada sobre as razões que impedem a promoção da major e no que se baseia o processo de expulsão, a PM reforçou que não divulga assuntos da carreira militar de nenhum policial. “Por respeito ao processo e respeito à major citada, não podemos repassar essas informações”, informou, em nota.


Fonte: O Globo

 



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